A Safernet é a primeira ONG do Brasil a estabelecer uma abordagem multissetorial para proteger os direitos humanos no ambiente digital. Fundada em 2005, criou e mantém a Central Nacional de Denúncias de Violações contra Direitos Humanos (https://new.safernet.org.br/denuncie), o Canal Nacional de Apoio e Orientação sobre Segurança na Internet (https://new.safernet.org.br/helpline), e ações de conscientização sobre uso “cidadão” da Internet.
Entre suas ações, encontram-se programas de capacitação para educadores, adolescentes, jovens e formuladores de políticas públicas no país. Desde 2009, a Safernet coordena o Dia Mundial da Internet Segura no Brasil.
Pois bem, a ONG, que recebe denúncias de dez crimes contra os direitos humanos praticados com o uso da internet, divulgou nesta semana terem ocorrido mais denúncias de racismo, lgbtfobia, xenofobia, neonazismo, misoginia, apologia a crimes contra a vida e intolerância religiosa no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado.
Conforme a entidade, caminha-se para o terceiro ano eleitoral consecutivo com aumento de denúncias de crimes de ódio em relação aos anteriores, demonstrando o acirramento do discurso de ódio na internet.
Somadas as denúncias dos sete crimes, a Safernet recebeu 23.947 denúncias no primeiro semestre de 2022, um aumento de 67,5% em relação ao mesmo período de 2021. Em números absolutos, o crime mais denunciado foi o de misoginia, com 7.096 casos.
Em 2018 e 2020, por sua vez, o crime de intolerância religiosa não seguiu a tendência dos demais crimes. Porém, no primeiro semestre de 2022, teve 2.813 denúncias, 654% mais do que no primeiro semestre de 2021, quando somou 373 casos.
“As eleições tornaram-se um campo fértil para o discurso de ódio, que desde 2018 tem registrado aumento no período eleitoral”, sustenta a ONG.
Até 30 de junho deste ano, intolerância religiosa e xenofobia foram os crimes de ódio cujas denúncias mais cresceram em relação ao mesmo período de 2021: 654% e 520%, respectivamente. O terceiro crime com o maior aumento foi o de neonazismo, elevado em 120%.
Em 2020, as denúncias de neonazismo tiveram crescimento de 740,7% em relação ao ano anterior, enquanto racismo e xenofobia registraram mais que o dobro de denúncias em relação a 2019, atingindo 148% e 111% de aumento, respectivamente.
Em 2018, misoginia (1.639,5%), xenofobia (595,5%) e neonazismo (262%) tiveram os maiores percentuais de crescimento em relação a 2017.
Os dados completos podem ser encontrados no portal da ONG (https://docs.google.com/spreadsheets/d/1hmB3ZiyABDLe0u2lYVxaXL328GdNI0IQQQGB4d99To8/edit?usp=sharing).
Em razão do problema, a Safernet informa ter lançado em abril deste ano a segunda edição do Saferlab, “apoiando jovens criadores de conteúdo de diferentes regiões do Brasil para produzirem narrativas que promovam um consumo mais crítico de conteúdo, gerem empatia com grupos que historicamente são alvos de discriminação e sensibilizem parte da audiência para serem aliadas na defesa de direitos humanos”.
“O Saferlab é um laboratório de ideias que apoia o protagonismo jovem na criação de conteúdos sobre direitos humanos para tornar a internet um lugar melhor – com mais diálogo e respeito à diversidade”, acentua a entidade.
Para tanto, a ONG se utiliza de “contranarrativas”, com “histórias que se opõem ou desmontam um senso predominante”. “São maneiras de se opor e desconstruir narrativas comuns de discriminação e intolerância, mas vão além e têm uma abordagem propositiva, propondo o diálogo, a igualdade, o respeito às diferenças e a liberdade”, explica a ONG.
“Isso pode ser feito com fatos, dados, humor, sensibilidade e outras atitudes que promovam experimentar diferentes pontos de vista. Provocar empatia pelos grupos discriminados é um dos objetivos”, segue a Safernet.
Outro “produto” desenvolvido pelos criadores do Saferlab é a cartilha “Eleições Sem Ódio”, sobre desinformação e discurso de ódio.
Escrita em linguagem “simples e direta”, a cartilha é voltada para o eleitor jovem e sua família, alertando sobre como esse tipo de conteúdo pode influenciar negativamente as eleições e o que pode ser feito para combater a desinformação e o discurso de ódio.
A cartilha estará disponível online e possui links para atividades interativas, como quiz e jogos, que contribuem para a assimilação do conteúdo. O material pode ser baixado também pelo site da entidade (https://saferlab.org.br/eleicoessemodio.pdf).
Outra proposta do Saferlab é uma série de lives no mês de setembro, com especialistas, sobre os impactos da desinformação e do discurso de ódio em ano de eleições e o compartilhamento de “boas práticas” para se lidar com o problema. A agenda será divulgada oportunamente pelas redes sociais e site da Safernet.
É preciso parar de ignorar a realidade e reconhecer que, sim, o país não ganha nada com a banalização do ódio (ou do “mal”), a não ser aqueles que somente conseguem se manter no cenário político em meio aos conflitos.
Problema (grave) é que, invariavelmente, os conflitos cobram seu preço em miséria (aumento da pobreza pela desigualdade social), sequelas físicas e mentais (pelas doenças e falta de paz) e, por fim, mortes.
Neste sentido, foi por demais significativa a colocação de que as bibliotecas seriam algo oposto aos clubes de tiro – expressão, certamente, a entrar para a história do Brasil como objeto de estudo quando, no futuro, buscar-se entender um mínimo esta época tão belicosa, quase medieval, em que a ignorância passou a ser não só aceita com naturalidade, mas até carregada com orgulho.
Não pode ser por outra razão, senão por pura falta de informação (de Educação), que a maioria do contingente a seguir apostando no ódio não se sente horrorizada com a aparente “normalidade” com que se verificam os discursos a favor de ditaduras, xenofobia, racismo, machismo, “nazismo”!
Que é isso??? É esse mesmo o país que os pais querem para os seus filhos e netos? Se não, há que se voltar a sentir o horror! Horror pela ignorância, pela barbárie, pelo sangue vertido em vão…
E, mais importante: como eleitor, pensar com profunda seriedade com relação a estas eleições, e, como pais e mães, talvez, sugerir aos filhos que busquem conhecer o trabalho da ONG – pelo “verdadeiro bem da família brasileira”, que nunca teve como maior “valor tradicional” o compromisso de preparar seus filhos para uma vida de ofensas, agressões e carestias, tampouco para servir de bucha de canhão de oportunistas blasfemos, os quais não cessam de usar até o nome de Deus em suas cruzadas de ódio.