MEMÓRIA – A viagem de Ivo Mendes





Meu amigo Ivo Mendes iniciou sua derradeira viagem no dia 3 de setembro. Ele não foi pego de surpresa, já estava preparado havia muito tempo. Quando o conheci, lá pelo ano de 1968, em plena ditadura militar, já era uma pessoa espiritualizada.

Pensei em escrever alguma coisa sobre ele, mas como falar de Ivo Mendes? Falar do advogado, desprendido, generoso, valente, letrado, bravo e, algumas vezes, brabo?

Falar do poeta que compunha belas poesias com precisão ortográfica nas mãos, mas de conteúdo vindo diretamente do coração?

Ou do escultor apaixonado, que nunca estava contente com suas obras, fazendo, desfazendo, consertando, recriando, moldando muitas delas em homenagem às pessoas que ele admirava, tais como a professora Olga Marinho, Rui Barbosa, Adriano Seabra Mayer, Maurício Loureiro Gama, Wanderley Bocchi, entre outros?

Talvez, falar do músico que participou das melhores orquestras de seu tempo, como a Tro-lo-ló, por exemplo? Tendo como companheiros musicais os artistas: Carioca, Gildo Ramos, Hog, Dito Rolim e muitos outros?

Quem sabe, comentar sua participação na política, onde entrou como um cidadão honesto e saiu do mesmo jeito – honesto? Penso que ele foi o único vereador da cidade de Porangaba que renunciou.

Ele tinha sido eleito para uma vereança de quatro anos. Durante sua gestão, o governo fez uma manobra política, estendendo o mandato de todos por mais dois anos. Ivo Mendes não concordou, renunciou, afirmando que fora eleito para quatro e não seis anos?

Dizer, quem sabe, sobre a sua vocação natural em proteger os injustiçados, os fragilizados? Ou seu carinho com os pobres em bens? Ou paciência com os pobres de espírito?

Mas, sua luta não terminou nessa triste quinta-feira: no outro lado dessa vida que conhecemos, a evolução espiritual não cessa, e, lá, continuamos precisando de amparo, de ajuda, é então que almas evoluídas e iluminadas como a de Chico Xavier, Emmanul, Bezerra de Menezes e Ivo Mendes estarão trabalhando a nosso favor.

Portanto, é difícil escrever sobre Ivo Mendes, mas é fácil concluir que o mundo seria muito melhor se houvessem mais Ivos entre nós!

lnté, bom amigo!

Ivan Gonçalves