Heróis combatendo – e vencendo – vilões é enredo comum na ficção, em particular nos quadrinhos, desenhos animados e demais narrativas fantásticas. Na tal vida real, o que se vê são batalhas inglórias, nas quais os bandidos parecem invencíveis e se reproduzir de forma exponencial, enquanto nossos defensores são dizimados, personagens em extinção.
Até pela linguagem fantástica com que se manifestam, os super-heróis costumam ser os preferidos na infância e na juventude – daí porque, longe do que muitos podem pensar, são importantes, pois inspiradores.
De certa maneira, servem como modelo do certo diante do errado, do “bem” diante do “mal” – dualidade tão esgarçada em época hipócrita do politicamente correto, mas que não deixa de ser fundamental à formação dos critérios que sustentam nossas atitudes, sempre e a cada dia.
Pois bem, Tatuí possuía – por excelência e literalmente – um “defensor” real, um destemido herói, sempre em luta pelos “fracos e oprimidos”. Seu nome era Ivo Mendes, o “doutor Ivo”.
O maior poder dele não fora devido a uma experiência genética, a uma graça extraterrestre. Não, fora conquistado por meio de algo muito mais prosaico, como a busca pelo conhecimento didático e a prática diária da labuta. E, como missão “ad aeternum”, fazer o “bem” de verdade!
Não soltava raios pelos olhos, embora fuzilasse seus adversários com olhar de fúria quando identificava alguma injustiça; não pulverizava adversários com armas a laser, mas os desnorteava com argumentos demolidores; não nocauteava os rivais com artes marciais, embora fosse mestre em diversas artes.
A maioria pode conhecê-lo como o advogado combativo, “sem medo”, que não buscava armistício fácil, senão a plena vitória, até porque só se batia pelas campanhas nas quais tinha fé.
Na verdade seus maiores poderes se encontravam na cultura – geral e profissional – e no talento, com os quais se tornou um dos advogados mais competentes e respeitados da região.
E respeito foi o que mais ganhou, posto que, diferentemente dos heróis da ficção – que colhem os louros das façanhas na forma de riqueza e aplausos -, Ivo nunca buscou a recompensa…
Pela capacidade, pelo número de vitórias, bem poderia ter erguido uma fortaleza, certamente farta e abastecida com riquezas materiais. Mas, não. Jamais foi à luta objetivando os espólios da guerra jurídica.
Somente ele poderia dizer, mas, sem dúvida, devia sentir-se afortunado como poucos por uma simples razão: todo herói, verdadeiro, tem uma missão a cumprir, e é isso que o satisfaz. A missão do doutor Ivo era fazer Justiça! E, nisso, ele era imbatível!
No entanto, esse ser, que já era “sobrenatural” em vida, não guardava somente poderes incomuns, mas, também, talentos múltiplos.
Ivo foi o que se banalizou chamar de “multimídia”- sem justificativa em grande parte. Algo justo, porém, quando diante do talento dele, expressado na música, na poesia e nas artes plásticas, pela escultura.
Tantas propriedades já fariam do defensor um cidadão incomum, só que ainda não lhe bastava. Em época que, realmente, era preciso coragem para desafiar a ditadura, Ivo foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores –novamente, motivado pela busca do bem comum, da liberdade e, claro, da Justiça!
Por tudo isso, Ivo personifica a figura do herói em extinção, aquele que inspira a bondade, que sustenta a esperança, que não perde a fé em si mesmo e no ser humano. Por tantos poderes, inapelavelmente, fará falta e jamais será substituído.
Agora, querido companheiro, evocando seu eterno espírito jovial e, ainda, como diria um adorado herói contemporâneo das crianças, que tua alma siga ao infinito, e além!
Ivan Camargo