Quem vai entender este mundo, este momento em que vivemos? Sem dúvida, este período será objeto de estudos ad infinitum e com um mínimo de clareza somente daqui a décadas, senão séculos!
Como pudemos superar esta crise da Covid-19 (porque devemos superá-la um dia)? Como os brasileiros conseguiram se enterrar nesse atoleiro político: paranoico, agressivo, insensível, irracional e idólatra da morte? É questão para os estudiosos do futuro.
No momento, não obstante, cabe buscar justamente proteger-se contra a doença e superar os extremismos, pelo bem de todos. Esperar que as tais autoridades resolvam sozinhas seria quase o mesmo que aceitar as fatalidades, seja a perda do emprego, da empresa ou da própria vida.
Já é explícito quem, nas instâncias do poder, está realmente trabalhando contra a pandemia e a favor da menor perda possível na economia – que depende, indubitavelmente, da vacinação em massa.
Quem se recusa a aceitar essa realidade ou é por demais mal informado ou francamente mal-intencionado – o que, ao cabo da má esperança, tanto faz diante dos interesses do país, prejudicado de qualquer forma.
Há muitas incógnitas ainda no presente, sem perspectiva de mínimos esclarecimentos. No futuro, contudo, quando tiverem início os estudos sociológicos de nosso caótico tempo, um aspecto há de se ressaltar sem qualquer dúvida: a incoerência.
Mostra disto sobressaiu-se por meio da enquete promovida pelo jornal O Progresso em seu portal de notícias (www.oprogressodetatui.com.br), espaço de indicações de tendências já figurado em editorial na semana passada.
Nele, celebramos o fato de que, em apenas dois meses, o interesse pela vacinação em Tatuí atingiu cerca de 80%, partindo dos 67% aferidos em janeiro – o que, em suma, implicaria na ineficácia da campanha de imunização.
Já nesta semana, o resultado suscitou novo motivo de alento, embora de maneira um tanto estranha: aproximadamente 90% dos participantes da pesquisa assinalaram ter “medo” de precisarem de atendimento na UTI pública e não o conseguirem – cientes, portanto, acerca da possibilidade, terrível e trágica, de irem a óbito por falta de tratamento adequado.
Antes, os fatos, conforme publicados em reportagem na edição desta quarta-feira, 17. Já na segunda-feira, 15, o governo paulista informou que a ocupação de leitos de terapia intensiva chegava à capacidade máxima em 63 dos 645 municípios paulistas, e a situação não era diferente em Tatuí.
A ocupação dos leitos de UTI da Santa Casa, destinados ao tratamento de pacientes com Covid-19 ou suspeita da doença, seguia em 100% desde quarta-feira da semana retrasada, 3.
Já a ocupação referente aos leitos clínicos para o tratamento de pacientes suspeitos ou positivos para a doença também já era preocupante, com lotação máxima desde sexta-feira da semana passada, 12.
Por sua vez, embora não se some aos leitos públicos, também o hospital particular da cidade tem se desdobrado para atender aos pacientes, sem folga em sua UTI e nos leitos clínicos – indicando que a população como um todo, mais abastada ou menos, pode enfrentar as mesmas dificuldades para internação.
A O Progresso, a secretária municipal da Saúde, Tirza Luiza de Melo Meira Martins, informou que, inicialmente, o hospital público tatuiano tem 14 leitos de UTIs. No entanto, ela lembra que a cidade possui 40 respiradores pulmonares, cada um representando um leito público de UTI disponível.
Atualmente, há respiradores na UPA (unidade de pronto-atendimento) e no Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, distribuídos tanto nas UTIs destinadas ao atendimento do novo coronavírus como para outras patologias.
Conforme Tirza, a pasta tem adaptado leitos extras para auxiliar no tratamento dos pacientes internados com Covid-19 ou suspeita da doença, atendendo às demandas diárias. “Os respiradores podem ser realocados nas UTIs, conforme a necessidade”, reforça a titular.
A despeito dos esforços, a situação vem se agravando, com a crescente disseminação do vírus. O secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, lembrou que, em 22 de fevereiro, na Grande São Paulo, a taxa era de 68,8% em relação às UTIs. Já no estado, ressaltou, estava em 66%, com um total de 6.410 pacientes em UTIs.
Decorridas três semanas, observou o secretário, essa taxa de ocupação no estado passou a 88,9% e, na Grande São Paulo, a 90%, tendo 10.244 pacientes internados em leitos de UTI.
“Isso significa um aumento de 3.834 pacientes em relação a três semanas atrás. Portanto, uma média de 180 novos pacientes diariamente sendo acolhidos pelo nosso sistema de saúde”, acentuou, durante entrevista coletiva do governo estadual.
Ele informou que, em relação ao pico da primeira onda, com o máximo de 6.250 pacientes, o incremento no número de internados já atingia 63,9%, em salto de dez pontos percentuais em relação à semana passada.
Em virtude do agravamento da crise, como todos sabem, na segunda-feira, 15, o estado de São Paulo entrou na chamada fase “emergencial”, com restrições de circulação muito mais severas.
Trata-se de medida muito indigesta, “impopular”, embora inevitável. Vale observar que, um dia antes, no domingo, 14, Tatuí havia registrado 47% de isolamento social, de acordo com o Simi- SP (Sistema de Monitoramento Inteligente). Na data, a porcentagem representou a quarta pior da RMS (Região Metropolitana de Sorocaba).
No mesmo dia, somente Salto e Sorocaba, com 46%, e Itu, com 45%, tiveram taxas inferiores à tatuiana. Votorantim e Itapetininga empataram com 49% de isolamento; já São Roque, Boituva e Porto Feliz registram 51%. A melhor taxa foi a de Piedade, com 55% de isolamento.
O curioso em meio a tantos números, o inusitado quanto ao posicionamento da população – entre outros aspectos de difícil compreensão – é que, claramente, muitos ainda resistem ao isolamento social e um tanto ainda não aceita a vacina, mesmo pondo em risco a vida – a qual, praticamente, todos não querem perder.
Percentualmente: na enquete anterior, 23% haviam respondido que não pretendem se vacinar e, nesta semana, por volta de 90% indicaram ter medo de dar com a porta da UTI na cara… Ou seja, uma conta que, como se diz, “não fecha”.
Basicamente, os resultados apontam a existência de um contingente de 13% da população que ainda resiste à vacina, mas tem medo de morrer.
Como argumentado no início, para entender a atual maluca realidade, talvez só daqui a séculos. Por ora, parece algo assim: “VaChina, não! Mas caiChão menos ainda!”.