José Renato Nalini *
A flexibilidade é um comportamento virtuoso. A atitude contrária à rigidez, que conduz ao fanatismo, é qualidade em falta no convívio contemporâneo. O Brasil sofre de uma doença terrível, que é a intolerância.
Quem se alinha a um dos lados da contenda parece desejar ao outro nada mais que não a morte. Discussões estéreis, ofensas, agressões toscas e infames, chegam a nos fazer duvidar de que houve avanço civilizatório nas últimas décadas.
Há um componente interessante na flexibilidade, que é certa atitude de não oposição, de não resistência diante daquilo que é imutável ou superior à nossa força.
Essa virtude era praticada pelos antigos chineses, que elaboraram o conceito de “Wu Wei”, ou seja, “Não Ação”. Isso não significa imobilidade.
Os chineses complementavam: “Wei Wu Wei”, ou seja, “faça sem fazer” ou “faça ou não fazer”. Muito diferente de inércia, preguiça, lassidão ou passividade.
A ideia pode conduzir a um acordo com a correnteza indomável. Diante de uma torrente poderosa, a oposição pode significar naufrágio. Se em lugar de resistir, o indivíduo usar essa potência para prosseguir até encontrar paragens mais calmas, terá ganhado tempo e economizado resistência.
A metáfora do carvalho e do bambu. Diante de uma tempestade forte, o carvalho não se verga e racha. O bambu se verga ao vento e sobrevive íntegro.
Ser flexível é saber ouvir o outro, embora nossa consciência esteja revoltada com a imbecilidade do que ele fala. Ser flexível é acatar a opinião alheia, quando ela tiver algo de sensato que possa nos convencer de que, desta vez, é melhor ceder. Ser flexível é amoldar-se à necessidade de aceitação das diferenças, pois o mundo seria tedioso fôssemos todos iguais.
Flexibilidade, enfim, poderia ser sinônimo de inteligência. Teimar, resistir, querer persuadir pela força ou pelo volume dos berros, não é inteligente.
O flexível é alguém respeitado, porque sabe ouvir. Talento pouco levado a sério em nossos dias. O flexível é tudo isso, menos frouxo. Um pouco de flexibilidade não faz mal a ninguém.
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.