Marcos da Costa*
Como advogado, sempre militei e acompanhei de perto a vida política brasileira. Como presidente da OAB de São Paulo, convivi com políticos das esferas estaduais e federais, e diversas colorações, sempre na defesa dos ideais da advocacia livre e buscando melhorias para a população, objetivando o debate respeitoso entre os inúmeros pontos de vista sobre os diversos temas.
Ao longo do tempo, conversei com todo tipo de pessoas. Com alguns, havia sinergia e convergência de opiniões; com outros, divergência respeitosa. Acho salutar o debate. Como Gandhi, entendo que as divergências, mais do que as convergências, nos permitem evoluir. Em todas as situações, o respeito estava presente.
Sempre entendi a política como missão para construção de uma sociedade mais justa, dignidade de vida e oportunidades iguais para todos. Jamais a imaginei como instrumento de opressão ou de favorecimento em cima da desgraça alheia.
Recentemente, fiquei abismado com áudios absurdos, machistas e sexistas, de um deputado estadual paulista. Não encontro palavras para classificar os despautérios, digamos assim, proferidos pelo deputado estadual Arthur do Val, conhecido pelo pseudônimo de Mamãe Falei, contra as mulheres ucranianas.
Aquele que publicamente disse ter ido à zona do confronto levar uma palavra de conforto às vítimas, no âmbito privado, em gravações para amigos, mostrou sua verdadeira face, de alguém sem escrúpulos, capaz de visualizar possibilidade de tirar vantagens espúrias e imorais sobre mulheres em situação de alta vulnerabilidade diante dos dramas e dos traumas causados por uma guerra.
A questão ganha contornos ainda mais terríveis quando falas dessa natureza são emanadas de alguém que, como nosso parlamentar, representa a sociedade paulista.
Ele não maculou apenas seu currículo, mas a imagem de nosso estado, de nosso povo, cujo DNA é formado pelas mais diversas origens, regionais e internacionais.
A falta de compostura desse senhor não pode ficar impune. Ele não pode desonrar a sociedade paulista perante o mundo. O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa haverá de resgatar nossa dignidade e punir, com o rigor da lei e do regimento da Casa, o Arthur Mamãe, aquele que falou demais.
* Advogado, ex-presidente da OAB São Paulo