Da reportagem
O tatuiano João Vitor Ribeiro, de 19 anos, é apontado pela Polícia Federal como “chefe” de um grupo de hackers suspeito de ter fraudado contas de beneficiários do auxílio emergencial.
O jovem foi detido preventivamente em um hotel de luxo na capital paulista, durante operação deflagrada na manhã de sexta-feira da semana passada, 16.
De acordo com a PF, um grupo de amigos do interior do estado de São Paulo criou um programa de computador para burlar o sistema do governo federal. Conforme apurado, o software é capaz de levantar cerca de 2.000 CPFs (Cadastro de Pessoa Física) em poucas horas.
Segundo a investigação, a partir de “bots” (robôs), os suspeitos conseguiam as informações de pessoas com direito a receber o benefício, faziam o cadastro no nome delas e, posteriormente, recebiam as parcelas de forma irregular.
Desde dezembro do ano passado, segundo a PF, Ribeiro e outros integrantes do grupo acusado se hospedaram em 21 hotéis. As diversas hospedagens, segundo a investigação, eram uma estratégia para utilizar a rede de internet dos estabelecimentos para aplicar o golpe e, desta forma, dificultar a localização deles.
Os acusados, segundo a PF, utilizavam chips de celulares no esquema e apresentavam documentos falsos para abrir contas e desviar o dinheiro do benefício. O grupo ainda é acusado de ter vendido o programa e a estratégia para fraudar o auxílio a criminosos de outros estados.
Conforme apurado, o prejuízo causado pelos crimes do grupo gira em torno de R$ 600 mil. Entretanto, a PF estima que o valor desviado pela quadrilha pode chegar a R$ 6 milhões, pois muitas vítimas não contestaram o furto do dinheiro.
Ribeiro foi preso durante a “Operação Botter”, deflagrada pela unidade da PF em Sorocaba. No hotel em que o tatuiano foi detido, os agentes apreenderam um computador que estava ligado ao robô que aplicava o golpe.
A operação ainda cumpriu oito mandados de busca e apreensão, sendo três em Tatuí, três em Paulínia, um em Boituva e um em São Paulo. Na casa da mãe de Ribeiro, a PF recolheu artigos eletrônicos, máquinas de cartões, inúmeros chips de celulares, uma moto e R$ 145 mil.
A operação é resultado de trabalho da Eiafae (Estratégia Integrada de Atuação contra as Fraudes ao Auxílio Emergencial), que reúne Polícia Federal, Ministério Público Federal, Ministério da Cidadania, Caixa Econômica Federal, Receita Federal, Controladoria-Geral da União e Tribunal de Contas da União.
A Eiafae também permitiu que a PF de Campinas deflagrasse, de forma simultânea, a “Operação Lotter”, para o cumprimento de nove mandados expedidos pela 9ª Vara Federal dessa cidade.
Ao todo, foram oito mandados de busca e apreensão, sendo seis em Paulínia e dois em Sumaré, além de um mandado de prisão temporária, também em Paulínia.
Com informações oriundas do órgão central da PF, em Brasília, responsável pelo processamento de dados das fraudes e cooperação da Delegacia Regional de Investigação e Repressão ao Crime Organizado, em São Paulo, as investigações chegaram, simultaneamente, a braços diferentes da organização criminosa, identificando investigados que estão entre os maiores fraudadores já detectados do auxílio emergencial.
Os envolvidos responderão pelos crimes de furto mediante fraude, estelionato, falsidade ideológica e formação de organização criminosa, cujas penas somadas podem chegar a quase 30 anos de prisão.