Como no restante do país, a manifestação de protesto contra a política promovida em Tatuí, domingo passado, 15, reuniu uma gama extensa de reivindicações, algumas justas e coerentes; outras, de difícil entendimento, quando não estapafúrdias.
Os manifestantes pediam desde a saída da presidente até a volta da monarquia. Jovens e adultos compareceram ao evento, agendado pela internet.
Saindo da Matriz, os manifestantes passaram pelas ruas 11 de Agosto, 7 de Abril e 15 de Novembro, encerrando o ato em frente ao paço municipal.
A Polícia Militar estimou em cem a quantidade de manifestantes – a maioria deles com roupas nas cores verde e amarela (em alusão à Bandeira Nacional e ao nome do movimento “Tatuí de Verde e Amarelo”). Os organizadores divulgaram que o ato reuniu perto de mil pessoas.
Independentemente da quantidade, é importante destacar as boas e mais esclarecidas intenções, como a da aposentada Maria Aparecida Falconi, de 86 anos. Sentada em uma cadeira de rodas, ela compareceu ao protesto acompanhada por familiares e com um cartaz.
“Fiz questão de participar porque sou cidadã brasileira, estou insatisfeita e vendo que a renda está caindo e a inflação, subindo. Estou apavoradíssima”.
No cartaz, Maria Aparecida pedia a “expulsão de corruptos” e escreveu que queria “um Brasil melhor antes de morrer”.
No escopo das palavras de ordem, infelizmente, soou mais o tal de “Fora, Dilma”. Com todo o respeito ao direito de opinião, seria muito mais produtivo a população insatisfeita considerar que isso, neste momento, colocaria a democracia brasileira seriamente em risco.
É verdade que uma parcela de pessoas quer, até, a volta de uma ditadura e, portanto, esse discurso do “fora” vem a calhar. O problema é que ele ecoa na boca de outros que, apenas, querem – com razão – o fim da corrupção no país, não as amarras de um regime totalitário.
No entanto, quando se deixam levar por esse discurso, sem perceber, estão servindo como “massa de manobra”. Pensam que estão fazendo valer seus direitos, quando, na verdade, fazem papel de ingênuos, manipulados por espertalhões.
Basta considerar que a corrupção, certamente, não se extinguiria caso a presidente fosse deposta. Também, o desmando não se trata de infeliz exclusividade partidária, como se o expurgo de uma ou duas legendas do poder fosse tornar o país um oásis de honestidade.
Novamente, basta observar que Estados administrados por partidos de oposição ao governo federal também têm problemas – muitas vezes soterrados até debaixo do metrô…
A corrupção é algo intrínseco à história brasileira, cujo melhor combate, visando-se ao futuro, precisa começar pela educação agora e, para breve, com uma reforma política real.
Seria infinitamente melhor, portanto, que, as invés de a população se permitir ficar dando margem a sectarismos que põem em risco a democracia, ou se deixe levar pela possibilidade de entronar Michel Temer na presidência, que reivindique com mais informação e cuidado.
Algumas das reivindicações que poderiam, de fato, contribuir seriam as pautadas no financiamento público de campanha e no voto distrital. Não acabariam com a corrupção, mas, certamente, ajudariam a diminuí-la em muito.
Por conta disso, novamente, é positivo focar atitudes corretas, como a do manifestante Arcanjo Emanuel de Souza Fernandes, que chegou a conduzir o protesto, alegando que a intenção dos participantes era de “fortalecer a democracia”.
“Não sou o organizador, mas assumi o comando porque não tinha ninguém para ‘tomar as rédeas’ e para evitar baderna”, declarou.
Dizendo-se cansado dos escândalos, Fernandes afirmou que a maior lição que os manifestantes querem deixar para os políticos é a de que o povo “está de olho neles”. “O Brasil é grande. Nós somos mais fortes. Ninguém quer baderna, ou coisa forçada como o militarismo”, enfatizou.
Com a cara pintada, uma jovem de 14 anos participou pela primeira vez de um protesto. A estudante afirmou que foi às ruas para que o Brasil “possa ficar melhor”.
Victor Villar, 23, também esteve entre os que pintaram o rosto. O jovem adicionou um nariz de palhaço, em alusão ao que considerou ser a imagem que a atual classe política tem da população brasileira.
“No nosso cotidiano, temos novas notícias de roubalheira e corrupção, e o povo está cansado disso. Independente do que vai rolar, o que vai acontecer nos próximos meses, o povo está cansado e não aguenta mais apanhar”, declarou.
Realmente quem apanha tem direito de reclamar e de se defender. Justo e necessário. É urgente, entretanto, saber fazer isto, com objetivos definidos e organização. Caso contrário, as consequências podem ser ainda mais doloridas.
Portanto, Dilma, fica aí, para de discurso e faz logo a reforma política, antes que a casa caia.