Da reportagem
Popular nas décadas de 1980 e 1990, o palhaço Paçokinha ganhou o Brasil com humor simples e genuíno. Depois de percorrer os quatro cantos do país, encantando públicos de diferentes estados, ele trocou os picadeiros pelos palcos de escolas públicas e particulares, ONGs (organizações não governamentais) e associações que trabalham promovendo a educação de crianças e jovens.
Há 26 anos, Paçokinha percorre instituições para levar alegria e educação em projetos de conscientização. Neste ano, ele escolheu Tatuí como uma das cidades da RMS (Região Metropolitana de Sorocaba) a receber a nova turnê do projeto “Educando com Amor”, uma ação totalmente voluntária.
O objetivo é auxiliar municípios e entidades a desenvolverem ações para evitar o contágio e a proliferação da dengue e combater o abuso infantil.
“Queremos levar assuntos sérios de forma descontraída. Precisamos mostrar que dengue e pedofilia não são palhaçada”, diz Luiz Carlos Batista, que dá vida ao Paçokinha e desenvolveu o projeto. A iniciativa visa a incentivar o desenvolvimento de “novas atitudes e novas práticas” entre as crianças e jovens.
Paçokinha explica que encampou a ideia quando um sobrinho, de dois anos, fora picado pelo Aedes aegypti, transmissor da dengue. “Ele ficou muito mal de saúde. E eu entendi que a dengue é algo que temos que combater”, afirma.
Natural de Botucatu, Batista se mudou para Sorocaba aos sete anos, em 1975, quando começou a “brincar de ser palhaço.” “Montei um circo no quintal de casa, no bairro do Largo do Divino. Um circo feito com lençol e colchas de retalhos, sem cobertura em cima. O céu era a minha lona”, conta.
Filho de ferroviário e de dona de casa, Batista abraçou a vida circense, de vez, em 1983, aos 15 anos, quando decidiu acompanhar um circo. “Foi então que virei artista”, recorda.
Iniciou vendendo pirulitos no circo Teatro Novo Mundo; depois, tornou-se comediante “de cara limpa”; e só mais tarde ocupou a função de palhaço, no então circo Panamericano.
Com os circos, viajou pelo país, retornando à região de Sorocaba, passando por Tatuí nos anos 90. “Nessa época, eu estava no circo de Roma, quando houve uma tragédia e o palco caiu, sendo notícia em vários veículos de comunicação”, recorda.
Em 1995, trabalhou em projetos como o “Doutores da Alegria”, uma ação que consiste na atenção a crianças, jovens e adultos internados para tratamento em hospitais públicos.
“Foi nesse período que deixei a lona do circo e comecei o trabalho na área de educação, levando alegria até as escolas”, acrescenta Batista.
Em Tatuí, ele passou pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), pela Escola do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e pela Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “Eugênio Santos”.
Nesta, realizou um “teatro de conscientização” sobre o mosquito transmissor da dengue, a convite da então coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Firmina Marcelo Martins. Na cidade, Paçokinha também percorreu, com o projeto, unidades escolares do Jardim Santa Rita de Cássia.
“Nosso objetivo era orientar as crianças a ajudarem na eliminação dos criadouros do Aedes, mas arrancando um sorriso do rosto delas”, argumenta. As apresentações duraram uma semana e aconteceram no ano de 2009.
Em 2022, Paçokinha quer retomar a ação. Desta vez, ampliando para clubes, projetos sociais e entidades que não têm condições de pagar.
“O projeto não tem custo, não tem patrocinador, não tem político por trás. É o palhaço que está a fim de fazer o social. Eu não aceito cachê. O único ganho desse projeto é o social. Não consigo cobrar de quem respeito”, acrescenta.
O projeto consiste em um show de 50 minutos, composto por brincadeiras preparadas a partir de conteúdos pré-estabelecidos por professores, coordenadores pedagógicos ou responsáveis pela área de educação das instituições. Paçokinha lembra que hospitais também podem solicitar a apresentação gratuita.
“Minha missão é ir até os espaços para falar, mostrar que brincadeira é coisa séria”, pontua.
Além da dengue e do abuso infantil, o espetáculo pode ter como tema o bullying. Segundo o palhaço, os assuntos são apresentados às crianças e jovens de uma maneira leve e divertida, resultando em um nível maior de atenção.
“Às vezes, a escola não consegue um resultado expressivo quando o tema é complexo. Com o espetáculo, eu ajudo os profissionais a transmitir a informação. E, juntos, nós temos mais forças para que a mensagem chegue a todos”, diz.
Também conforme Paçokinha, a proposta do projeto é agregar novas temáticas. Entre elas, o combate ao racismo. “Normalmente, vou até a escola, como Batista, e estudo com a equipe a melhor maneira de transmitir o conteúdo”, conta.
As apresentações acontecem nos espaços indicados pelas instituições e sem grandes apetrechos. Paçokinha, por exemplo, opta por um visual menos elaborado. “O melhor remédio é a simplicidade. Tanto que eu nem uso peruca. Eu uso um boné simples, porque o tema precisa chamar a atenção”, justifica.
Os interessados em solicitar as apresentações gratuitas podem entrar em contato pelo e-mail: luiz-carlosbatista@hotmail.com. Empresas e pessoas físicas que queiram contribuir com os custos de deslocamento do profissional também são bem-vindas.
“Eu estou aberto a apoiadores, mas não patrocinadores. Eu deixo bem claro que o Paçokinha não cobra”, enfatiza.
Quem, ainda assim, quiser patrocinar, pode optar por reverter o valor em brinquedos e doces. Paçokinha reforça que não busca dinheiro, mas que aceita doação de pirulitos, balas e sorvetes, convertidos em favor da arte e das crianças.