Na edição de projeto aborda usuários de drogas em Tatuí

Ação municipal entrega lanches, faz exames e tratamentos

Equipe do Creas aborda 20 pessoas em vulnerabilidade social em decorrência do uso de álcool e drogas (foto: AI Prefeitura)
Da reportagem

A prefeitura, por meio das secretarias municipais da Saúde e da Assistência e Desenvolvimento Social e de Direitos Humanos, Família e Cidadania, realizou, na sexta-feira da semana passada, 18, mais uma edição do projeto “Acolhida”, nas imediações do Mercado Municipal “Nilzo Vanni”.

Na ocasião, 20 pessoas em vulnerabilidade social, em decorrência do uso de álcool e drogas (17 do sexo masculino e três do feminino), foram abordadas para a realização de testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites e para a aplicação de anticoncepcional. Eles também receberam lanches.

Participaram da acolhida as equipes do Creas (Centro de Referência Especializada em Assistência Social), do Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas), da Vigilância Epidemiológica (VE), da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), todas formadas por assistentes sociais, orientador social, psicólogos e enfermeiras.

De acordo com o secretário Alessandro Bosso, além dos serviços ofertados aos abordados, eles também foram encaminhados aos serviços de saúde do município, como o Caps, visto que grande parte das pessoas que se encontram em situação de rua enfrenta o consumo abusivo de álcool e drogas.

Segundo ele, o processo de tratamento se inicia pela acolhida. Caso seja identificada a necessidade de internação, existem três formas de ela acontecer: voluntariamente, quando a pessoa aceita por livre e espontânea vontade; involuntária, com a solicitação dada pela família, quando a dependência está no grau mais avançado e a pessoa não tem condições de aceitar ou não; e compulsória, quando a família solicita ao Poder Judiciário a internação.

“Lembrando que todas elas são devidamente avaliadas por médicos psiquiatras do Caps”, ressaltou Bosso. Sobre o comportamento de grande parte das pessoas, ele afirmou haver resistência.

“A cada dia que passa, eles estão ficando mais violentos, pois, além do projeto Acolhida, realizamos a abordagem social diariamente, pois se trata de um serviço de caráter continuado, e isso leva a tirar o falso sossego deles. Creio que este seja o maior motivo de muitos não quererem participar. Quando a equipe não consegue convencer essas pessoas a aceitarem a ajuda oferecida, ela retorna nas noites seguintes.”, salientou.

O secretário informou ter feito, por meio da pasta, um mapeamento das áreas com maior concentração dessas pessoas, para identificar quem são e onde elas costumam ficar, como se relacionam com a comunidade, com os serviços públicos e estabelecimentos privados.

“Inicialmente, foi preciso reconhecer quem é essa população em situação de rua. Então, também levantamos como acessam os programas assistenciais e de saúde, quais são as dificuldades que apresentam, quais os recursos comunitários disponíveis e que parcerias intersetoriais e interinstitucionais podem ainda ser firmadas para ajudar”, informou.

Bosso ainda frisou que a população em situação de rua é confundida com usuários de álcool, com quem formam laços de amizade, gerando confusão quanto a quem, de fato, está sem moradia.

“Algumas das pessoas que vemos pedindo esmolas, na verdade, não são moradores de rua. Eles têm casa e, após passarem o dia perambulando, acabam voltando para a moradia deles no período da noite”, contou Bosso.

Ele lembrou que, devido ao fato de Tatuí estar próxima a grandes centros urbanos, como Sorocaba, Campinas e São Paulo, e por ser margeada por duas importantes rodovias paulistas, a Castello Branco e a Raposo Tavares, o fluxo migratório de pessoas em situação de rua é alto, além de ter se intensificado por conta da pandemia.

“Neste período, tivemos um agravamento geral na questão psíquica dos cidadãos, e isso não foi diferente quanto às pessoas em situação de rua, que foram incluídas no Cadastro Único do Governo Federal e recebem o Auxílio Brasil, uma garantia de renda para sobrevivência deles”, frisou Bosso.

Entre quem está nessa condição e migrando para outras cidades, há registros de que o Serviço da Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José atenda, em média, de sete a dez pessoas por dia, totalizando entre 210 e 300 ao mês.

Essas pessoas são tidas como “transitórias”.

Conforme o secretário, a prefeitura tem promovido diversas ações com o intuito de oferecer ajuda. Uma delas é a abordagem social, em que a equipe busca promover a acolhida através do diálogo.

Também é feito o apoio socioassistencial com psicólogos e assistentes sociais, que analisam as demandas dos usuários e promovem orientação individual e grupal, “visando oportunizar a construção de novos projetos de vida”, além de encaminhamentos a outras políticas públicas, como atendimento de saúde e provisão de documentação civil.

O secretário contou que, de acordo com dados da Casa de Apoio Irmão de Rua, em Tatuí, há uma média de 120 pessoas vivendo nas situações abordadas pelo projeto.

“O Acolhida existe desde maio de 2021. Sua primeira edição foi realizada às margens da linha do trem do Jardim Rosa Garcia II, por conta de denúncias de que vários dependentes químicos consumiam drogas naquele local”, lembrou.

“Na época, 45 pessoas foram abordadas, sendo que quatro dependentes químicos aceitaram iniciar os tratamentos oferecidos pelo Caps AD”, acrescentou Bosso.

“Este é um trabalho importante, e vamos continuar em outros pontos identificados pela equipe, com o intuito de identificar e oferecer tratamento aos que aceitaram, e também os serviços de saúde e assistência social”, concluiu o secretário.

Outro serviço oferecido é a possibilidade de pernoitar na Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José, organização da sociedade civil conveniada com o município. O secretário salienta que, no local, também é disponibilizado atendimento assistencial.

Dos 50 leitos de acolhimento disponíveis na “Casa”, 20 são destinados ao alojamento provisório, no qual os novos abrigados permanecem isolados por 15 dias, sem qualquer contato com os demais acolhidos, para evitar a disseminação do novo coronavírus.

Outra medida existente é a alimentação do Sistema de Registro dos Dados de Pessoas em Situação de Rua, bem como o encaminhamento à cidade de origem, quando há interesse por parte do usuário.

Bosso lembrou que a população também pode contribuir com o projeto, praticando “ações simples”. Ele afirma que a mais importante é não dar esmolas, devido ao fato de que, muitas vezes, o dinheiro doado pelos munícipes é utilizado na compra de bebidas alcoólicas e drogas.

O secretário explicou que a maioria das pessoas que está em situação de rua enfrenta problemas com drogas e álcool e que, quando recebe esmolas, isso acaba estimulando o vício e acarretando a permanência nas ruas, colocando em risco a saúde delas e dificultando o trabalho da equipe da assistência social.

A diretora da Raps e assistente social Cíntia Scaglioni observou que o trabalho realizado tem mostrado aos profissionais do setor social que as iniciativas precisam focar, principalmente, em como os acolhidos poderiam conseguir largar os vícios.

“O que mais escuto dessas pessoas é que elas não têm forças para colocar um ponto final na dependência. Muitas também não sabem onde buscar apoio. Já os que têm conhecimento não têm força em dar o primeiro passo. Por isso, o projeto é fundamental”, disse.

“É importante reconhecer as singularidades de cada pessoa para a construção da estratégia, não objetivando apenas alcançar a abstinência, mas a defesa de sua vida”, sugeriu.

De acordo com ela, para que o acolhimento aconteça de maneira efetiva, “é fundamental que o usuário de álcool e outras drogas se sinta bem acolhido pela equipe, pois o primeiro contato com a pessoa é de extrema importância, já que repercutirá no vínculo e na adesão ao processo de tratamento desses usuários”.

Esse acolhimento precisa envolver alguns aspectos fundamentais, como “tratar os usuários e familiares com respeito” e promover uma relação de proximidade entre equipe e a pessoa assistida, sustenta ela.

Cintia salientou ser necessário promover um “clima acolhedor”, procurando ouvir o que a pessoa está vivenciando e convidando-a a falar.

“A conversa é muito importante no processo de elaboração e integração das experiências traumáticas. Não esqueça que esse bate-papo pode ser o primeiro em que o dependente está disposto a compartilhar o assunto. Mas, não demonstre ansiedade em saber sobre o ocorrido. Cada um tem seu tempo, e o respeito aos limites do outro é regra fundamental”, orienta.

Segundo a diretora, o ouvinte precisa fazer o esforço máximo para que o acolhido sinta que o profissional o está entendendo. “O acolhido deve perceber que você está interessado em ouvi-lo, criando uma atmosfera tolerante, evitando julgamentos. O objetivo não é definir quem está certo ou errado, e, sim, auxiliar o sujeito neste momento de grande sofrimento”, recomenda.

A assistente social frisou que, para a abordagem e suas consequências serem positivas, é recomendável que a equipe busque entender as necessidades e a situação da pessoa assistida, “colocando-se no lugar dela”.

“Não exija decisões rápidas. Tenha paciência com a caminhada da pessoa e respeite o que é saúde para ela, reconheça seus esforços de enfrentamento e superação, mesmo quando tudo o que se pretendia não foi alcançado”, argumenta.

A diretora lamenta que o número de cidadãos que aderem aos tratamentos oferecidos pelo Caps ainda seja pequeno. “Muitos chegam a um ponto no qual acreditam que não vale mais a pena viver. Perdem a autoestima. É uma luta diária. Convencê-los de que há solução é uma tarefa que exige parcimônia”, expõe Cintia.

Ao mesmo tempo em que há dificuldades, a assistente social conta que o Caps, diariamente, atende cerca de 20 a 25 dependentes, que vão lá para tomar café da manhã, almoçar e, ao final da tarde, comer um lanche.

Ela reforça que, ao ver uma pessoa em situação de rua, é necessário encaminhá-la ao serviço social e explica que, durante o dia, é disponibilizado o atendimento pela equipe do Creas, na rua 13 de Fevereiro, 396, centro. O atendimento, presencial ou pelo telefone 3259-0704, é feito de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h.

Já no período da noite, a Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José fica à disposição dos munícipes que queiram relatar casos de pessoas pedindo esmolas. A Casa fica na rua São José, 46, no Jardim Wanderley.

Quem preferir também pode entrar em contato com o serviço de busca ativa da entidade, ligando para o telefone 3305-3895, à disposição até às 23h.

Além disso, durante a noite, quem encontrar pessoas em situação de rua buscando abrigo deve entrar em contato com a Guarda Civil Municipal (GCM), ligando para o 199, que funciona 24 horas.