Junto a este espaço reservado ao editorial e ao artigo do professor Henrique Autran Dourado, na edição deste final de semana, publicamos texto do advogado sobre a falsa impressão de que as redes sociais são “territórios sem lei”.
A despeito de já ser francamente de conhecimento público a inverdade sobre essa impressão, ainda há quem se engane – muita gente, aliás. Contudo, isto também não é novidade.
Inusitado é o quanto, às vezes, o ser humano pode ser cruel, muito mais insensível e animalesco que o mais selvagem dos bichos. E mais espantoso, ainda, é quando essas manifestações se expressam com arrogância e, até, orgulho – nestes casos, claro, sempre por meio das redes sociais.
Um triste exemplo disso tem ocorrido em dias recentes, quando pessoas estranhas – para dizer o mínimo -, de repente, acharam-se na obrigação de externar comentários sobre o desaparecimento de uma menina em Tatuí.
Resumindo, resumindo, essas figuras, na prática, colocam toda a responsabilidade sobre a mãe, esquecendo-se de que, por aí, solto, está um criminoso certamente insano e extremamente perigoso (se sequestrador ou coisa pior, ainda não se sabe, mas, certamente, um criminoso).
Isso sem falar na conveniência de se lembrar dos sentimentos de uma mãe que tem uma filha desaparecida – ainda que tivesse ela algum tipo de culpa. Aliás, a própria Justiça costuma não só reconhecer, mas tomar como preponderante essa dor em tragédias envolvendo pais e filhos.
Ou seja, não são incomuns as absolvições por completo de pais que, sem querer, causam a morte dos filhos – como esquecê-los dentro de carros e, assim, levá-los à morte por desidratação (infelizmente, nesta semana, mais uma tragédia dessas aconteceu, em Araçatuba).
Em quase todos esses casos, ocorreu a “absolvição” da mãe ou do pai responsável pelo esquecimento. No correto e perfeito entendimento da Justiça, a perda do filho já é a maior punição que os pais podem sofrer. Mais que isso seria puro sadismo.
E, pelo que se observa nas redes sociais, é isso mesmo: sadismo! Aparentemente, muita gente gosta de ver os outros sofrerem, enxergando em uma possível tragédia como essa a oportunidade de exibir sua ridícula sapiência e incontrolável ego. Lamentável…
O caso em questão envolve o desaparecimento da menina Juliana Soares Conceição, no dia 6 deste mês, um domingo. Segundo a mãe, antes de desaparecer, a garota brincava com três irmãos e vizinhos na rua Pedra Ribeiro Abrame, no Jardim Santa Rita.
As crianças teriam saído para brincar na rua às 17h. Cerca de uma hora depois, a mãe chamou os filhos de volta para casa, porém, apenas três das quatro crianças voltaram.
No momento do desaparecimento, a garota usava “top” de cor preta, “shorts” vermelho e sandálias brancas. Juliana é magra, tem estatura baixa e cabelos cacheados, pintados de loiro.
Na quinta-feira da semana retrasada, 10, moradores do bairro encontraram restos de roupas queimadas em uma estrada de terra no Queimador. O bairro rural fica próximo à localidade onde a menina mora. Junto aos vestígios, havia um frasco de álcool.
As roupas queimadas foram enviadas ao IC (Instituto de Criminalística), de Itapetininga, que as remeteu à capital paulista. A expectativa é de que o laudo seja emitido no início do próximo mês.
A perícia pretende comparar o DNA, de sangue ou cabelo encontrados nas vestimentas, com os da mãe da menina.
Na semana passada, cerca de dez agentes das polícias Civil, Militar, do Corpo de Bombeiros e da Guarda Civil Municipal participaram dos trabalhos de varredura no rio Tatuí, para procurar a menina. As buscas se estenderam desde a manhã até o início da noite de sexta-feira, 18.
De acordo com o delegado Emanuel dos Santos Françani, titular da Delegacia de Polícia de Tatuí, não foram encontradas novas pistas do desaparecimento de Juliana.
“Estamos trabalhando, as investigações continuam, junto às buscas e varreduras. As pessoas são ouvidas aqui, pela nossa equipe e a de Itapetininga”, afirmou.
O delegado acrescentou que a investigação trabalha com a hipótese de que a menina esteja viva e conta com a colaboração da população para encontrá-la.
Na semana retrasada, as buscas tiveram a colaboração de cães farejadores das Guardas Municipais de Sorocaba e Itu. O faro dos cães levou os grupos de moradores e agentes até um ponto de uma mata ciliar, à margem do rio Tatuí, entre o Jardim Santa Rita de Cássia e o Jardim Rosa Garcia 2.
As investigações são realizadas em conjunto pelo SIG (Setor de Investigações Gerais), de Tatuí, e pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais), de Itapetininga.
A Polícia Civil solicita que moradores que souberem do paradeiro da menina Juliana enviem informações pelos telefones 3251-4402 ou 3251-4240. Os números são da Delegacia de Polícia de Tatuí.
Portanto, que os meios de comunicação sirvam para isso: ajudar – de preferência, para salvar vidas, jamais para denegri-las, mormente as daqueles que já sofrem mais do que podem suportar.