Recentemente, foi divulgado um estudo pelo Departamento da Indústria da Construção (Deconcic), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que apurou os principais obstáculos que dificultam o andamento e atrasam as obras no Brasil. A pesquisa aponta fragilidades do setor de construção em diversos itens, como projetos, desapropriação de áreas, serviços públicos, licenças ambientais, regulação, burocracia, liberação de recursos, mão de obra e, principalmente, a falta de comunicação entre os responsáveis pela obra e a população.
Cabe complementar que as obras inacabadas, mais do que todo prejuízo financeiro, deixam um prejuízo moral em diferentes aspectos: perante a população lindeira que fica descrente, pois não suportam os transtornos causados no dia a dia, e junto aos empreendedores, tanto ao órgão de governo quanto à construtora responsável pelas obras, que veem sua reputação despencar junto à opinião pública.
Tendo em vista inúmeras obras inacabadas em todo o país, por exemplo, as iniciadas em 2014 para a Copa do Mundo, e os altos investimentos públicos dispensados, a população tem a necessidade e o direito de vê-las em funcionamento. “O que está acontecendo com as nossas obras?”, questionou Manuel Rossito, diretor adjunto do Deconcic. “Elas simplesmente não acabam, e quando acabam demoram mais que o prazo previsto, custam muito mais e a sociedade demora muito mais tempo para ter o benefício do investimento”, afirma.
Diante dessa realidade, é mais do que justo que a população se revolte e clame por informações sobre a continuidade das obras, quando serão retomadas e eventuais mudanças que irão impactar o cotidiano. Para atender essa expectativa, os empreendedores precisam de um trabalho de comunicação consistente e planejado, estruturado desde o início das obras e com base na confiança e no relacionamento transparente e sólido. Ainda de acordo com Manuel Rossito, “Obra boa é ‘obra rodando’. Aquela que acaba no prazo, com qualidade, sustentabilidade, custos controlados e com respeito ao meio ambiente e às questões sociais”.
Dessa forma, para evitar maiores prejuízos financeiros, jurídicos e riscos à reputação de governos e empresas, é necessário um bom plano de comunicação que possa manter o relacionamento com a população, de maneira geral, e a comunidade lindeira às obras, disponibilizando as informações corretas, ouvindo as reclamações e encaminhando os apontamentos para as áreas responsáveis. Seja por meio de informativos, comunicados, reuniões, palestras, visitas, releases para a imprensa local, informes pelas redes sociais, mensagens pelo “smartphone”, e outras ferramentas de comunicação.
Assim, a população e as comunidades lindeiras serão informadas sobre o que está acontecendo e os ânimos ficarão mais equilibrados. Com uma ação contínua de comunicação a médio e longo prazo, é possível conquistar a confiança, o respeito e a compreensão de todos. Consequentemente, minimiza-se a revolta da população, algo tão em voga entre os brasileiros devido a atual crise político-econômica que assola o nosso país, e preserva-se a imagem e a reputação dos empreendedores – um ativo tão caro quanto os votos dos governantes e as ações financeiras das empresas.
Nesse aspecto, acreditamos que é preciso uma mudança sistêmica na gestão desses empreendimentos, assim como uma mudança de mentalidade e um olhar direcionado ao bem-estar e a aprovação da população. Informar e comunicar a população e as comunidades onde estão sendo implementadas as obras de infraestrutura é essencial para superar problemas primários. Somente assim os empreendedores conseguirão a “licença social” da população para levar a cabo seus empreendimentos, promovendo benefícios sociais à população e trabalhando por verdadeiros legados.
* Associados da Communità Comunicação Socioambiental.