PM otimiza efetivo e ‘flagra’ mais no centro com base em análise criminal





Cristiano Mota

Cartão entregue por vítima à PC havia sido trocado dentro de agência

 

A presença de viaturas e policiais militares a pé ou com motocicletas na área central tem resultado em maior número de flagrantes pela corporação. Só neste mês, 13 pessoas acabaram detidas por conta do patrulhamento ostensivo realizado com base em análise criminal.

O estudo promovido pelo comando visa otimizar o efetivo da corporação e, com isso, oferecer resposta “mais rápida à população”. É o que informou, nesta semana, o comandante da 2ª Companhia da PM, capitão Kleber Vieira Pinto.

De acordo com ele, a análise é feita em períodos e permite ao comando direcionar o policiamento. A PM utiliza dados de abordagens, vistorias, chamados, boletins de ocorrência e outros para dividir o efetivo. O resultado disso é a presença mais constante dos PMs na região central.

Por agregar o maior número de lojas e registrar grande circulação de pessoas – consumidores, em potencial, com dinheiro – e agências bancárias, o centro tem sido o “local que tem atraído mais os criminosos”.

No segundo semestre deste ano, houve registro de diversos assaltos. Entre eles, o que resultou em disparo de arma de fogo contra a funcionária de uma loja da rua Prudente de Moraes, uma caixa de 32 anos.

A vítima precisou ser internada na UTI (unidade de terapia intensiva) da Santa Casa, passando por cirurgia.

O crime ocorreu no período da tarde – perto das 17h20 – do dia 21 de agosto, mobilizou efetivos da Polícia Militar e Guarda Civil Municipal e provocou pânico entre os comerciantes. Alguns deles chegaram a ligar uns para os outros orientando que fechassem as portas mais cedo, temendo arrastão.

No dia 11 do mês passado, dois homens armados deram trabalho à PM. Eles assaltaram um microempresário no centro, acabaram sendo localizados e perseguidos.

Um deles recebeu voz de prisão por volta das 20h30. Na fuga, os criminosos se acidentaram e roubaram uma moto pertencente aos Correios.

“A nossa análise criminal, nesses últimos tempos, tem nos mostrado que as coisas estão acontecendo no centro. Em virtude disso, nós direcionamos o policiamento para onde as coisas estão acontecendo”, comentou o comandante.

Kleber explicou que a ação da PM também atende a reivindicação da ACE (Associação Comercial e Empresarial), de autoridades e da própria população.

“Essa presença mais intensa no centro vem para proporcionar sensação de segurança à comunidade, que é o que as pessoas mais pedem”, comentou.

A presença mais constante da PM na região central tem resultado em mais flagrantes. Somente do dia 1º ao dia 15 deste mês, 13 pessoas foram detidas – quatro delas, acusadas de praticar furto na região central.

Kleber disse, ainda, que os policiais militares não deixaram de deflagrar ações de prevenção e fiscalização nos demais bairros. “Isso não quer dizer que o centro expandido e a periferia não estão sendo patrulhados. Nós estamos concentrando esforços onde há necessidade sazonais”.

Afirmou, também, que a intensificação se estenderá até o prazo em que a PM detectar que o crime migrou. De acordo com ele, os criminosos mudam a forma de agir, além dos locais onde praticam os crimes, de acordo com a ação da polícia.

“Nós conseguimos detectar as características do crime e direcionar o policiamento no sentido de combatê-lo, de acordo com a análise criminal”.

Segundo o comandante, a PM tem registrado, também, aumento do número de prisões de criminosos que agem dentro de estabelecimentos bancários. Kleber informou que a corporação conseguiu deter vários golpistas que enganavam usuários de caixas eletrônicos.

“São várias as modalidades de crime que ocorrem, e nós estamos detendo pessoas em consequência do aumento do policiamento na área central. Mas, por conta disso, detectamos que era necessário otimizar o policiamento”, descreveu.

Para reduzir o número de ocorrências dentro das agências bancárias, o comandante acordou com os gerentes das instituições que elas passassem a ser patrulhadas. O serviço está a cargo de policiais que atuam na Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio a Motocicletas).

“Existe uma predeterminação. Eles (os policiais) deixam as motos nas regiões dos bancos e fazem o policiamento ostensivo a pé, dentro dos saguões”.

O objetivo é verificar se há a presença de pessoas suspeitas e reduzir o número de “crimes eletrônicos”. Eles, em geral, vitimam pessoas que utilizam terminais bancários e são praticados por pessoas que se aproveitam da falta de prática dos usuários.

“Em geral, são pessoas de idade, ou que não têm um esclarecimento suficiente para mexer nos equipamentos”, descreveu o comandante.

De acordo com ele, os criminosos costumam estudar as vítimas e se aproveitar da ingenuidade dos usuários, ou instalando equipamentos eletrônicos para clonagem de cartões. Em alguns casos, os criminosos aproveitam-se de momentos de distração por parte dos clientes.

As nove agências bancárias do município estão sendo monitoradas a partir de entendimento entre o comando e as gerências. Conforme o capitão, geralmente, os crimes são sem violência. Os casos de maior gravidade são cometidos em lojas ou contra pedestres, com uso de arma de fogo.

Entretanto, Kleber afirmou que a maioria dos crimes no centro é cometida sem uso de revólver. “Estamos detectando um número grande de casos em que os bandidos ameaçavam as vítimas com as mãos, dizendo que estavam armados”.

Pelo menos dois suspeitos (de nomes não divulgados) receberam voz de prisão por tentativa de roubo, no centro, na tarde de sexta-feira da semana passada, 11.

“Eles faziam menção, com as mãos por baixo da camisa, dizendo que era uma arma de fogo. As vítimas acharam que os bandidos estavam armados e entregaram seus bens. A PM agiu rapidamente e os prendeu”, disse o comandante.

Os dois suspeitos, mais outro homem detido no mesmo dia (sexta-feira, 11), também por tentativa de roubo, haviam sido beneficiados pela Justiça por indulto do Dia das Crianças. “Em três ocorrências distintas, os criminosos saíram temporariamente de penitenciárias para visitar os filhos”, contou.

Kleber disse que esta é uma “previsão legal”, constante na lei de execuções penais, mas que considera o benefício “um absurdo”.

“É a fragilidade da nossa legislação. Eles (os três presidiários beneficiados com indulto) saíram na sexta-feira e, no mesmo dia, praticaram roubos em Tatuí”, afirmou.

Por conta dos indultos, o comandante disse que há aumento da violência nos períodos dos benefícios (o próximo será o de Finados, dia 2 de novembro, e o seguinte, o de Natal).

Em Tatuí, além das três detenções computadas na sexta, o indulto do Dia das Crianças teria originado outras três ocorrências, entre o sábado, 12, e o domingo, 13.

“Tivemos casos a mais que o normal para um final de semana. Isso ocorre porque muitos desses sentenciados saem das penitenciárias e praticam delitos quando estão no período de saída temporária”, sustentou o comandante.

Kleber disse que a PM tem dificuldades em evitar essas ocorrências, uma vez que os detentos beneficiados não portam armas. Desta maneira, mesmo se abordados, os suspeitos não podem ser detidos, já que não apresentam “nada de irregular”.

“Após a abordagem, um suspeito desse vai embora como se nada tivesse devendo para a Justiça. Então, é muito difícil saber se ele vai andar e, um quarteirão depois, fazer menção de estar armado e roubar uma pessoa”, alegou.

Mesmo com as dificuldades, a PM continua mantendo o índice de produtividade em patamares “altos”. A corporação registrou, entre os meses de agosto, setembro e os 15 primeiros dias deste mês, 5.485 abordagens.

Nesse mesmo período, os militares vistoriaram 715 veículos e 1.075 motocicletas. Recapturaram seis procurados pela Justiça, elaboraram 460 boletins de ocorrência, apreenderam dois revólveres e seis “armas brancas” e detiveram 44 pessoas em flagrante, sendo 13 em agosto, 20 em setembro e 11 neste mês.

“A grande questão é que, muitas das vezes, os marginais não andam com armas e nem em veículos. Alguns não são procurados pela Justiça e não apresentam nada de ilegal durante as revistas”, comentou o capitão.

Kleber também disse que a corporação tem uma “demanda muito grande por escoltas de presos”. A companhia que atende ao município é responsável pela escolta de detentos que estão em unidades prisionais de Capela do Alto.

“Atualmente, estamos tirando leite de pedra com o efetivo que temos. Nós estamos com aproximadamente 2.000 detentos nas duas unidades da cidade vizinha”. Os presos estão divididos entre a penitenciária e o CDP (centro de detenção provisória) – que estão com superlotação.

O efetivo tatuiano realizou, nos período de dois meses e 15 dias, 221 escoltas, somando 531 detentos. Para isso, a PM utilizou viaturas em 277 vezes.

“Quem arca com a demanda somos nós e os policiais de Capela do Alto. Então, isso faz com que nós precisemos tirar policiamento da cidade. Mas, as coisas estão acontecendo aqui, com a otimização do policiamento”, disse o capitão.

A PM prevê que o número de ocorrências possa aumentar ainda mais até o final do ano. Em função disso, atualizará os dados da análise criminal para direcionar o policiamento de modo a tentar conter o avanço dos furtos e assaltos.

“Para isso, nós contamos com o mapeamento da cidade, serviço muito importante de repressão, da Polícia Civil. Ela tem nos ajudado muito. Temos batido muito nesta tecla e trocado informações. Então, se planejarmos, conseguiremos prevenir e impedir os crimes”, finalizou Kleber.