Não fosse por um motivo trágico – a maior pandemia mundial em mais de um século -, seria até entretenimento divertido acompanhar a CPI da Covid, feito um programa de comédia, dado carregar em excesso uma das maiores características deste gênero da ficção: a ênfase no caricatural.
Há personagens tão estereotipados a muito bem justificar o enredo da comissão como uma paródia parlamentar da humorística Sucupira, criação já clássica de Dias Gomes, “O Bem Amado”, inspirada na política nacional.
Há um grande chefe que, aparentemente alheio à dor da população, parece torcer mesmo pela morte, embora não para inaugurar cemitério, como na obra do grande dramaturgo, mas para enfiar cloroquina goela abaixo dos infectados, na busca de aplausos – e ou futuros votos.
Além da morte prematura dos sucupirenses-brasileiros, tratada como números – como se cada perda não representasse a partida de um ente querido em cada família enlutada -, pouco importa o bom-senso, a opinião da grande maioria da comunidade médica e, no caso, a unanimidade com relação às medidas básicas de prevenção.
Tal a ficção, no atual drama cuja cena mais pitoresca desenrola-se no Senado brasileiro, sobram mexericos, à moda das irmãs Cajazeiras, além de argumentos e posturas estapafúrdias, a partir de uma tropa de Dirceus Borboletas.
Como enredo central da trama, abundam as contradições e mentiras, por parte de uma série de Zecas Diabos, chamados não para matar, mas para “deixar morrer”.
A afirmação poderia ser entendida como exagerada – e servir até a alguma ação judicial dessas que já usam sem cerimônia a tacanha Lei de Segurança Nacional para impor novamente a censura no Brasil -, mas não é excesso, tampouco calúnia, injúria ou difamação.
A “opção” (vamos chamar assim, para amenizar) por “deixar morrer” é plenamente justificável pelo fato – já evidente e indiscutível – de que a falta de interesse pelas vacinas (essa busca, sim, que deveria ter sido precoce) acabou causando a morte de milhares de pessoas.
Esse crime, cujo montante de vítimas ainda ninguém se arrisca a calcular, certamente vitimou dezenas de milhares, no mínimo. Odorico Paraguaçu riria de satisfação, inaugurando seu cemitério com pompa e aglomeração; o Brasil, contudo, chora a cada dia – pelo menos aquele que ainda guarda um pouco de humanidade.
Um aspecto, no entanto, apreende-se da CPI: justamente a importância fundamental da vacinação para o efetivo combate à Covid-19.
Mesmo os mais aborboletados, antes indiferentes à imunização, ou as autoridades calçadas em seus coturnos de soberba, que não costumam dar satisfação aos sucupirenses, ao zé povinho civil, não têm mais coragem de colocar-se contra a imunização, tampouco negar ser ela o único meio seguro e real no caminho de volta a uma vida relativamente normal.
Diante disso, na semana passada, o jornal O Progresso deu início a um acompanhamento mais específico quanto à vacinação, indicando não apenas o total de doses aplicadas, mas também as variações semanais e a porcentagem da população já imunizada com a primeira e a segunda dose.
Com publicação no domingo anterior, a reportagem considerou os boletins de semanas concluídas entre segunda-feira e domingo. Naquela oportunidade, portanto, os números seguiram até o dia 23 de maio (sendo atualizados, nesta semana, até o dia 30).
Assim, a notícia informou que a média de habitantes tatuianos imunizados contra o novo coronavírus, entre janeiro e maio, havia ultrapassado o percentual nacional de vacinação contra a doença e aparecia na primeira colocação do ranking entre os dez municípios da RMS (Região Metropolitana de Sorocaba) que mais vacinaram.
Com base nos dados divulgados pela Vigilância Epidemiologia, apurou-se a média de 2.400 pessoas imunizadas por semana, entre 21 de janeiro (início da vacinação) e 23 de maio.
No período, o órgão da Secretaria de Saúde totalizou a aplicação de 40.260 doses das vacinas Coronavac e da Oxford/AstraZeneca, sendo 27.503 equivalentes à primeira dose e 12.757 à segunda.
De acordo com estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Tatuí tem 122.967 moradores. Ou seja, a imunização havia atingido 22,36% da população com a primeira dose e 10,37% com a segunda.
Desde então, a semana com menor número de pessoas vacinadas foi a de 22 a 28 de fevereiro, com 325 doses aplicadas (270 da primeira e 55 da segunda).
Já a semana com maior imunização tinha ocorrido de 19 a 25 de abril, atingindo 5.350 pessoas, sendo 2.863 com a primeira dose e 2.487 com a segunda.
Em percentual, considerando os dados divulgados pelo consórcio de veículos de imprensa, os números locais estavam acima do cenário nacional.
Conforme o balanço, com informações consolidadas na semana anterior, 21.214.582 brasileiros haviam tomado a primeira dose de vacinas contra a Covid-19 e 42.991.742, a segunda, o que correspondia, respectivamente, a 10,01% e 20,30% da população – estimada em 211.755.692.
No “Ranking de Vacinação” do governo de São Paulo, considerando os dados da semana anterior, o município aparecia na 372ª posição entre os que mais imunizaram a população nos cincos meses.
Já na análise entre as dez cidades de porte equivalente da RMS, em relação à primeira dose, no mesmo período, Tatuí alcançava 22,81% da população, com 28.044 aplicações (até o dia 25 de maio).
O índice era maior que o de Itapetininga (22,69%), Itu (22,13%), Salto (20,92%), Porto Feliz (20,79%), São Roque (20,78%), Piedade (20,4%), Sorocaba (18,96%), Votorantim (17,87%) e Boituva (17,11%).
O governo do estado disponibiliza o percentual de vacinação em cada município de São Paulo em relação à população local. A ferramenta digital foi desenvolvida em parceria entre as secretarias estaduais da Comunicação, Saúde, Desenvolvimento Regional e a Prodesp.
O balanço está disponível na sessão “Vacinômetro”, pelo link: www.vacinaja.sp.gov.br/vacinometro, no botão “Ranking de Vacinação”. O serviço é alimentado com as informações do Vacivida, plataforma digital integrada que monitora toda a campanha de vacinação contra a Covid-19 no estado.
Definitivamente, frente ao desvendar da trama “insanitária” do país, as personagens caricatas vão sendo desvendadas, bem assimiladas pelo público – pela população, melhor dizendo -, perdendo rapidamente, por conseguinte, a capacidade do engodo, de ludibriar o povo.
Na ficção, o político insano e insensível acabou levado à cova pelo assassino que ele próprio chamara para inaugurar o cemitério matando algum sucupirense desavisado.
Com a morte, Odorico Paraguaçu, de vilão acabou mártir; se der sorte em seu enredo dramaticamente real, seria extraordinário ao país que, de supostos “mártires”, finalmente fossem reconhecidos e punidos os verdadeiros vilões.