Novas esperanças para a diminuição da praga da dengue se voltam, agora, para cinco laboratórios, sendo os mais adiantados na corrida a multinacional francesa Sanofi, que trabalha com o vírus tratado da febre amarela com extratos de cepas da dengue, e a GSK britânica com o Instituto Osvaldo Cruz (RJ), que pretende iniciar os testes em humanos até o fim deste ano. Há ainda pesquisas avançadas no Instituto Butantã (SP), mas que jogam para 2018 a expectativa de uma vacinação em massa.
Os laboratórios mais adiantados trabalham para que a vacina comece a ser usada ainda neste verão, época em que aumenta a incidência de casos. Mesmo assim, a eficácia prevista é de 61%, não erradica a doença e menos ainda o Aedes aegypti, mosquito que serve de hospedeiro à dengue (dados: “Folha de São Paulo”, 6 de abril, D5). Regiões mais pobres e com populações menos esclarecidas, ou ainda despreparadas para esses programas de vacinação serão as mais penalizadas. A vacina protegerá com algum resultado compensador os humanos inoculados, mas não acabará com o Aedes ou, mal maior, a dengue.
Como não há qualquer perspectiva de erradicação do vírus, por enquanto, juntamente com os esforços empreendidos nas pesquisas para uma vacina que imunize em massa, há que se prevenir, adotando conjuntos de medidas preventivas em Estados e municípios: evitar acúmulo de água parada, pneus e quaisquer objetos expostos que possam servir de criadouros de larvas, deixar piscinas e tanquinhos clorados e limpos.
Quanto ao uso de produtos químicos no corpo, há riscos e deve ser objeto de cuidado: o uso de repelentes químicos diariamente em crianças, conforme vemos em matérias na imprensa e postagens nas redes sociais, assim como as velhas espirais fumegantes e similares improvisados, obviamente trazem malefícios à saúde (há produtos repelentes naturais para a pele à base de óleo de amêndoas, cravo e essências).
Ajudam ainda telas nas janelas, ventilador ligado (quando a temperatura permite) e outras prevenções muito mais saudáveis do que qualquer opção química. Do lado alternativo, há experiências orgânicas já bem sucedidas e baratas, ainda em início de uso, como a crotalária (do lat.: “crotalaria pumila”), arbusto que pode chegar a mais de 2,5 m de altura e tem a capacidade de atrair predadores do Aedes, como certa espécie de libélula, que se aproxima do mosquito infectado, por sua vez atraído pela planta. Essa, se perto de água, também aproxima a libélula das larvas do mosquito ali depositadas.
Se não há estudos científicos que determinem com maior precisão a eficácia (e em qual proporção) a ação da crotalária, ao menos se tem certeza de que ela pode ser um coadjuvante a mais no controle da doença. Algumas espécies de crotalária são conhecidas no Nordeste do Brasil como chocalho ou xique-xique, uma vez que suas sementes são bastante úteis na confecção de caxixis e outros instrumentos rudimentares de percussão.
Também há espécies tóxicas da planta, como a “mucronata”, que pode ser nociva para o gado bovino e, claro, seres humanos, razão pela qual a aquisição de sementes deve ser cuidadosa. A “crotalaria madurensis”, de origem indiana, é um conhecido fungicida e antibacteriano, cujo efeito é semelhante ao da “crotalária juncea”, abundante no Brasil.
Pelo lado mais saudável do combate à dengue e outros insetos e ratos, chegam ao país os repelentes eletrônicos. O tipo eletromagnético (EM) é condenado por causa da emissão de micro-ondas nocivas, como as que emitem celulares e redes elétricas de altíssima tensão.
O tipo ultrassônico é o mais popular, barato e eficiente, e a explicação é simples: o ser humano pode ouvir de 20 a até 20 mil Hz – Hertz -, medida de frequência. (músicos sabem disso! A 8.000 Hz, perto da última nota aguda do piano, minha audição, acometida por lesão moderada pelo exercício profissional, a chamada Pair, já perde 70%).
Nem pássaros nem animais domésticos – e, claro, bebês especialmente – podem ouvir emissões de ultrassom que atingem gafanhotos, entre 50 a 100 mil Hz, ainda bem longe dos 150 mil Hz emitidos por morcegos e sentidos por mariposas e traças.
Nessa faixa acima de 20 mil Hz, chamada ultrassom, trabalham esses pequeninos aparelhos repelentes e inibidores de acasalamento de insetos como o Aedes aegypti. Há controvérsias sobre os efeitos em diversos estudos feitos nos EUA, mas a prática quase sempre confirma os resultados.
Um desses pequenos aparelhos custa pouco mais de R$ 20, se comprado em grandes lojas, ou pela Internet, em sites confiáveis. Não usam refil ou produto químico algum, são absolutamente inaudíveis e inofensivos e têm um consumo ínfimo, algo como 0,0005 W, ao custo mensal, se ligado 24h/dia, de R$ 0,18 – para se ter ideia, seriam necessários 200 desses repelentes ligados ao mesmo tempo para chegar ao consumo de uma lâmpada de 100 W.
O modelo ultrassônico foi criado em 1962 nos EUA, e teve a primeira patente registrada em Minnesota em 1963. Para os que quiserem procurar e eventualmente comprar um desses aparelhos, vale buscar sites confiáveis e prestar atenção na avaliação dos usuários para cada modelo anunciado.
Já venho usando três desses repelentes, que devem se popularizar no país juntamente com outros métodos preventivos e profiláticos contra a dengue. Há quase duas semanas não ouço um zum-zum incômodo sequer, e por isso durmo tranquilo, até porque o fantasma da doença parece a porta do inferno, mas o diabo que o anuncia atende pelo nome de zumbido.