Programa Nacional de Combate ao Tabagismo recupera 80% em Tatuí

Pacientes são acompanhados pela médica Raíssa Motta Russo (foto: AI Prefeitura)
Da reportagem

A primeira turma pós-pandemia do Programa Nacional de Combate ao Tabagismo em Tatuí, da Estratégia Saúde da Família (ESF) “Othoniel Cerqueira Luz”, do conjunto residencial “Orlando Lisboa de Almeida” (CDHU), terminou o tratamento com 80% dos pacientes conseguindo parar de fumar.

Durante dois meses, oito dependentes de cigarro foram coordenados pela médica da família Raíssa Motta Russo, com apoio da enfermeira Dalva Balula e do farmacêutico Anderson Hajje. Eles foram submetidos a tratamento médico e terapia farmacológica para reduzirem a dependência ao tabaco.

“Para mim, como médica, é muito gratificante ver o sucesso que o grupo obteve, a gratidão deles com o programa e com eles mesmos, por terem superado esse desafio. Isso nos motiva a continuar e nos mostra que todo esforço vale a pena”, comentou Raíssa.

Segundo ela, as reuniões com os pacientes, feitas quinzenalmente, fizeram com que compartilhassem as dificuldades e os problemas do dia a dia, entre outros assuntos. “Com a nossa equipe multidisciplinar, os pacientes se sentiram mais seguros em conversar, e isso fez a diferença no programa”, explicou.

Segundo Raíssa, após as reuniões com bate-papo, foi iniciado o tratamento farmacológico, composto por medicação oral, na base de antidepressivo. “Ele melhora a compulsão e a irritabilidade. Para um fumante, a falta do tabaco gera mudanças bruscas de humor”, pontuou.

O adesivo de nicotina também faz parte da medicação. “Trata-se de uma nicotina limpa. O adesivo é um dos recursos utilizados na terapia de reposição de nicotina (TRN), que fornece aos pacientes dose de uma das substâncias mais viciantes do cigarro sem o risco das outras substâncias presentes nele que são mais nocivas, como o alcatrão e o monóxido de carbono. Isso ajuda a reduzir as crises de abstinência, retirando a nicotina aos poucos e ajudando no processo para parar de fumar”, relatou a médica.

Para Raíssa, as dificuldades das pessoas se desfazerem do vício se concentram na etapa inicial. “Cada um tem uma forma de largá-lo. Uns começam gradativamente a reduzir o consumo do cigarro, enquanto outros conseguem parar de imediato”, informou.

A médica destacou que problemas pessoais, familiares, no trabalho são agentes complicadores e que podem fazer com que quem conseguiu parar acabe voltando a fumar.

“Muitos cidadãos acham que se fumar um só exemplar o vício não voltará. O perigo está neste deslize. Quando ele percebe, já voltou ao que fazia antes”, mencionou.

“Por conta disso, as reuniões são fundamentais. Um ajuda o outro, e isso faz a diferença quando se tem um objetivo mútuo. Se um paciente tem sucesso, isso serve de incentivo para os demais. Se torna um exemplo”, complementou Raíssa.

A médica reforçou que a vontade de largar o cigarro tem que vir do próprio fumante. “Metade do esforço precisa vir da pessoa. Não adianta começar sem seriedade. Não é fácil, mas é totalmente possível e comprovado pelos resultados que obtivemos neste programa. O tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo. Com força e fé, quem quiser, consegue largar’, completou a médica.

“Estamos orgulhosos e felizes pelos pacientes atendidos, principalmente pelos quais finalmente se livraram desse vício, que há tanto buscavam sem sucesso”, congratulou Hajje, que, como parte da equipe, auxiliou nas orientações e no tratamento ideal para cada caso.

Alguns dos pacientes que conseguiram superar o vício deixaram depoimentos. As iniciais usadas para citá-los do tratamento nesta reportagem são ilustrativas, como forma de não os expor.

“Temos que aproveitar essa oportunidade única e maravilhosa, porque realmente funciona. Vocês não têm noção da maravilha que é parar de fumar, vale a pena, pode acreditar”, comentou J.

Já para M., a experiência no programa foi excelente e essencial, ainda mais sendo realizado em grupo, o que favoreceu a troca de experiências. “Eu gostava de fumar, fazia isso por prazer; então, chegou uma hora que eu percebi que precisava parar. Com essa convivência e com os medicamentos, hoje, graças a Deus, estou há dois meses sem fumar”, afirmou.

“Uma das coisas mais importantes do tratamento, além dos remédios, é a reunião. Quando a primeira pessoa do grupo parou de fumar, isso nos incentivou a também lutar contra o vício. Antes, a gente já tomava os remédios, mas faltava um incentivo para pararmos de fumar, e isso ajudou demais”, contou L, que realizou o tratamento junto com o pai.

Para a OMS, devido a ser o tabaco uma droga legalizada, de fácil acesso e preço acessível, “a doença se tornou um grande problema de saúde pública, principalmente no momento da pandemia, no qual observa-se como um fator importante de risco para o agravamento da Covid-19”.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), existem mais de cem razões para as pessoas pararem de fumar, entre elas: todos os anos, 8 milhões de pessoas no mundo morrem e, no Brasil, 443 a cada dia por causa direta do tabagismo; fumantes têm maior risco de desenvolverem quadro grave de Covid-19; e aumenta-se potencialmente o risco de diversos tipos de cânceres e doenças cardiovasculares, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), doenças do pulmão e autoimunes.

O estudo complementa que mais de um milhão de pessoas morrem todos os anos devido à exposição ao fumo passivo, além do aumento do risco de desenvolverem câncer de pulmão e outras doenças.