Uma das coisas mais difíceis na vida é tentar dialogar ou nos aproximar de quem não está disposto, de forma alguma, a este movimento conciliatório. Isso, em todas as situações – quer no plano familiar, nas amizades, no trabalho. Parece que algo maior impede tais pessoas de um gesto superior em nome da paz, da construção ou até do reconhecimento daquele que, por inúmeros motivos, estende a mão e quer, sim, dialogar.
Eu mesmo já enfrentei várias vezes a postura de pessoas refratárias ao diálogo. Mas, por mim, tenho a consolação de que tais comportamentos são universais e não apenas interpessoais. Isso ocorre também, e principalmente, no âmbito da política internacional, de modo que podemos, diante da história, aferir que muitas das desavenças provocadoras de guerras mundiais ou locais se deram em razão deste espírito de fechar as portas ao bom entendimento.
No mundo pós-contemporâneo, podemos observar essa postura nas relações do Oriente Médio, onde Israel tenta o diálogo. Enfrenta, porém, o fundamentalismo daqueles que querem defender seu ponto de vista por meio da violência, o que, é claro, acaba gerando violência da parte contrária, legitimada pela proteção do Estado Judeu.
No Brasil, estamos vendo algo que jamais poderíamos imaginar que ocorresse na nossa jovem democracia. A oposição, ao exemplo dos radicalismos incoerentes, não está disposta ao diálogo, à união, ao entendimento e, o pior, faz de tudo para que a primazia na construção de um Brasil mais unido – como o apregoado pela presidente Dilma – seja desmantelada, desconstruída, simplesmente porque existe uma infantilidade democrática em não aceitar a derrota numa eleição democrática. Observamos hoje um Brasil em que parte da população, principalmente no Sul e no Sudeste, expõe nas redes sociais seu preconceito e intolerância aos nossos queridos irmãos nordestinos, algo inconcebível no âmbito de uma democracia saudável e madura.
O Brasil é um só e todos temos o dever de contribuir para sanar obstáculos, combatendo a corrupção, os gastos públicos e a inflação. Tal empreitada, entretanto, deve ser feita a partir da união, com respeito à democracia, às diversidades regionais, às diferenças e, acima de tudo, mantendo-se um patriotismo constitucional.
Sei como é difícil conversar com alguém que não quer “papo” com você, como disse há pouco. Eu mesmo, muitas vezes, não consegui. Mas, quem sabe, os articuladores políticos do Congresso, os interlocutores entre governo e oposição, consigam. A presidente Dilma já estendeu as mãos, assim como eu e tantas pessoas nesse mundo já fizemos. Confesso que não tive sucesso, fracassei, pois, talvez, não seja suficientemente habilidoso. Em relação ao Brasil, todavia, sou otimista. Sei que a união vencerá o ódio e, enfim, acabaremos com essa história triste apregoada por alguns de que agora “Não quero ‘papo’ com vocês”… Vamos, sim, bater papo com todos e construir um Brasil fraterno.
* Advogado, jornalista, mestre em direitos fundamentais, membro efetivo da Comissão de Direitos Humanos OAB-SP