José Renato Nalini *
Além do número de mortos pela Covid19 aproximar-se do meio milhão, sem redução significativa do número de óbitos ou do nível de contaminação, o Brasil registra em abril novo recorde no desmatamento da Amazônia.
Evidência de que o “soltar a boiada” não era figura retórica. Foi uma liberação geral aos exterminadores do futuro, que destroem o maior patrimônio brasileiro. Justamente aquele que não resulta da ação humana. Dádiva natural, resultante de milênios de profícuo trabalho da natureza, é destruído com fogo, motosserra, correntes acionadas por possantes tratores.
A redução da cobertura vegetal na Amazônia já causa evidentes prejuízos a todo o Brasil. O regime de chuvas no Sudeste está profundamente alterado. Haverá seca até pelo menos novembro. As reservas d’água para a vida na região mais densamente povoada estão no limite, chegam aos índices de 2014.
Enquanto isso, promete-se reduzir o desmatamento junto ao presidente Biden, cujos primeiros cem dias de mandato já deram uma cara nova aos Estados Unidos e reacenderam a esperança mundial de dias menos tenebrosos.
Como é que os Estados Unidos poderão acreditar nessa promessa brasileira, se nenhuma providência prática se adotou para comprovar a intenção do governo tupiniquim?
É evidente que o Brasil não recuperará sua reputação internacional se continuar a tergiversar, a manter desmanchadas as estruturas protetivas do ambiente, a deixar impunes os criminosos que acabam com o verde, fazem grilagens, invadem terras indígenas e reservas florestais para um garimpo ilegal e assassino.
Mais do que interromper a sanha delitiva, é preciso reparar os prejuízos. Para isso, coordenar ações que não dispensem, ao contrário, que sejam chamados a colaborar, governos estrangeiros, as organizações governamentais e a cidadania que não pode permanecer inerte ante a chacina ecocida.
Impõe-se reação compatível da inteligência patriota. Da Academia, da Universidade, dos cientistas, do Terceiro Setor e, principalmente, da infância e da juventude, que serão as primeiras e mais lesadas vítimas desse pesadelo ecológico instaurado num Brasil que já foi verde.
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.