Igor Macedo de Lucena *
O maior problema é como se mensura a distribuição dessa riqueza e principalmente sua acumulação ao longo do tempo para uns e não para outros, o que na realidade demonstra o maior problema do capitalismo moderno, a desigualdade existente em ricos e pobres e um abismo que se aprofunda em todas as nações e se torna uma preocupação em comum de governos europeus, no Brasil, nos Estados Unidos, e até mesmo na China, que, apesar de ser um modelo autoritário de governo, sabe que consideráveis aumentos na desigualdade e nas insatisfações sociais são riscos altíssimos para o regime, principalmente em um projeto do qual há orgulho por ter diminuído drasticamente a pobreza e a desigualdade nos últimos 40 anos.
A diferença na composição da riqueza tem um efeito decisivo sobre a média dos retornos anuais sobre o patrimônio dos diversos grupos sociais.
Se as taxas de retorno dos ativos se apresentam relativamente constantes ao longo do tempo, isso significa que o que aumenta a desigualdade é de fato a diferença na composição desses ativos e a sua taxa própria de retorno.
Se analisarmos o período de 30 anos nos Estados Unidos, entre 1983 e 2013, já descontando a inflação, o retorno anual dos ativos financeiros foi, em média, 6,3% ao ano, enquanto o retorno anual do mercado imobiliário foi de apenas 0,6%.
Nesse sentido, se capitalizarmos isso por mais 30 anos, pode-se abrir um abismo patrimonial de 60% na acumulação de riqueza entre os mais ricos e a classe média; ou seja, o 1% mais rico apresenta desempenho melhor sobre a classe média e os mais pobres basicamente pelos retornos que eles obtêm com seu patrimônio mais diversificado, o que é na prática um importante fato gerador para o aumento da desigualdade a um longo prazo.
O trabalho da economia política neste ano de 2021 que está iniciando é sem dúvida entender tal fenômeno, que é natural e intrínseco do capitalismo, e adotar políticas que sejam capazes de aliviar esses efeitos.
O capitalismo é um sistema que funciona e foi o modelo de produção que mais diminuiu a pobreza na humanidade; todavia, ao longo da história, surgiram problemas como as crises financeiras, os monopólios e os oligopólios, dentre outros problemas que foram ajustados dentro do sistema por meio de novas teorias e políticas públicas inovadoras.
Hoje o maior desafio para o capitalismo é, sem dúvida, a desigualdade, e a pergunta que nos cabe fazer é: como vamos mais uma vez conseguir ajustar nosso sistema para que ele não se torne um problema social sem solução?
* Economista e empresário, doutorando em relações internacionais na Universidade de Lisboa, membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política.