Era uma vez, um homem que vivia à beira de uma estrada vendendo cachorro-quente. Ele já não ouvia rádio, andava cansado da mesma ladainha sensacionalista e tendenciosa.
Desencantou-se também com a TV e tanta violência gratuita. Infelizmente também deixou de ler jornal. Era daqueles que não acreditava na internet, afinal há ainda muita mentira circulando pela rede – retrato da maldade humana. Ocupava-se e preocupava-se apenas em produzir e vender bons cachorros-quentes.
Prezava muito pela qualidade do pão, da salsicha, do molho e do atendimento preferencial aos seus clientes. Ele também sabia divulgar como ninguém seu produto: colocava cartazes pela estrada, oferecia em voz alta, fazia promoções e o povo comprava.
Usando o melhor pão e a melhor salsicha, o negócio não teria outro destino: prosperava. Formou uma fiel clientela. Construiu uma grande loja. Mandou seu filho para estudar na melhor faculdade do país.
Mas, o que parecia ser um conto de fadas termina por ai. Um dia o filho, já formado, retorna à casa dos pais para uma visita de cortesia. “Pai você não ouve o rádio? A cidade vai de mal a pior. O país está em crise!”.
Alarmado, o empreendedor nato deu ouvido ao filho. Com medo de tanta desgraça, resolveu economizar na matéria prima: pão mais barato, salsichas de menor qualidade, menos molho para render mais. Também decidiu parar de fazer cartazes.
A propaganda que espalhava pela estrada não existia mais. Em um mês, as vendas despencaram. E foram caindo até que o negócio quebrou. “Meu filho estava certo, estamos no pior de todos os momentos”.
A crise está presente em 99% do conteúdo jornalístico nacional. Está também presente nos assuntos nos almoços de domingo, nos campos de futebol, nos cabeleireiros, nos botecos. O que muita gente ainda não sabe é que, disfarçada, sempre ao lado da palavra “crise”, existe outra palavra chamada “oportunidade”.
Tanto é que em meio a todos os prognósticos desanimadores para 2015, os varejistas das áreas de alimentação, eletroeletrônico, têxtil, calçados, animais de estimação e farmacêutica mantiveram investimentos. Mais que isso, aumentaram o aporte de recursos.
Para economizar com a logística, planejam abrir novas lojas já que a crise deixou os alugueis em média 20% mais baratos. A Hope, fabricante de lingerie, até outubro irá inaugurar 50 novas lojas. A Renner, loja de departamentos, investirá R$ 550 milhões em novas unidades só este ano. O Grupo Pão de Açúcar, de hipermercados, inaugurou 20 novas lojas nos três primeiros meses do ano.
A Prefeitura de Tatuí vem fazendo a sua parte. Como a maior empregadora do município irá investir cerca R$ 11 milhões a mais na economia local entre junho de 2015 e junho de 2016, no comparativo com o mesmo período anterior. Esse recurso é fruto do aumento de 11% nos salários e de 8% na cesta básica dos servidores municipais.
Mais do que cumprir uma promessa e valorizar os homens e mulheres que constroem, zelam e promovem a nossa cidade, os 11% são uma resposta da nossa cidade à crise econômica já que quase 90% desse recurso são empregados aqui mesmo, no comércio local. Serão R$ 832 mil a mais todo mês.
É importante destacar, porém, que nos últimos três anos, 2013, 2014 e, agora 2015, foram 24,6% de reajuste nos salários dos servidores. Nunca, em tempo algum, os servidores receberam um acumulado tão grande de melhorias salariais em três anos consecutivos. Esse é o maior aumento, desde a estabilização da inflação, em 1994, com o Plano Real.
Trata-se do maior aumento concedido entre os municípios da região. E, por enquanto, também o maior entre as 645 cidades do Estado de São Paulo.
Cerquilho e Cesário Lange, por exemplo, deram aumento de 6,5%; Capela do Alto 6,7%, Sorocaba 7,4%, Boituva 8,1%, Guapiara está há dias com greve de funcionários municipais por melhores salários, enquanto Avaré parcelará o reajuste só da inflação em três vezes. Itapetininga não dará nenhum centavo de aumento aos servidores.
O governo do Estado também congelou os salários e não repassará nem mesmo os índices da inflação. Tudo isso, em um ano onde o STF (Supremo Tribunal Federal) desobrigou prefeituras e governos estaduais da correção inflacionária obrigatória. Deu aumento quem quis. Quem pôde. Quem se programou administrativamente para fazê-lo.
Se a receita do nosso governo já conta com ingredientes de selecionados e de indiscutível procedência, com recordes no número de creches inauguradas, de casas populares, de repasse para entidades assistenciais, de recurso para Santa Casa, de veículos adquiridos, os 11% são o nosso molho mais do que especial. Estímulo para o servidor, estímulo para o comércio. Ganham as pessoas, ganha a economia.
* José Manoel Correa Coelho, Manu, é prefeito de Tatuí. Cumpre seu quarto mandato consecutivo, sendo os três últimos como vereador. Formado em administração de empresas, está há 15 anos na vida pública. É o presidente reeleito da Fundação Agência de Bacias Hidrográficas dos Rios Sorocaba e Médio Tietê.