Da reportagem
São sete da manhã de uma terça-feira. Na portaria da Associação Atlética XI de Agosto, ouvem-se nitidamente gritos de uma turma animada, vindos do ginásio a cerca de 50 metros de distância. Imagina-se que se trata de um grupo de adolescentes.
Engano: são os quase 80 homens e mulheres do vôlei adaptado de Tatuí, todos da terceira idade.
O esporte é uma modalidade adaptada direcionada principalmente aos idosos, que surgiu em 1998, nos então Jogos Regionais do Idoso de São Paulo (Jori), atualmente Jogos da Melhor Idade (Jomi).
Nele, as regras são muito parecidas às do vôlei tradicional, com adaptações para o público a que se destina.
Não se pode saltar, por exemplo – no máximo, ficar na ponta dos pés, com os braços levantados, quando se está defendendo; e o atleta saca com uma mão, empurrando, arremessando a bola abaixo da linha dos ombros.
Faz parte das regras adaptadas também a permissão de um leve “pipocar” da bola no momento da recepção, sem que fique caracterizado que o jogador tenha perdido o controle.
A bola poderá ser passada para a quadra adversária com toque, empurrada, arremessada, lançada ou outra forma qualquer, com as duas mãos ou somente com uma, desde que um dos pés esteja em contato com o solo. Toques e manchetes são permitidos, mas não obrigatórios.
A altura da rede é a mesma do vôlei tradicional: 2,24 metros para mulheres e 2,43 metros para homens. Os jogos são disputados em melhor de três sets de 15 pontos – se chegar ao empate em 14 pontos, termina no 16º. No set desempate, o jogo é encerrado aos 17 se o placar chegar empatado a 16. De resto, é tudo como no vôlei tradicional.
“O principal benefício do vôlei adaptado é que ele não traz impacto, devido ao fato de não haver saltos nem contato entre os jogadores”, diz Luís Lima, técnico da modalidade no masculino de Tatuí.
No entanto, as vantagens vão além. Isto é observado pela ex-técnica (ela deixou o cargo no final de janeiro) do feminino, Rosa Maria de Souza Santos, que trabalhou com o grupo tatuiano por mais de 20 anos.
O envelhecimento é um processo biológico complexo e variável, que determina diversas alterações orgânicas, podendo vir a causar limitações nas atividades de vida diária devido a uma perda funcional progressiva no organismo, aponta ela.
“Como a redução de equilíbrio, mobilidade, flexibilidade, agilidade, das capacidades fisiológicas e modificações psicológicas, comprometendo, assim, a qualidade de vida da pessoa”, detalha.
Segundo ela, “tal fenômeno tem se tornado um grande problema para a saúde pública, vindo a ser foco de atenção e preocupação devido a suas perdas significativas”.
“Seus aspectos apresentam variações individuais, que serão determinadas de acordo com o estilo de vida, tanto em âmbito alimentar como em sua rotina de atividades, convívio social, entre outros”, sustenta.
Para Rosa, o envolvimento dos idosos no vôlei adaptado traz benefícios à qualidade de vida social, nos aspectos físicos, na capacidade da coordenação motora, agilidade, flexibilidade, velocidade e colaboração para as atividades da vida diária, com melhorias consideráveis também na função cognitiva.
“A manutenção da capacidade funcional dos idosos é um dos fatores que contribuem para uma melhor qualidade de vida dessa população”, diz. De acordo com ela, essa manutenção é feita por meio das atividades físicas.
Família
As equipes de Tatuí existem há mais de 22 anos. Uma das veteranas é Ana Maria Soares Martins, que não revela a idade, mas joga na equipe dos maiores de 70.
“Eu já jogava no máster do Sesi, que acabou dando origem ao grupo daqui, mantido pela prefeitura. Essa interação social, as amizades e o bem-estar físico compensam demais. É uma alegria estar aqui”, garante ela.
Os grupos tatuianos são mantidos pela prefeitura, através do Departamento de Esporte, da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo e Lazer.
Os alunos não param em quadra. Movimentam-se primeiro em um aquecimento e treino tático, para depois embarcarem “com tudo” nos jogos.
Eles participam de diversos campeonatos. Os principais são o Jomi, a Copinha de São Pedro e o torneio da CBVA (Confederação Brasileira de Vôlei Adaptado). Colecionam medalhas e troféus.
Os treinos das mulheres acontecem todas as terças-feiras e quintas-feiras, das 7h às 9h, no ginásio do XI de Agosto, e todas as quartas-feiras, das 17h às 19h, no ginásio de esportes do Núcleo de Educação Básica Municipal “Ayrton Senna da Silva” (Nebam).
Já os treinos masculinos são realizados somente no ginásio do Nebam, todas as terças-feiras e quintas-feiras, das 7h às 9h, e todas as quartas-feiras, das 15h às 17h.
Para participar das aulas de vôlei, o interessado deve ter a partir de 50 anos (sem idade limite), ir até um dos treinos, que são abertos ao público, e realizar a inscrição. Para tanto, basta levar cópia do RG e de um comprovante de endereço.
Mais informações podem ser obtidas com o Departamento Municipal de Esportes pelo telefone (15) 3251-1114 ou pelo WhatsApp (15) 3251-4844.