Há alguns dias, o Facebook foi palco de mais debate sobre censura/liberdade de opinião. Dessa vez, na página da fotógrafa Nana Queiroz, foi publicada uma foto de manifestantes feministas. Atacada por seguidores de Jair Bolsonaro, a imagem foi retirada do ar. A fotógrafa reiterou junto à plataforma que a imagem não infringia as regras da política de publicação da rede social e obteve a republicação da imagem. Ato contínuo, opositores conseguiram novamente retirar a imagem da rede, gerando grande comoção.
Muito se debate sobre a responsabilidade do Facebook ao publicar/censurar imagens e postagens que podem ser vistas por uns como ofensivas, por outros, como expressão de sua ideologia, pensamento, postura de vida.
Há um imenso equívoco acerca do papel de cada um desses atores na cena social atual. Muitos se utilizam das redes sociais como se fossem blogs – espaços individuais onde se pode publicar o que for do interesse do autor. Outros entendem a rede social como se fosse um veículo tradicional – que tem a figura do editor que é o responsável pelo que é publicado e pelo que é cortado da publicação.
Nem uma coisa, nem outra: o Facebook é espaço de interação, portanto, faz sentido repelir atitudes agressivas ou ofensivas como, por exemplo, páginas de incitação ao ódio racial, homofobia, etc… Por outro lado, não se pode esperar que haja no Facebook alguém capaz de monitorar a quantidade de publicações diárias que são feitas na rede. São mais de 1,65 bilhão de usuários ativos. A cada dia mais de 4,5 bilhões de posts recebem likes ou comentários. É impossível controlar tudo isso. Mais ainda se consideramos que existem mais de 83 milhões de perfis falsos e que, a cada segundo, cinco novos perfis são criados.
Diante dessa enxurrada de informação navegando na rede, dá para entender porque não é possível enxergar o Facebook como se fosse um jornal ou revista, em que é possível “controlar” o que é publicado. No novo mundo das redes sociais, do big data, a gestão precisa ser feita por sistemas automatizados e, nesses casos, haverá quem consiga burlar os sistemas. Cabe a nós entendermos que os relacionamentos mediados por redes sociais são muito diferentes daqueles intermediados por veículos tradicionais, entendermos que somos responsáveis pelo que publicamos e que existem, e existirão nas redes sociais, os haters ou odiadores – gente que está ali só para agredir, provocar e que, infelizmente, é preciso conviver com eles.
* Especialista em mídias sociais, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie