Da Redação
Fabrício Manis, de Tatuí, idealizador do projeto Rëserva Tatuí, criado em 2012, participou novamente da Feira Natureba, única no mundo especializada em vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos, que em sua décima edição aconteceu de forma inédita no exterior, no Uruguai.
Os vinhos biodinâmicos são aqueles que se utilizam do “conhecimento do ser humano”, ou técnicas ancestrais aplicadas, tanto no cultivo das uvas quanto no funcionamento da própria vinícola.
O evento aconteceu no dia 12 e reuniu, além de Brasil e Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Itália, Eslovênia, Portugal, Espanha e França, entre outros países.
A feira nasceu em 2013, com o objetivo de aproximar o consumidor final do produtor, sem intermediários, dentro da Enoteca Saint VinSaint, uma das pioneiras no ramo de vinhos naturais no país, desde 2008.
Desde a primeira edição, o evento cresceu: de 20 expositores e cem participantes, chegou em 2022 a mais de 120 expositores e cerca de 2.000 participantes.
Manis levou ao Uruguai cachaça e as infusões de frutas nativas do sítio Rëserva. “Foi uma honra e um grande orgulho. Tatuí se destacando novamente no cenário internacional e apresentando aquilo que temos de mais rico: cultura, abundância e biodiversidade”, orgulha-se ele.
O projeto Resërva Tatuí corresponde a uma área de 95 mil m² com bosques nativos preservados e uma extensa coleção botânica.
“Atualmente, desenvolvo projetos de paisagismo regenerativo e produtivo e as infusões de cachaça são parte desse processo. A ideia é aproveitar integralmente o que nossos jardins produzem, melhorando a qualidade de vida e preservando a natureza”, descreve.
As cachaças são produzidas por um parceiro dele com sede em Cerquilho, “que atua há muitos anos no mercado e tem um produto de excelente qualidade. Faço infusões e licores com as cachaças com dois métodos”, explica.
Segundo ele, as infusões são quando se adiciona algo na cachaça e deixa-se descansar para passar o sabor e as propriedades medicinais. “Aqui no sítio, utilizo frutas nativas pouco conhecidas misturadas com madeiras, ervas e flores”.
Já as infusões ficam enterradas por 90 dias e depois são engarrafadas. “Tem infusão de butiá, abacaxi vermelho, anona de paca e até de baunilha produzida no próprio sítio – sim, tem baunilha de Tatuí na cachaça!”, acentua. Já os licores são feitos em método português de saborização e descansam por menos tempo.
“Os produtos que tiveram mais saída foram a infusão de café, uma mistura superbrasileira e, acima de tudo, paulista, pela junção da cana e do café”, conta.
“Outra que eles amaram foi a de butiá com lasca de cumaru, pois tem muita palmeira butiá na região. A de abacaxi vermelho faz sucesso também, pois é o abacaxi que deu origem a todos os outros que consumimos”.
“Claro que contei que Tatuí se destaca pela vocação natural dos abacaxis na região, pois é fruto nativo daqui”, acrescenta. “Já os licores, destaque grande para o de açaí e de anona, fruta exclusiva da Resërva”, ressalta.
A cachaça no exterior é algo que faz muito sucesso, segundo Manis. “Os olhos dos consumidores brilhavam quando a viam. Não é à toa que a caipirinha é uma bebida de alcance mundial e, na verdade, os caipiras somos nós, ou seja, já se mistura cachaça, açúcar e fruta por aqui há muito tempo”.
“Por ser um evento de clientes conscientes e exigentes, foi fácil apresentar os produtos, pois já havia interesse em utilizar os aromas em coquetéis e também em alta gastronomia”, afirma Manis.
“Vale lembrar que estamos tratando de frutas e sabores exclusivos, produção com critério minucioso e volume reduzido. Para se ter uma ideia, a anona utilizada produz um fruto por dia por dois meses e a fruta deve ser colhida imediatamente. A árvore solta a fruta entre 17h e 18h, horário que as pacas saem para comer. Já a baunilha, por sua vez, leva 18 meses entre a florada e a secagem completa”, explica.
Na Natureba, os produtores não pagam pela participação e a feira não fica com porcentagem das vendas, revertendo todo o lucro dos ingressos para bancar a própria estrutura. A feira não tem fins lucrativos. “A ideia é permanecer independente e não depender de investimentos externos”, segundo os organizadores.
O espaço é livre para que os produtores vendam, exponham, conheçam os consumidores e novos importadores. Na última edição, de acordo com o site do evento, mais de 30% dos expositores que não tinham importadores no Brasil conseguiram parceiros comerciais e agora podem exportar os vinhos para o mercado brasileiro.