Da reportagem
O músico e escritor Henrique Autran Dourado, ex-diretor executivo do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” e colunista do jornal O Progresso de Tatuí, foi premiado com o Diploma de Mérito “Eleazar de Carvalho”, da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB).
Ele receberá a láurea nas próximas semanas em Tatuí, já que, por impedimentos pessoais, não pode se deslocar até Brasília (DF), sede do organismo.
A OMB é uma autarquia federal, entidade de classe surgida no ano de 1960, quando Juscelino Kubitschek regulamentou a profissão de músico no Brasil.
O diploma homenageia um dos responsáveis pelo movimento de profissionalização dos músicos nacionais, o maestro Eleazar de Carvalho. Junto com o também regente José Siqueira, ele atuou pela instituição da OMB.
Outro nome importante, só que do lado palaciano das negociações, foi o pai de Henrique, o escritor Autran Dourado, secretário de imprensa de Juscelino Kubitschek.
“Para mim, é uma honra tripla receber essa homenagem quando já estou aposentado. Estou muito satisfeito por receber este prêmio em Tatuí, por fazer parte de uma história que meu pai me contava e ser um diploma de Eleazar de Carvalho, com quem trabalhei e de quem fui amigo até os últimos dias da vida dele”, comentou o ex-diretor do CDMCC.
“Tenho uma estatueta de músico do ano da OMB, de 1986, um diploma da OMB dos anos 80. Ser premiado 36 anos depois é uma emoção. E esta é a maior láurea que recebo, para minha satisfação, para minha carreira, para meus filhos”, acentuou.
Neste ano, também receberam o Diploma “Eleazar de Carvalho” o maestro Roberto Tibiriçá, titular da Orquestra Sinfônica do Paraná, que Autran Dourado conheceu no começo da carreira e com quem tocou; Antonio Del Claro; Arrigo Barnabé, “que fez uma revolução com Clara Crocodilo e formou uma geração pop na Lira Paulistana”; e o professor, regente e diretor do Festival de Inverno de Campos de Jordão, Fabio Zanon.
“Fico muito orgulhoso. Ser lembrado assim, estando aposentado, apenas escrevendo. Alguém me falou que é pelo conjunto da obra. Pois que seja”, brinca Autran Dourado.
Carreira
Henrique Autran Dourado é contrabaixista de formação. Começou no Rio de Janeiro, na então FeFieRJ, atualmente UniRio.
“Mas, naquela altura, já estava nos EUA. Entrei na New England, considerada uma das três maiores universidades americanas. Ganhei uma bolsa. De lá, segui tocando, acabei casando lá e voltei porque tive um convite muito bom aqui”, conta.
Pouco tempo depois, Autran Dourado já estava na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), trabalhando justamente com o maestro Eleazar de Carvalho.
Em 1988, começou a lecionar na USP e, ao mesmo tempo, era diretor da Escola de Música do Teatro Municipal. “Estava difícil conciliar e fiquei só com uma perspectiva mais didática, na universidade”, lembra – foi na USP que ele completou o mestrado e o doutorado. Deu aulas no Conservatório de Tatuí entre 1984 e 1987 e, em 2008, retornou para ser diretor da escola.
Ele considera como suas principais marcas o trabalho para extinguir uma lei que, “erroneamente, acabou” com o Conservatório – ação efetivada junto com o deputado Samuel Moreira e o então prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo.
“A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou uma legislação que não distinguia as escolas, e na prática isto tornava o Conservatório de Tatuí uma instituição não oficial”, lembra Autran Dourado. “Mas, conseguimos corrigir o equívoco, que colocava em risco até os diplomas de formação dos alunos”, completa.
Também considera importante a organização “fundamental” na escola, a partir da experiência dele no Brasil e no exterior. “Moldar um conservatório nos moldes Europa e EUA”, acentua.
A unidade 2, no antigo prédio do fórum, também é lembrança positiva. “Nos deu mais 44 salas e foi instalada, depois de uma epopeia com o governo do estado, em 2012. Foi uma grande conquista. Havia sete imóveis alugados, que oneravam demais o orçamento. Indo para a unidade 2, foi outra grande satisfação. Ali se desenvolve uma série de grandes ações”, pontuou.
Autran Dourado diz que, “dentro do possível, entregou-se de corpo e alma, como tudo na vida, por dez anos ao Conservatório. Aí, me aposentei”. Quem lhe entregará o diploma em Tatuí será o maestro Roberto Farias.