Vamos relembrar, voltar no tempo e falar sobre uma peça de roupa-elemento fundamental para expressar a rebeldia dos anos 50 em diante. Quando o ator James Dean apareceu com esse visual, com as barras dobradas, camiseta branca, blusão e boné de couro, sentado sobre uma motocicleta, em 1955, no rosto exibia um ar de “bad boy” – nascia ali um nova forma de se vestir. Dessas famosas calças “Lee” é que surgiria o tal do jeans, e nasciam ali as calças que revolucionariam todo o conceito de moda para ambos os sexos.
E falando em James Dean, ele é considerado um ícone cultural, na verdade, a melhor personificação da rebeldia e angústias próprios da juventude da década de 50 – “Rebel Without a Case”. No Brasil, esse filme foi chamado de “Juventude Transviada”.
Após sua atuação nos cinemas, essas calças, que eram feitas com um brim muito grosso, que diziam ser parecidas com um encerado daqueles que cobrem as cargas dos caminhões, deu origem a uma febre – a febre das calças Lee. Que nos comerciais se diziam ser feitas com o pano dos carroções usados na conquista do “Velho Oeste”.
Na verdade, foram feitas para resistir ao desgaste do seu uso pelos mineradores. Pois o atrito das calças nas rústicas paredes de pedras, requeria que elas fossem feitas de tecido muito grosso, grosseiro mesmo.
No Brasil, Roberto Carlos ditou tal moda quando apareceu na contracapa do disco LP – “long playing” – “É Proibido Fumar”, com as tais calças desbotadas na parte frontal das coxas, e que tinham que estar desbotadas para “estar na moda“.
Ah! Quando as calças eram novas, todo mundo lavava-as com uma escova de cerdas duras para ficarem mais claras nas pernas, desbotavam “na marra”! Na década de 60, tudo era mais difícil, mais demorado. Nós, em Tatuí, só víamos essas calças com amigos e parentes que vinham de São Paulo para passear ou passar as férias aqui, e como faziam sucesso, eram chamados de “playboys”!
Lembro-me quando as Alpargatas lançaram as calças “Far West” (faroeste). Nossa! Foram um sucesso, e quem as vendia era a Casa São Nicolau, do senhor Nicolau Sinisgalli, na rua Prudente de Moraes.
Porém, essas calças, após algumas lavadas, o tecido ficava mole e “perdia o caimento”, e não tinha o estilo das famosas calças Lee. Em seguida, surgiam os amigos que conseguiam trazer, através de outros amigos que iam para os Estados Unidos e traziam-nas para vender.
E aí começa a nossa história das calças Lee em Tatuí . As costureiras, que ajustavam as pernas ou faziam “pensas” na cintura, reclamavam que o pano era muito grosso e duro, que até quebravam as agulhas das máquinas de costura. Em nossa cidade, os primeiros a usarem as tais calças foram: Walter Camilo Abud, o “Abud Turco”, Rochinha, Tato Cigano, Carlinhos Ribeiro, doutor Kiko (que era primo do Dirceu, dos The Johnnies, e quem também trazia os sucessos musicais tocados no Círculo Militar em SP), Beline, Hélio Portela, Celso Fiuza “Birdão”, Carlinhos Tavares (Mercado Municipal) Ricardo Ferriello “Gervásio”, Canário, Nautílio, Lúcio Coelho, Paulo Sérgio Ribeiro, meus primos Lineu e Olavinho – os quais me apresentaram os The Beatles, George Benson, Joe Pass, Oscar Petterson, bossa nova, Os Mutantes, Rita Lee, Caetano, Gil, entre outros.
Por sermos vizinhos de muro, um ligava a vitrola e, por cima do muro, o som vinha para os quartos das casas. Foi um tempo muito bom, e de paz!
Ainda me lembro dos meus precursores das Lee e de sapatos, senão vejamos naquela época nós íamos sempre “pegar praça” em Tietê e nós: Zé Elias Turco, Pardal Sallum, eu, Marcelo Peixoto e o piloto do carro, pois só ele tinha, era o nosso amigo Geraldo Gambá. Também, me lembrei do Xavier, os irmãos Toninho e Peixinho. Nessa história da moda em Tatuí, tem também o Eliazinho Sallum que foi quem além da calças Lee, começoui a trazer sapatos mais modernos, pois naquele tempo só existiam sapatos tradicionais e “quadradões”, que mais pareciam um tanque de guerra nos pés, que eram das marcas Vulcabrás e Makerli, vendidos na Casa Armênia, na Rua José Bonifácio, onde hoje funciona um escritório imobiliário na parte inferior e na superior residem a Família Cárdenas: Dona Terezinha, Marcão, Licínio e Neto. Já o meu irmão Diógenes gostava muito de um macacão Lee, o qual só tirava para dormir.
As minhas primeiras calças Lee, eu as comprei de segunda mão, já desbotadas e no “ponto”. Era só colocar um cinturão com fivela, pois os passadores das calças eram mais largos (com cinto comum ficava estranho), vestir botinas do Dóca com salto carrapeta, para imitar as botinhas Calhambeque, lançadas por Roberto Carlos, e ir à Praça da Matriz e nos clubes Recreativo e Tatuiense para mostrá-las às meninas e aos amigos que ainda não tinham as suas .
Quem me vendeu as minhas foi o Paulo Xocaira, “Paulo Guelo”, que era primo do Gito Chammas e tocava tumbadora nos The Johnnies (por um breve tempo). Cheguei em casa com aquelas calças já surradas pra lavar e, depois, levar para ajustar na costureira dona Estela Fiuza (esposa do seresteiro Zé Fiuza e mãe do Eli e do Eduardo, também seresteiro e empresário em Cesário Lange). Só que, ao ajustá-las, sobrava pano de um lado e faltava de outro, porque o Paulo era mais gordo e havia comprado de outro jovem lá em São Paulo, mas ela dava um “jeitinho”.
Também, a dona Nair (mãe do Carioca), a dona Lourdes (mãe da Aracy) eram as minhas preferidas pra acertar as calças – não só minhas, mas as de todos os jovens cujas calças precisavam de um reparo.
Depois de prontas e lavadas, tornavam-se como que um uniforme, eram só usadas aos fins de semana, aniversários e bailinhos de quinta-feira no Clube Recreativo, com Pick Up e Seus Negrinhos, ou seja, “Vitrola do Clube”, para onde todos levavam seus discos para tocar lá, e todo mundo era obrigado a ouvir as seis faixas de cada lado do disco, porque o senhor Hélio não tinha muita paciência em ficar mudando os discos.
Assim, os jovens decoravam todas as músicas de Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps, e todos da jovem guarda. Somente quando eram compactos simples (uma música de cada lado), ou duplos (duas músicas de cada lado) é que ele era obrigado a mudá-los.
Conclusão: essas calças só eram lavadas quando estavam, como diziam naquela época, “parando em pé de sujeira”. E, como começaram as falsificações, as verdadeiras tinham um selo no bolso traseiro. Quando iam para o tanque, lembro-me da empregada que falava para a minha mãe: “Ai, ai, ai, dona Aparecida, essas calças do Luiz Antonio (nesse tempo, esse era eu) judia dos meus dedos e das minhas mãos, parece um encerado ruim de lavar!”
Assim, ela socava a escova para limpar mais para a minha alegria, pois mais as calças ficavam na moda!
Certa vez, eu tive uma ideia: queria ter um paletó feito com calças Lee. Assim, consegui várias calças de amigos, que não serviam ou não as usavam mais. Fui até o Benê Alfaiate, ele desmontou umas cinco ou seis calças, aproveitou um pedaço daqui, costurou outro ali e, para a minha surpresa, montou um paletó desbotado, feito só com calças Lee, que só eu tinha!
O tempo passou e as lojas começaram a vender as tais calças, que viraram sinônimo daquelas calças que desbotavam. Nesse mercado, surgem: as Levis Strauss, Wrangler, as japonesas Cone – em que todas desbotavam de acordo com as lavagens. Lembrei-me de um filme do Steve McQueen, “Terra de Ninguém”, em que ele apareceu com o conjunto de jaqueta, calças e o cinto da Levis Strauss. E, passados uns dias, vi o Abud Turco usando. Como ele era mais magro do que atualmente, fui à casa dele e comprei o kit completo, sendo que tenho a fivela até hoje. Bons tempos!
Nessa época, em São Paulo, existia a Galeria Pajé, onde a pessoa podia comprar essas calças; porém, como eram produto de contrabando (já naquele tempo!!!), a polícia sempre dava batidas em buscas de vendedores e compradores.
Aí, os leitores já imaginam a aventura estressante que era comprar a tal calça Lee naquele lugar! No entanto, se você tiver mais de 50 anos, vai se lembrar desse tempo em que essas calças eram o “terror das mãos das mães”!
Aqui, eu mando um abraço para todas as mães, irmãs, esposas, empregadas domésticas, costureiras, alfaiates, comerciantes, amigos que nos venderam as calças usadas e já desbotadas. Enfim, a todos que nos ajudaram a viver a moda das calças Lee, Levis, Cone, Wrangler e outras!
E, se pensarmos que elas nasceram nos anos 50 e, hoje, estamos em 2015 e só apenas mudaram de nome: de calças Lee para calças jeans? Passaram-se apenas 65 anos e elas continuam na moda! Sejam desbotadas, rasgadas, com apliques. Inventam, pintam, enfeitam, mas elas vão ser sempre as preferidas e vai haver sempre uma ou mais no guarda-roupas de todos!
E para você que não viveu essa época mágica, deixo como lembrança uma estrofe da música “Detalhes”, do Roberto Carlos, em que ele canta: “a velha calça desbotada ou coisa assim, tudo isso vai fazer você lembrar de mim”!
Foi um tempo lindo, de profundas e sinceras amizades, deliciosas noites sentados na Praça da Matriz, grandes bailes e noitadas com os amigos dos The Johnnies (Burt, Zé Emílio, Didi, Dirceu, Bonga, Cacá, doutor Thyrso, Tatit, Paulo Guelo, Zé Erasmo, e dali para alguma serenata para ser feita para as paqueras da época! Nem sequer pensávamos em futuro!! Como diz o velho ditado: “Éramos felizes e não sabíamos”!
Acredito que fomos mais felizes, pois a felicidade completa não existe, apenas momentos felizes que vêm e duram um pouco!
É preciso aproveitar os seus momentos, ser feliz, amar a vida e as pessoas!
Até a próxima! Abraços do Voss.