OMB condecora professores Coelho de Almeida e Henrique A. Dourado

Ex-diretores do CDMCC receberam Diploma de Honra ao Mérito Artístico

Professor Coelho recebe homenagem do maestro Roberto Farias, ao lado de Marcos de Abreu (foto: Carlos Serrão)
Da reportagem

Na quinta-feira passada, 29, a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) outorgou ao professor e maestro José Coelho de Almeida e ao professor, músico e escritor Henrique Autran Dourado o Diploma de Honra ao Mérito Artístico “Eleazar de Carvalho”.

Ambos os homenageados foram diretores executivos do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí. Autran Dourado é também colunista de O Progresso.

O responsável pelas condecorações foi o curador do prêmio e consultor da OMB, maestro Roberto Farias, que foi aluno e trabalhou com Eleazar de Carvalho, assim como Autran Dourado e Coelho, os quais têm atuações ao lado do maestro, um dos que mais levaram o nome do Brasil para o exterior e tiveram sólida carreira no país, especialmente no Festival de Inverno de Campos de Jordão.

A primeira homenagem do dia aconteceu na casa de Autran Dourado. “O diploma não pretende só incentivar, mas buscar incentivar quem incentiva. Tem sido muito gratificante, pois a homenagem está mexendo com o íntimo das pessoas”, resumiu o maestro Farias.

Entrega do diploma a Henrique Autran Dourado (foto: Carlos Serrão)

“Henrique Autran Dourado merece ser laureado pelo conjunto de sua obra. Não é só um músico: é um pensador, influenciador, provocador, faz com que a gente pense mais”, acrescentou. “Henrique faz parte das personalidades que mostram que a música no Brasil ainda vale a pena”, acrescentou.

“Sinto-me muito honrado por receber este diploma, ainda mais por levar o nome de Eleazar de Carvalho, alguém tão caro em minha carreira e na minha vida. E receber de uma entidade tão importante e das mãos de um amigo, meu contemporâneo, com quem já trabalhei, é melhor ainda”, afirmou Autran Dourado.

O contrabaixista de formação, escritor, professor, mestre e doutor pela USP deu aulas no Conservatório de Tatuí entre 1984 e 1987 e, em 2008, retornou para ser diretor da escola, posição que ocupou por dez anos.

Antes, estudou na New England, uma das três principais universidades americanas, e consolidou a carreira internacional, mas acabou por voltar ao Brasil, atraído por um “convite muito bom”.

Pouco tempo depois, Autran Dourado já estava na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), trabalhando justamente com o maestro Eleazar de Carvalho.

Em 1988, começou a lecionar na USP e, ao mesmo tempo, era diretor da Escola de Música do Teatro Municipal. “Estava difícil conciliar e fiquei só com uma perspectiva mais didática, na universidade”, lembra.

Professor Coelho

O outro homenageado pela OMB, em sessão solene na Câmara Municipal de Tatuí, foi o professor e maestro José Coelho de Almeida, outro nome que marcou história no Conservatório local.

O até então presidente da Casa de Leis, Antonio Marcos de Abreu (PSDB), que comandou a sessão, lembrou que o professor Coelho “estava de volta”, visto ter sido vereador por dois mandatos consecutivos, de 1956 a 1963. “É uma honra receber alguém tão importante para a história de Tatuí”, disse.

A biografia do professor Coelho é marcada pela dedicação à música. Por ocasião da exposição “Ilustres Tatuianos” dedicada a ele, em 2020, a assessoria de comunicação da prefeitura informou os principais fatos que marcaram a trajetória do maestro.

Ele nasceu em Tatuí, no dia 13 de janeiro de 1935. É pedagogo musical, administrador escolar, cultural, flautista, regente e 22º mestre de banda da história de Tatuí.

Em 1948, iniciou os estudos musicais na Escola Estadual “Barão do Suruí”, com o professor Nacif Farah, e, em janeiro de 1951, ganhou a primeira flauta, iniciando os estudos do instrumento com Eulico Mascarenhas de Queiroz e João Baptista Del Fiol.

Com a inauguração do Conservatório de Tatuí, em 1954, ingressou na instituição, formando-se em flauta, na classe do professor e maestro Spartaco Rossi, no ano de 1957.

A partir de 1955, foi flautista da Orquestra da Associação Cultural “Pró-Música”, de Tatuí, sob regência de Spartaco Rossi. Teve a oportunidade de reger a tradicional Banda Santa Cruz, considerada uma das mais antigas do país, de acordo com registros históricos.

No início da década de 1960, a pedido do vereador Lucas Pelagalli (chefe do setor de manutenção da Fábrica de Fiação e Tecelagem São Martinho), em nome de um de seus proprietários, João Chammas, organizou uma banda de música para os filhos dos operários.

Foi o pioneiro no Brasil no campo da formação de prática coletiva de sopros e percussão, organizando, em 1962, a Corporação Musical “São Jorge” de Tatuí (de 1962 a 1967).

Essa corporação realizou o primeiro concerto público no dia 20 de janeiro de 1963, no palco do Cine Teatro São Martinho, de Tatuí, para uma plateia lotada.

À frente da corporação, maestro Coelho realizou mais de 150 apresentações públicas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

Como mestre de banda da “São Jorge”, marcou época com a famosa “Velha Guarda Imortal”, composta pelo maestro Spartaco Rossi, a pedido da família Chammas, para o gênero seresta.

Mas o sucesso da corporação ocorreu quando, em um dos intervalos dos primeiros Festivais de Seresta de Tatuí, o maestro Coelho executou “São Paulo Antigo”, com músicas do cancioneiro popular.

Em maio de 1968, assumiu a direção do Conservatório de Tatuí, “dedicando seu empenho em fazer com que a instituição atingisse o lugar merecido no contexto artístico musical do estado de São Paulo, visto que a instituição quase fora fechada durante a administração do governador Abreu Sodré (1967/1971)”, conforme divulgado pela assessoria.

Em sua gestão, o maestro conseguiu convencer a classe política local a ceder ao Conservatório de Tatuí, em comodato para o estado de São Paulo, o prédio onde funcionava a Câmara e a Biblioteca Municipal, na rua São Bento, 415, centro, para que a escola tivesse melhores acomodações, fato consolidado no dia 24 de abril de 1969.

Com o novo prédio, a instituição mais que dobrou o número de alunos, passando de 250 para 600. Em 1970, é iniciada a construção do auditório da escola, atualmente Teatro “Procópio Ferreira”, com o apoio do secretário da Cultura, Esporte e Turismo, Orlando Gabriel Zancaner, e do então prefeito de Tatuí, engenheiro Orlando Lisboa de Almeida.

Em 1971, realizou a unificação do conteúdo programático das áreas de cordas e piano, “para que pudesse ser ampliado de forma mais objetiva e eficaz, replicando os moldes curriculares da Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil (piano) e do Conservatório Municipal de São Paulo (cordas)”.

Em 1976, instituiu o curso de artes cênicas no Conservatório de Tatuí, e, em 1977, realizou o “Festival Estudantil de Teatro Amador”, com o intuito de incentivar a atividade teatral entre os estudantes da cidade e atrair alunos para o curso, “tornando-se conhecido e reconhecido nacionalmente, firmando-se como um setor que oferece atividades cênicas em diferentes níveis”, acentua a assessoria.

Foi em sua gestão, no ano de 1976, que o Conservatório recebeu o título de “maior escola de música da América Latina”. Naquele mesmo ano, a instituição ganhou uma importante contribuição do empresário José Mindlin, que doou instrumentos para a escola.

Outra importante doação ocorreu em 1981, quando o empresário Wanderley Bocchi cedeu um terreno, onde atualmente está construído o alojamento da escola.

Coelho também idealizou, criou e dirigiu a Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí. Deixou o cargo em 1983, “com um importante legado para a história da música tatuiana e do Conservatório de Tatuí”, reforça assessoria.

De 1973 a 1978, foi assistente do maestro Eleazar de Carvalho, no Departamento de Prática de Orquestra do Centro de Cultura Musical. Foi professor de regência de banda nos Festivais de Inverno de Campos do Jordão, em 1979 e 1980, e coordenador pedagógico em 1981 e 1982, introduzindo a banda sinfônica no evento e possibilitando o atendimento de um maior número de bolsistas.

De 1983 a 1987, prestou serviços de assessoria técnico-administrativa aos departamentos de Artes e Ciências Humanas e Museus e Arquivos da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

De 1987 a 1991, trabalhou no Departamento de Música do Instituto de Artes da Unicamp, na organização e implantação de uma banda musical comunitária, a Unibanda. Na Unicamp, também ministrou aulas de flauta, música de câmara e instrumentação.

De 1988 a 1994, ministrou aulas de flauta e prática de conjunto na Escola Britânica de São Paulo. De 1991 a 1999, coordenou e implantou o plano de ação de atividades de lazer musical no Sesi-SP.

Em 1991, o professor Coelho voltou a Tatuí para introduzir a prática coletiva de instrumentos musicais de sopros e percussão na Corporação Musical Santa Cruz, cujo presidente era o tenente PM Arlindo Vieira Pinto.

Durante toda a vida profissional, teve a oportunidade de empreender projetos de ensino coletivos nos setores público, privado e autárquico, nos graus primário, médio e superior, trabalhando com crianças, jovens, adultos e idosos.

Projetos dele foram realizados no Conservatório de Tatuí, no curso de educação artística da Faculdade de Filosofia de Tatuí, no Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade de Campinas, na Escola Britânica de São Paulo, no Serviço Social da Indústria (Sesi) do estado de São Paulo, entre outros locais.

Desde então, tem recebido diversas homenagens pelos serviços prestados no campo de educação e das artes. Recebeu homenagem em 26 de fevereiro de 2018, no Teatro “Procópio Ferreira”, onde, após 34 anos, subiu ao palco.

Em 31 de agosto de 2019, também no “Procópio Ferreira”, foi homenageado em concerto da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí, em que conduziu parte da apresentação.

Homenagem

Na homenagem deste dia 29, professor Coelho relembrou parte de sua história e agradeceu a todos os que contribuíram com ele ao longo da carreira.

“Uma andorinha sozinha não faz verão. Cada pedacinho desse diploma representa uma pessoa que participou da minha trajetória. O sucesso de meus alunos é meu sucesso”, afirmou.

O maestro Roberto Farias disse ser uma honra discursar no “templo da música” e que “Tatuí, geograficamente, está no interior de São Paulo, mas, na prática, representa a supremacia musical de um professor Coelho”.

A OMB entregou 60 diplomas em 2022, e o último do ano foi para o maestro Coelho. O primeiro do foi para o maestro Julio Medaglia. O organismo é uma autarquia federal, entidade de classe surgida no ano de 1960, quando Juscelino Kubitschek regulamentou a profissão de músico no Brasil.

O diploma homenageia um dos “cabeças” do movimento de profissionalização dos músicos nacionais, o maestro Eleazar de Carvalho. Junto com o também regente José Siqueira, ele atuou pela instituição da OMB.