Da reportagem
A empresária e voluntária Rita Corradi Azevedo promove em Tatuí uma campanha contínua de arrecadação de mechas de cabelos. O material é usado na confecção de perucas, posteriormente, destinadas aos pacientes que lutam contra o câncer.
Por iniciativa própria, Rita arrecada as mechas de cabelo há mais de 12 anos no município. A ação beneficia a entidade de assistência social “Anna Marcelina de Carvalho”, vinculada ao Hospital Amaral Carvalho de Jaú, fundação da qual ela é voluntária.
Os candidatos interessados em doar podem procurar a voluntária no Banco de Sangue “Fortunato Minghini”, da Santa Casa de Misericórdia, pelo telefone 3205-1333, ou pessoalmente, de segunda-feira a sexta-feira, das 7h às 16h.
“Alguns cabeleireiros já sabem que eu arrecado as mechas e me entregam, mas as pessoas também podem deixar comigo no banco de sangue ou até mesmo levar no dia da próxima campanha de doação de sangue para o HAC, que deve ocorrer em outubro”, completou.
As mechas são levadas ao hospital pela própria voluntária e entregues à equipe da fundação, quando são realizadas as campanhas de doação de sangue em Tatuí, de três a quatro vezes por ano.
“Algumas pessoas já fizeram a doação, estou com uma caixa cheia de cabelos. No dia, a equipe vai levar para o HAC para fazer as perucas”, contou Rita.
Conforme a voluntária, as mechas devem ter, no mínimo, 15 centímetros de comprimento e podem conter química. “O ideal é cortar o cabelo com um elástico e doar a mecha inteira, dentro de um saquinho plástico”, explicou.
“Alguns tratamentos de câncer, como a quimioterapia, podem causar uma calvície temporária nos pacientes, e, nestes casos, as perucas têm a nobre missão de devolver um pouco de autoestima às pessoas com doenças graves”, salientou a empresária.
A entidade “Anna Marcelina” oferece apoio aos pacientes carentes do HAC, desde 1993, com o objetivo de humanizar o tratamento e aumentar as chances de cura dos doentes. E desde 2013 também arrecada cabelos para a confecção de perucas.
Com mais de 200 integrantes, a unidade presta assistência integral aos pacientes cadastrados, abrangendo aspectos físicos, psicossociais, religiosos, econômicos, ambientais e nutricionais, além de organizar campanhas de arrecadação de fundos para realizar atividades.
De acordo com a entidade, a ação começou com o tecelão de cabelos Benedito de Oliveira. Ele confeccionava apliques e mechas para atender à demanda do salão de beleza das filhas, em Boituva, cidade onde morava.
Em 2013, ao acompanhar a neta Lorena ao hospital do câncer de Sorocaba para alguns exames, o tecelão se sensibilizou com as crianças e jovens, que, no pico do verão, usavam toucas de lã para esconder a calvície provocada pela quimioterapia.
“Pensei: o que poderia fazer por essas crianças? Foi quando tive a ideia de fazer as perucas com cabelos naturais”, conta o voluntário.
Conforme o HAC, os cabelos doados partem de todos os lugares, grande parte pelos Correios; alguns, até com cartas ou recados.
“Estou doando o que eu mais gostava, do fundo do meu coração. Espero que você fique feliz. Meu nome é esperança e alegria”, continha o bilhete de uma doadora voluntária anônima, acompanhado de uma mecha de cabelos louros trançados e embrulhada para presente.
Para as perucas, são utilizadas 250 gramas de cabelos (cada pessoa doa de 15 gramas a 20 gramas), levando em média três horas para serem confeccionadas. No mercado, o acessório custa entre R$ 700 e R$ 1.500.
No HAC, as perucas são emprestadas a pacientes por tempo indeterminado, e há quem troque o acessório para mudar o visual durante o tratamento contra o câncer.
“Temos um cadastro das mulheres para as quais as perucas são emprestadas. Quando devolvem, as enviamos para fazer a devida higienização antes de emprestar a outra paciente”, explica a entidade.
A empresária tatuiana é engajada em ajudar ao HAC desde 2009. Após descobrir que o pai havia sido diagnosticado com leucemia, Rita conheceu a realidade do hemonúcleo do HAC.
Desde então, lidera campanhas anuais de doação de sangue e cadastro de medula óssea, contribuindo para abastecer os bancos de sangue de hospitais da região.
Logo quando o pai deu entrada na unidade de Jaú, ela e a família foram procurar onde poderiam fazer a doação para ajudar no tratamento.
Enquanto andava pelo corredor buscando informação, encontrou muitas pessoas conhecidas de Tatuí, Cerquilho e região, que se tratavam lá, e, ao questionar uma das funcionárias do local, descobriu que eram muitos pacientes e poucas pessoas cadastradas e aptas a doar sangue.
Tocada pela situação e notando a dificuldade que muitas pessoas tinham em viajar para Jaú, Rita buscou ajuda de amigos, familiares, políticos e autoridades influentes, que se engajaram na causa e conseguiram trazer a campanha de coleta para a cidade.
Em parceria com o hemonúcleo e colaboração da prefeitura, a empresária deu início às campanhas anuais, que ganham força a cada edição e também promovem a arrecadação de cabelo para o HAC. Atualmente, só em Jaú, são mais de 5.000 novos doadores, todos cadastrados nas campanhas encabeçadas por ela.
Para contribuir com as campanhas, a empresária criou uma página no Facebook (https://www.facebook.com/doe.sanguetatui), que serve como fonte de esclarecimento de dúvidas sobre o processo e para avisar os doadores da data e horário das doações.
A página também é um canal de comunicação com a voluntária e fornece informações sobre cadastro de medula óssea, doação de cabelo e outras ações mantidas pela empresária, no município e na região.
“Minha maior motivação é ajudar o próximo. Temos que ser mais humanos com as pessoas. Hoje em dia, está tudo mundo muito estranho, e a gente tem que começar a mudar, mostrar que ainda tem gente boa”, conclui Rita.