Joaquim Garcia *
Iniciamos 2020 com a expectativa de mais um ano de desafios pessoais e também profissionais enormes. Promessas feitas na virada do ano… era só esperar o ano começar, sim, o ano em nosso país começa sempre após o Carnaval.
Naquele ano, um Carnaval conturbado por boatos, um certo ar de “me engana que eu gosto”. Pois é, estávamos dentro, mas nos víamos fora da maior loucura que estava para começar nas nossas vidas.
Nos escritórios, comentávamos na hora do cafezinho, o que viria acontecer, na política, esportes, promessas de ano novo, aglomeração, nossos benefícios, dificuldades de entendimento disto ou daquilo, por este ou aquele… éramos o engenheiro de obras prontas comentando a cultura e a estratégia da nossa empresa. Sim, na hora do cafezinho!
Veio o fechamento das escolas para as aulas presenciais e fomos, os pais, mães e todos, levados para casa, seja para cuidar de nossos filhos sem aulas, seja porque nossas empresas entraram no movimento do isolamento social, pela maior pandemia de todos os tempos. Demos início ao movimento do trabalho remoto, muito usado pelas grandes, as techies.
Naquele momento, deu-se início ao maior movimento de transformação das empresas, das escolas e do mundo. Aceleramos o home-office e seus desafios estruturais.
Tanto para as empresas que não estavam preparadas para o momento, quanto para as pessoas cujas casas foram transformadas em escritórios e escolas. Além, é claro, do objeto social original, de ser a casa!
Gente, o cafezinho passou a ser tomado em casa e o que aconteceria com o momento de troca de ideias, reclamações, fofocas e até feedbacks – você já parou para pensar quantos feedbacks já deu nestes momentos?… A hora do cafezinho como conhecíamos se perdia e, com ela, o que mais?
Todos contamos com a hora do cafezinho, somos os 14º consumidores de café do mundo, é nossa hora de dar uma pausa, “esfriar” a cabeça, jogar conversa fora e conversar sobre a vida, a empresa, formar um pouco da nossa percepção e absorver pouco a pouco um algo comum compartilhável – a nossa cultura corporativa ou departamental.
Conversei com diversos C-Level, recém-chegados em empresas, tentando emplacar novos valores e comunicação, e nesta revolução não tinham mais como ouvir ou dar feedbacks, saber quem é quem como somente o chão de fábrica sabe, provocar ou empurrar qualquer novo modelo de trabalho ou a “nova cultura” organizacional.
É certo que algumas empresas já estavam avançadas nesta digitalização, o trabalho remoto trouxe produtividade, suas culturas fortes e distribuídas eram presentes e “transparentes”, estavam nas veias e circulavam donas da situação.
E noutras, onde a cultura e os novos valores precisavam ser construídos, validados e disseminados, eram precisos momentos de troca para divulgá-los, fortalecê-los e distribuí-los.
O senso de pertencimento despencou, nada a ver com produtividade – segundo a Jostle and Dialectic´s, que ouviu em dezembro de 2020 profissionais de vários países –, 60% dos profissionais sentem-se mais desconectados, 77% afirmam socializar menos com seus colegas e, pasmem, 80% sentem desconexão com a cultura corporativa… O cafezinho foi para casa!
Passados 400 dias daquele 14 de março de 2020, o trabalho remoto é repensado. Sim, ele veio para ficar, mas a tendência será um misto do remoto e presencial – o modelo híbrido deverá vingar.
Trabalhar dois dias lá e três dias cá pode ser o diferencial, a tábua salvadora para o senso de pertencimento, para a cultura empresarial, pois precisamos nos conectar, socializar, e assim a cultura agradecerá. Que venha a hora do cafezinho.
* Vice-presidente de TI e transformação das Farmácias Pague Menos.