A pandemia pelos números em Tatuí

Não importa quem ganhe ou perca em votos quando se leva em conta a tragédia mundial causada pela pandemia de Covid-19. Uma aberração, entretanto, não pode ocorrer: o esquecimento quanto às vidas perdidas, chegando a perto de 690 mil no Brasil e exatamente 517 em Tatuí.

É impossível identificar com mínima capacidade com quanta injustiça e desinformação já se embalou e encobriu a tragédia humanitária imposta pela doença, mas isto não implica em ignorá-las – reiterando.

Conscientemente ou não, muitos instigaram ou se deixaram levar pelo que se popularizou chamar de negacionismo – algo como, basicamente, negar a realidade e, por consequência, tudo a ver com o conhecimento adquirido pela humanidade desde os seus primórdios (a tal “ciência”).

Até então, ainda era delicado contestar pelo menos as “ciências exatas”, estando as “humanas” já explicitamente vilipendiadas, quando não “excomungadas”, também obviamente sem qualquer razão lógica.

Passou a ser indisfarçável, com a abertura dessa porteira, certo culto à desinformação, levando alguns, inclusive, a ganharem orgulho não pelo que estudaram e conquistaram em conhecimento, mas exatamente pelo inverso: vaidade pela ignorância, antes motivo de constrangimento.

Se a tal “imunização de rebanho” não serviu para derrotar a Covid-19, certamente no caminho negacionista, a aridez de informação arregimentou exércitos a compartilhar notícias falsas e falsidades, como, entre muitas, as perigosas receitas de tratamento precoce.

O deserto de empatia veio a seguir, pavimentado pela banalização das milhares de mortes diárias, cuja uma parte significativa poderia ter sido evitada com medidas básicas de prevenção ao contágio e, claro, bons exemplos.

Mas, não. O desapreço – quando não o deboche – à ciência e à própria imprensa “tradicional – que cuida de levar os reais fatos a público – serviu como cabresto ideológico – senão de mera fúria contra o “outro lado” – para se sustentar uma inédita fissura nacional, uma espécie de doença, ainda agora, parecendo ser mais resistente que o já não tão novo coronavírus.

Para manter a obscuridade necessária à política de manipulação, consolidou-se a prática de busca não mais pelo conhecimento empírico, pelos fatos, pelas notícias reais, mas, sim, pelo chamado “viés de confirmação”.

Na prática, tudo aquilo que – invariavelmente pela internet – corresponde à “busca” do indivíduo, ao que ele “deseja” ser verdade, sem mais compromisso com a realidade.

Chegou-se ao ponto, por derradeiro dramático, de se ignorar qualquer coisa, por mais indubitável seja. Basta olhar para a profundidade do “não saber” e dizer, tranquilamente: “não acredito”.

Pois foi com essa abstração da “verdade”, somada a impressionante dose de insensibilidade, que se chegou a dizer – e a acreditar! – que caixões estavam sendo enterrados com pedras dentro.

E para quê? Hipoteticamente, para garantir mais dinheiro a prefeituras país afora, mesmo se sabendo que toda certidão de óbito é assinada por um profissional médico, que jamais mancharia sua carreira, tampouco arriscaria perder o diploma, para ajudar políticos – por essa visão – não apenas corruptos, mas francamente macabros.

E, claro, toda essa encenação inspirada em filmes B de terror (tipo os de Béla Lugosi) com a conivência de enfermeiros, direção de hospitais, funerárias, cartórios civis e até dos coveiros dos cemitérios… É muita ficção, só não mais tosca que cruel.

Por outro lado, acreditando nem tudo estar perdido, vale ainda apelar aos fatos, à ciência exata dos números, para, mais uma vez, reforçar o que é e o que foi o drama da pandemia de Covid-19.

Assim, O Progresso de Tatuí tem registrado, mensalmente, o total de falecimentos na cidade desde o surgimento da doença. Na edição desta quarta-feira, um novo balanço teve divulgação, evidenciando que, finalmente e aos olhos efetivamente abertos, a vida parece estar voltando ao “normal”.

Conforme os números, em setembro, os falecimentos por causas naturais tiveram aumento de 6% em comparação ao mesmo mês do ano passado, quando a pandemia de Covid-19 ainda se encontrava com índices mais altos de contaminação.

Obviamente, o aumento é de se lamentar, porém, em meio a ele, sobressai-se o fato de que o número atual é 20% menor que o de setembro de 2020, antes do início da campanha de imunização, portanto e assim, mais uma vez, confirmando a eficácia das vacinas.

Mais significativo nem é isso, entretanto: é o volume de vítimas da Covid-19, que diminuiu de seis, em setembro de 2021, para uma neste mês passado, permitindo a conclusão de que a epidemia está sendo vencida.

Lamentavelmente, além da perda de entes queridos, outras sequelas ainda seguem causando dor, como o aumento notável de óbitos por questões cardíacas – evidência da importância de prevenção ao próprio negacionismo, que ainda pode matar mais no futuro.

No momento, os indicativos mostram que, se comparadas a agosto, quando o município registrou 83 óbitos, as mortes no nono mês do ano tiveram queda de 13,25%.

Os dados são apontados por levantamento divulgado no Portal da Transparência do Registro Civil, órgão administrado pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).

Estatísticas do portal indicam 72 óbitos por causas naturais em setembro deste ano. No nono mês de 2021, foram 68 e, em setembro de 2020, 90.

Sobre o impacto da Covid-19 no total de registros, os dados apontam que, entre suspeitas e confirmações, houve uma certidão de óbito em setembro deste ano, de uma mulher, indicando queda de 83,33% em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram seis mortes.

Além do óbito por suspeita ou confirmação de Covid-19, 12 faleceram por pneumonia, em aumento de 71,42% em relação ao mesmo período do ano passado, quando houve sete declarações. Se comparada a setembro de 2020, a queda é de 93,73%.

Mortes por septicemia apareceram em dez certidões de óbito, quatro a mais que em 2021, quando seis casos foram registrados – em aumento de 66,66%. Já a insuficiência respiratória levou sete pessoas à morte, quatro a mais que em setembro do ano passado, quando somou três.

Óbitos relacionados às causas respiratórias representam 31 registros no nono mês deste ano, em aumento de 40,90% em relação ao mesmo período do ano passado, quando somaram 22. Entre as causas cardiovasculares, houve sete mortes por AVC em setembro deste ano, duas a mais que no mesmo período de 2021.

Ainda, aconteceu o grande aumento, de 500%, nos casos de mortes por infarto, passando de uma para seis. Os óbitos por causas vasculares inespecíficas tiveram redução de 77,77% (nove para duas).

Já os falecimentos relacionados a outros tipos de doenças diminuíram de 31, em setembro de 2021, para 26, em decréscimo de 16,12%.

Finalmente, um efetivo tratamento precoce para novas tragédias seria o reconhecimento de que a mentira leva à morte, enquanto a verdade – de fato, não a de discursos políticos – leva, senão à vida, pelo menos à sobrevivência!