Dr. Hyun Seung Yoon
Com recordes diários de vítimas, hospitais superlotados e a falta de uma estratégia unificada de combate à pandemia do coronavírus no Brasil, não é de se admirar que haja tantas informações desencontradas e questionamentos quanto à eficácia das medidas implementadas ou à não adoção de medicamentos supostamente efetivos contra o vírus.
Ao mesmo tempo que uma parcela da população se considera invulnerável à doença ou até mesmo duvida de sua existência, negligenciando as recomendações das autoridades sanitárias, outros acreditam em medicamentos ou receitas que impediriam o contágio pelo coronavírus, ou em caso de contágio, a progressão para a doença ou formas mais graves (os tratamentos precoces), apregoando até o uso profilático destas drogas, vitaminas (como a vitamina D) ou certos alimentos.
Isto significa que devemos profilaticamente fazer uso de vermífugos, antimaláricos, corticóides ou altas doses de vitamina D? A resposta é um retumbante não!
Apesar de algumas terem apresentado resultados preliminares promissores em testes “in vitro” no laboratório, nenhuma delas realmente mostrou eficácia quando testada em grandes grupos de voluntários contra placebos (comprimidos falsos com farinha ou outro material inerte), ou seja, o número dos que adoeceram ou permaneceram sadios foi praticamente o mesmo em ambos os grupos, tomando farinha, hidroxicloroquina, ivermectina ou azitromicina.
Os corticóides demonstraram efetividade na melhora de quadro pulmonar grave em pacientes com Covid-19, assim como o uso de medicamentos anticoagulantes, mas por reduzirem a coagulação sanguínea, os anticoagulantes aumentam o risco de sangramento espontâneo.
Os corticóides são imunossupressores e diminuem a capacidade do sistema imunológico em combater o coronavírus. Além disto podem agravar o diabetes, a pressão arterial e prejudicar a função renal.
Num paciente grave, os efeitos colaterais destes medicamentos se tornam um risco aceitável na tentativa de salvar a vida do doente. Em pacientes assintomáticos ou em quadros leves, simplesmente os riscos superam quaisquer supostos benefícios.
A vitamina D, ou colecalciferol, é na verdade um hormônio e não uma vitamina, porém a classificação errônea se manteve pelo uso consagrado.
É fundamental na regulação do cálcio e metabolismo ósseo. Sua deficiência está relacionada com maior vulnerabilidade às infecções respiratórias e não apenas na Covid-19.
Altas doses da vitamina D não demonstraram qualquer benefício em indivíduos com níveis normais ou levemente deficientes. O excesso de vitamina D pode piorar a osteoporose, além de causar hipercalcemia e hipercalciúria (excesso de cálcio no sangue e na urina), com riscos de insuficiência renal, crises convulsivas e morte.
Não existe uma barreira simples e prática que impeça o vírus de nos contaminar? Ou vitaminas ou medicamentos que possam realmente impedir que adoeçamos? Como podemos nos proteger do coronavírus?
Na verdade, as respostas já são conhecidas, e apesar da relutância de muitos em aceitar, são amplamente defendidas pelos infectologistas, especialistas em saúde pública e pela Organização Mundial de Saúde (OMS ou WHO):
- Distanciamento social
- Máscaras
- Higienização das mãos
- Vacinas
Como o coronavírus se dissemina através de secreções respiratórias e fluidas corporais, como as gotículas de saliva ou de secreção nasal e pulmonar expelidas ao tossir ou espirrar, o distanciamento social é o meio mais efetivo de prevenção. Na impossibilidade de isolamento, distâncias mínimas de separação e barreiras físicas podem minimizar o risco de contágio.
O uso de máscaras reduz tanto o risco de um doente propagar o vírus quanto o de um indivíduo sadio contraí-lo, portanto é importante que todos usem máscaras e de forma adequada.
De preferência máscaras profissionais (cirúrgicas ou PFF2/N95 sem válvulas), mas na inviabilidade destas por razões de custo ou indisponibilidade, máscaras de tecido, com mais de uma camada de barreira.
No mesmo raciocínio, devido ao risco de contato com superfícies contaminadas com gotículas respiratórias, é importante higienizar frequentemente as mãos e se possível complementar a antissepsia com álcool gel, além da limpeza do ambiente.
Por fim, temos as vacinas. Elas não impedirão que um indivíduo vacinado sofra o contágio, mas por fortalecer e preparar antecipadamente o sistema imunológico contra o vírus, podem evitar que o contágio progrida para infecção ou doença, reduzindo o número de infectados com potencial de propagar ainda mais o vírus, de doentes graves e de mortes, diminuindo a demanda pelos prontos-socorros e hospitais, evitando a sobrecarga e colapso do sistema de saúde pública.
Todo este conjunto de medidas são fundamentais no combate à pandemia, para reduzir a circulação do vírus na sociedade e evitar o surgimento de novas variantes.
Se apresentar qualquer sintoma gripal ou suspeito, procure atendimento médico.
* Gerente médico do ClubSaúde