A boa e má velha imprensa





Embora a partir de objetivos distintos, coincidentemente, os dois artigos que compõem esta página, em boa parte de seus conteúdos, abordam a atuação e influência da imprensa na sociedade. Colocam-na, contudo, em posições opostas.

Talvez a divergência justifique-se, em parte, quando observada a época em que a imprensa é focada: sob a ditadura, em um texto, e na atualidade, em outro. Mas, teria a imprensa mudado tanto, ou seriam os interesses políticos a sustentar outras motivações, não raro resumidas à manutenção do poder.

Neste sentido, o antigo regime de exceção, tido como de “direita”, e o atual, supostamente de “esquerda”, são absolutamente iguais: não aceitam o contraditório, não querem oposição, seja de que natureza for. Por consequência, a imprensa precisa ser censurada e desacreditada.

Antes, era simples: nada podia ser publicado sem a autorização do regime. Censura pura e simples, praticada pelo governo de direita. A esquerda, então, tinha a mídia como vítima e aliada contra a ditadura.

Na atualidade, muito e, ao mesmo tempo, nada mudou. É outra a suposta ideologia do governo (suposta, porque as práticas pouco se alteraram, salvo a distribuição de renda pelos programas sociais, generosos na porta de entrada e sem fim de túnel, sempre com sua luz focada nas urnas).

Era de direita e, agora, de esquerda, a mesma que lutou contra a censura e, no momento, acusa a imprensa de sensacionalista, oportunista, parcial… Outra mudança, portanto, embora sutil: da censura prévia e ostensiva às tentativas de desqualificação e “regulamentação” pelo estado.

Do ponto de vista da imprensa, sem olhar para os lados, esquerda ou direita, pouco mudou – sendo que a poderosa indústria dos danos morais já dá cabo de garantir a manutenção da censura prévia, pelo receio de indenizações exorbitantes.

Quando convinha para um dos extremos, a imprensa era “do bem”. Bastou ganhar o poder e, de repente, a mídia passa a ser a causa do “mal”. É quase hilário notar que, no momento, alguns dos defensores da liberdade de expressão e de informação sejam muitos dos antigos “reacionários” da direita. Coisas da política…

Sim, antes que apontem alguns veículos que se beneficiaram com a ditadura – tal como outros se beneficiam, hoje, com o governo “progressista” -, é justo reconhecer a pluralidade de posturas e intenções, como tudo e junto a todos no mundo.

Ou seja, há TVs e rádios, particularmente – até porque concessionárias do governo -, que nasceram e se fortaleceram sob o regime militar – feito outras que ganham corpo com a mesma receita na atualidade.

No entanto, mesmo para elas a realidade mudou, com uma e outra pedindo desculpas públicas pelo apoio aos militares.

Também é preciso lembrar que, na maior de todas (tida como a mais malévola pela juventude “lobotomizada” pela esquerda nas faculdades de comunicação), atua lá, entre tantos outros, um jornalista como Caco Barcellos, já jurado de morte pela Rota, devido a reportagens denunciando execuções sumárias pela polícia.

Nos jornais – como no maior do país -, há diversos colunistas, externando opiniões diametralmente opostas, todos os dias. Mas, nem por isto aquela que era boa, agora, deixa de ser ruim…

Isto implica na indução de que as grandes corporações de comunicação seriam todas boazinhas, sem qualquer interesse financeiro, inclusive? Não. E nem precisa ser assim.

Lucro todos querem. Nada de mal nisto, desde que o alcancem sem desonestidade. E a imensa maioria assim age. Insinuar o contrário, no mínimo, é ofender a toda uma profissão de maneira generalizada.

No mais, cabe ao cidadão – telespectador, radiouvinte, leitor – fazer uso do bom senso para avaliar quem mais merece sua confiança, deixando de lado os veículos de credibilidade suspeita.

Aqui, vem mais uma semelhança entre a política em geral, que não tem lado, somente o dela própria. Todos, de esquerda e direita, entendem que o povo é ruminante, sempre tocado feito rebanho para o lado que bem a mídia quer.

Fosse assim, num simples exemplo, a presidente Dilma não teria sido eleita novamente, dada a saraivada de denúncias contra o partido dela ao longo da eleição.

O pessoal da oposição pode argumentar que a reeleição se deve ao Bolsa Família – e pode estar certo. Porém, se estiver, é necessário reconhecer que o tal “quarto poder”, na atualidade, já não é a imprensa, senão o benefício de distribuição de renda e recolhimento de votos governamental.

Na dúvida, fica a convicção de que, pelo olhar do poder, quando publica fatos que não convém, a imprensa não o faz por ser sua função, mas porque está mancomunada num imenso complô contra os benfeitores do estado – antes, o da “soberania e civismo” e, hoje, o do “bem-estar social”.

A bem da verdade, o Brasil nunca foi assim tão soberano, tampouco possui verdadeiro bem-estar, mas, sempre, esteve e está sujeito às manipulações. Resta saber se muito mais pela tal maquiavélica mídia, ou muito mais pela politicada, da extrema direita à sectária esquerda.