O clima em debate





Os líderes mundiais reunidos a partir desta semana em Paris para discutem o papel de cada nação na redução de emissão de gases poluentes na atmosfera, durante a Conferência do Clima, a COP21. O futuro do mundo depende das decisões tomadas nessas reuniões, que foram marcadas por avanços e retrocessos em edições anteriores. Mas a cada dia, percebemos diretamente no nosso cotidiano que precisamos adotar medidas urgentes para preservar a vida na terra.

Estamos convivendo diretamente com longos períodos de estiagem em algumas regiões brasileiras, que afetaram diretamente o abastecimento de água de milhões de pessoas. Assim como vimos alta densidade pluviométrica em outras regiões, provocando enchentes. Esses são alguns resultados das mudanças climáticas provocadas pelos homens nos últimos séculos. Ainda entre os exemplos brasileiros, uma nova estimativa do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima, aponta que as emissões de gases de efeito estufa do Brasil em 2014 permaneceram estáveis em relação ao ano anterior. Os números continuam os mesmos, apesar da queda de 18% na taxa de desmatamento da Amazônia. 

A explicação dos especialistas para a manutenção desses níveis, mesmo com a redução do desmatamento, está diretamente ligada ao uso de termelétricas para abastecimento de energia, necessárias diante dos níveis dos reservatórios em várias regiões brasileiras. Podia ser ainda pior caso a economia mostrasse sinais de recuperação, repercutindo em uma maior atividade econômica.

Os efeitos da poluição estão ainda por todas as partes e afetam principalmente os moradores das regiões metropolitanas. A emissão diária de gases por carros e ônibus já é um problema de saúde pública na capital paulista, por exemplo. Pesquisas realizadas pelo professor Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da Universidade de São Paulo (USP), revelam que se tivéssemos uma redução de 10% da poluição na cidade de São Paulo, poderíamos evitar 114 mil mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares entre os anos 2000 e 2020.

A capital paulista já conta, inclusive, com instrumentos que poderiam reduzir esse dramático quadro. Um deles é a Lei de Mudanças Climáticas da Cidade de São Paulo, que entrou em vigor em julho de 2009, estabelecendo uma série de medidas para reduzir em 30% as emissões de poluentes atmosféricos para os quatro anos consecutivos do início da lei. Para alcançar essas metas, o município deveria iniciar a troca dos veículos do transporte público movidos a diesel por ônibus com fontes energéticas sustentáveis. Mas, infelizmente, nem mesmo o atual edital de licitação proposto pelo município para o transporte público incentiva o uso de novas tecnologias.

Os efeitos da atuação do homem no meio ambiente são percebíveis em várias esferas. Assim como as discussões envolvendo vários países devem estabelecer metas para o nosso futuro, precisamos também olhar ao nosso redor e buscar nas cidades, onde convivemos diariamente com nossos problemas, soluções sustentáveis que contribuam efetivamente para a melhoria de vida da nossa população.

(*) Vice-presidente de veículos pesados da ABVE (Associação do Veículo Elétrico) e gerente da Eletra, empresa brasileira pioneira em tecnologia para tração elétrica e híbrida para ônibus