José Renato Nalini *
As profecias catastróficas em relação ao ambiente da Terra foram se mostrando reais e não fruto de elucubrações ficcionais. Este ano emblemático mostrou incêndios em várias partes do mundo, inundações em outras, derretimento acelerado das calotas polares e das neves que pareciam eternas em cordilheiras europeias.
Furacões, ciclones, grandes precipitações, um clima imprevisível e caótico. Tudo consequência da criminosa ação humana, estimulada por governos irresponsáveis e insensíveis.
O Brasil já foi considerado promissora potência verde. Teve ambientalistas como Paulo Nogueira Neto, que participou da elaboração do conceito de sustentabilidade; Chico Mendes, defensor da floresta; Marina Silva, uma grife verde no Ministério. Sediou a Eco-92, quatro anos depois de produzir a mais bela norma fundante produzida no século 20: o artigo 225 da Constituição Cidadã.
De repente, não mais que de repente, viramos “Pária Ambiental”. Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, junto com outros integrantes da iniciativa “Uma Concertação pela Amazônia”, lamenta esse retrocesso. Propõe a criação de uma Secretaria de Estado de Emergência Climática, diretamente vinculada à Presidência da República.
Ideia que poderia ser acatada, caso prevalecesse o bom senso, o que não é algo automático na História do Brasil. É mais do que urgente a adoção de uma economia de baixo carbono, a ser obtida mediante transição energética, desenvolvimento regional, adaptação e relações internacionais.
A solução – ou pelo menos a mitigação – da crise climática precisa de mudança drástica na economia global, no estilo de vida, nos meios de produção e consumo, na redução da desigualdade social, na adoção de uma educação de qualidade – sobretudo ambiental – e no aceso ao mundo digital disponível em todo o planeta.
Que falta faz uma cidadania esclarecida, crítica e participativa, para exigir do governo, que é servo do povo e não seu dono, comportamento compatível com a gravidade e a urgência da situação de um planeta em transe, com emergência climática que continuará a subtrair vidas e perspectivas de que elas continuem a existir, se não houver um “basta” imediato. Alguém acredita que isso seja possível?
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.