Manifestações contra males verdadeiros

Todos os tatuianos, certamente, lembram-se do surto de dengue concomitante ao ápice da pandemia de Covid-19 em Tatuí, por volta de março e abril de 2021, quando chegaram a falecer mais de 30 pessoas por semana em razão do novo coronavírus e a cidade se tornou notícia nacional pelo tamanho do problema causado pelo Aedes aegypti.

Pouco mais de um ano depois, a situação é muito diferente, com a pandemia freada em “mortes” por conta da vacinação e a dengue causando incomparavelmente menos contaminações. Isto, contudo, não pode implicar no equívoco de que ambos os desafios estão plenamente superados.

Muito distante disso, por mais insistente seja o impressionante negacionismo – herança deletéria e insana da política extremista -, os números estão aí para escancarar o retorno maciço das confirmações de Covid-19.

“Graças à ciência”, entretanto, não acontece uma nova calamidade de mortes pela doença. Por outro lado, a tal economia – o aspecto apenas observado pelo negacionismo, que dela se valeu para atacar o distanciamento social – tem sido a maior vítima do momento.

Isto porque o infectado não vai mais em rebanho para o hospital, porém, tampouco ao trabalho, gerando prejuízos especialmente às pequenas e microempresas, as quais não possuem pessoal suficiente para ocupar as funções vagas.

Quanto à dengue – que assusta menos, mas nem por isto pode ser menosprezada -, Tatuí confirmou dois casos autóctones nesta semana, acendendo, corretamente, o fumacê de alerta junto às autoridades da área.

Neste sentido, é importante observar a situação epidemiológica da região, dado ter potencial de impactar diretamente o município em algum momento.

No início desta semana, o Grupo Sabin – um dos maiores do país na área de medicina diagnóstica – distribuiu à imprensa da região um comunicado de grande interesse sobre a dengue.

A divulgação informa que já passava de 20 mil o número de casos de dengue na região metropolitana de Campinas, de acordo com balanço da Secretaria Municipal de Saúde daquela cidade.

O levantamento aponta que, de janeiro a outubro deste ano, Campinas, com mais de 11 mil casos, Santa Bárbara do Oeste, com pouco mais de 5.000 e Americana, com mais de 4.000, lideravam o ranking das cidades com maior incidência da doença na região.

O balanço destaca, ainda, que a região noroeste de Campinas é onde havia a maior incidência de casos e que, até outubro, quatro pessoas morreram vítimas da dengue. Além disso, de janeiro até então, tinham sido registrados 19 casos de chikungunya.

O médico patologista clínico e gestor do Grupo Sabin Campinas, Alex Galoro, conforme o grupo, “analisa com preocupação” os números e alerta para os riscos de exposição aos vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, causadores da dengue, chikungunya e zika.

“Os arbovírus são verdadeiras ameaças à saúde pública e é preciso cuidado e atenção para evitar qualquer exposição a estas doenças”, acentua o especialista, na nota.

Ele lembra que o registro de casos dessas doenças aumenta consideravelmente no verão e alerta que pode haver crescimento nesta reta final de 2022, com a chegada de dias mais chuvosos.

“Combater o Aedes aegypti é a forma mais eficaz de prevenção e começa dentro de casa, com cuidados simples na rotina. Temos várias pesquisas de campo que mostram que 80% dos criadouros estão dentro das casas”, conta o médico.

“Portanto, uma rápida conferência se há água parada em pratinhos, nos vasos de plantas, ralos, telhados, calhas, garrafas, pneus, ou ambientes que possam servir de criadouros para o mosquito já é de grande valia”, segue ele.

“Cabe ainda salientar que, em caso de necessidade de armazenamento de líquidos, é preciso cuidado para não deixar os reservatórios destampados e evitar, assim, que o mosquito coloque ovos dentro desses recipientes”, acrescenta.

O especialista observa que localidades onde a perigosa combinação de altas temperaturas e grande incidência de chuvas podem contribuir para o aumento do número de criadouros.

“O mosquito se prolifera em espaços úmidos e quentes e as regiões com temperaturas mais elevadas são muito propícias para o Aedes. É preciso e é possível evitar ao máximo qualquer forma de exposição”, reforça o médico.
Ainda segundo o especialista, é fundamental que a preocupação em conter a proliferação do mosquito seja uma “causa recorrente nas campanhas de conscientização popular na região”.

“O aumento de casos nos faz redobrar a atenção e reforçar movimentos de orientação para conscientização individual e coletiva, a fim de evitar a proliferação do mosquito”, sustenta o médico.

Galoro também defende a importância do diagnóstico correto para o sucesso do tratamento. “Um laudo preciso fornece a segurança para a melhor jornada do paciente e contribui para que o médico conduza o tratamento de forma resolutiva, com assistência adequada e providências em tempo hábil, se houver indícios de complicações no quadro clínico”, conclui.

No Brasil, o número de casos de dengue chegou a 1,3 milhão entre janeiro e outubro deste ano, em aumento de 1.845% em comparação ao mesmo período do ano passado. O levantamento, do Ministério da Saúde, ainda aponta 909 óbitos confirmados pela doença.

Ainda de acordo com os indicadores da pasta, até agora, os casos de chikungunya cresceram 89,9%, em relação ao ano passado. A soma de pacientes já ultrapassa 168 mil. Já os casos de zika tiveram aumento de 92,6% em 2022, mas nenhum óbito foi registrado.

A alta incidência de casos motivou o Ministério da Saúde a instituir uma campanha com o intuito de esclarecer a população sobre transmissão, sintomas e tratamentos da doença. Com o tema “Todo dia é dia de combater o mosquito”, a iniciativa evidencia a prevenção como a melhor forma de combater a enfermidade.

Na cidade, em virtude dos dois casos confirmados, identificados em mulheres residentes nos bairros Residencial Santa Cruz e Jardim São Paulo, está acontecendo o controle de criadouro do mosquito Aedes Aegypti nos dois locais, além da presença de um carro de som, percorrendo as ruas, informando sobre a doença e as ações de nebulização.

Mais importante, finalmente, reitera as orientações básicas de prevenção. Pelo bem da saúde de todos, novamente, a consideração e respeito as informações corretas precisam ser levadas a sério pelo verdadeiro bem de todos. Estas, sim, seriam de fato manifestações positivas – no caso, em favor da saúde e da vida!