Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
Frase do dia: Antes só que mal acompanhado.
Caros amigos,
Em 1929, o escritor norte-americano Ernest Hemingway publicou seu famoso romance “A Farewell to Arms” (“Adeus às Armas”); 23 anos depois viria a lume seu consagrado livro “O Velho e o Mar”, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura.
O “Adeus às Armas” serviu de inspiração para o título deste artigo “Adeus aos Computadores”, uma adaptação meio torta para o tema deste artigo.
O “Adeus aos Computadores” nos tira do amor de Hemingway por sua enfermeira inglesa, tema de “Adeus às Armas” e nos remete diretamente à Escandinávia.
Lá, a ministra da Educação da Suécia, Lotta Edholm, decidiu ruidosamente substituir as telas por livros, cadernos e canetas nas escolas, como era feito antigamente!
Vejam o que disse: “os livros têm vantagens que nenhum tablet pode substituir”; “as crianças não se beneficiam do ensino baseado em telas”; há o risco de criar uma “geração de analfabetos funcionais”.
De fato, muitos estudos mostram que, abolindo-se as formas tradicionais de ensino-aprendizagem, substituindo-as pelo uso exclusivo dos computadores, a habilidade de escrita à mão fica totalmente prejudicada, e as crianças, mergulhadas em bolhas nas telas, perdem a socialização.
Além de que, distraídas por assuntos paralelos, perdem a capacidade de concentração e desviam-se do conteúdo ensinado.
Afinal, pensando bem, o ensino antigo foi muito efetivo, pois todas as grandiosas obras do passado, sejam literárias ou musicais, foram escritas quando não havia nenhuma das tecnologias atuais.
Como é que Shakespeare escreveu “Hamlet”, “Romeu e Julieta” e tantas outras peças imortais? Com papel e caneta de molhar no tinteiro… E assim também Dante Alighieri, nosso Machado de Assis, Castro Alves, Rui Barbosa…
Então, seguindo a ideia, fiz uma experiência: resolvi abandonar o computador na criação de textos. Passei a escrever em cadernos e a consultar os livros em papel, não em PDF. Voltei a ir a bibliotecas, que delícia!
E que libertação! Antes, para escrever, eu precisava me deslocar até onde meu computador estava, em lugar seguro. Lia com a claridade da tela ofuscando meus olhos.
Agora… Que alívio! Vem a inspiração, saco o caderno da bolsa, apanho a caneta e escrevo onde quer que esteja: dentro do ônibus, sentado numa praça, aguardando o café na padaria – livre da máquina tirânica. Depois, ao chegar em casa, apenas digito no computador, o que é bem rápido.
Façam o leitor e a leitora a experiência e me contem. Não é só na Suécia que descobriram que computador, sem outros recursos, não é boa companhia…
E, sem querer radicalizar, antes só que mal acompanhado.
Até logo.
* Jornalista e escritor tatuiano
Perfeito, rapaziada cada dia mais analfabetos funcionais, quem dera adotassem essa medida por aqui.