Da reportagem
Nestes sete dias recentes, Tatuí viveu a segunda pior semana em número de vítimas fatais do novo coronavírus (reportagem nesta edição) e, conforme alerta da Secretaria Municipal da Saúde, a tendência é de que os números permaneçam em alta nos próximos dias, principalmente na curva de confirmações.
Em entrevista a O Progresso, Tirza Luiza de Melo Meira Martins classificou a evolução da pandemia da Covid-19 na cidade como crítica. Também forneceu dados sobre o levantamento mais recentes da pasta, referente aos meses de março a dezembro.
O levantamento mostra uma curva de contaminação ascendente nos sete primeiros meses da pandemia em Tatuí, com 5 casos positivos em março, 14 em abril, 138 em maio, 294 em junho, 703 em julho, 772 em agosto e 821 em setembro.
No mês de outubro, o índice caiu para 442 casos. Contudo, as infecções voltaram a subir em novembro, com 718 confirmações da doença (mais 62,4% em relação ao mês anterior), e, em dezembro, teve o pior resultado, com 1.049 casos – aumento de 46,10% na comparação com novembro.
Segundo Tirza, o aumento dos casos positivos é classificado como resultado da falta de cuidados com as medidas de prevenção, como lavar as mãos com frequência, usar máscaras de proteção, higienizar as mãos e superfícies com álcool em gel e manter o distanciamento social.
“As pessoas deixaram de atuar na parte preventiva, e isso acabou aumentando ainda mais os casos positivos. Ouvi pessoas dizendo que estão cansadas de todas essas ações de prevenção, mas somente elas podem evitar o contágio”, argumentou a secretária.
Ainda segundo os dados da Secretaria de Saúde, de março a dezembro, 384 pacientes precisaram de internação em leitos clínicos, sendo 8 em março, 21 em abril, 23 em maio, 32 em junho, 43 em julho, 42 em agosto, 55 em setembro, 41 em outubro, 53 em novembro e 59 em dezembro.
Já os leitos da UTI reservados aos pacientes com suspeita ou confirmados com Covid-19 foram ocupados por 142 pessoas nos 12 meses: 1 em março, 11 em abril, 15 em maio, 15 em junho, 7 em julho, 17 em agosto, 13 em setembro, 12 em outubro, 23 em novembro e 28 em dezembro.
A maioria das pessoas acometidas pelo novo coronavírus é formada por mulheres. Com 2.668 pacientes infectadas pela doença, elas representam 53,84% dos casos. Os homens somam 46,16%, com 2.288 confirmações.
A faixa etária mais atingida é a que compreendo entre 30 e 39 anos, com 982 pacientes infectados (513 mulheres e 469 homens). Em seguida, aparece a faixa entre 40 e 49 anos, com 957 casos positivos (509 mulheres e 448 homens).
Na faixa entre 20 e 29 anos, foram 919 contaminações (506 mulheres e 413 homens) e, entre 50 e 59 anos, 736 (414 mulheres e 322 homens). Os pacientes com 60 anos ou mais somaram 692 casos (353 mulheres e 339 homens).
Entre os adolescentes de 11 a 19 anos, ocorreram 433 confirmações da doença (234 do sexo feminino e 199 do masculino). As crianças de zero a dez anos foram as menos afetadas na cidade, com 237 casos positivos (139 meninas e 98 meninos).
Com o aumento dos casos, ocorrido também na região, o Comitê Municipal de Enfrentamento à Covid-19 anunciou novas estratégias para controlar a disseminação da doença e divulgou, na tarde de sexta-feira, 8, o decreto municipal 21.046, que proíbe o consumo de bebida alcoólica em ruas e praças.
A medida passou a valer na segunda-feira, 11, mesmo dia em que a cidade regrediu para a fase laranja do Plano São Paulo de flexibilização da economia – a segunda mais restritiva do Plano São Paulo.
Sobre a possibilidade de um colapso no sistema de saúde, Tirza aponta que, em comparação a outras cidades da região, Tatuí é dos municípios mais bem preparados para atender aos pacientes acometidos pela doença.
“Profissionais que atendem em todo o estado de São Paulo apontaram que somos um dos municípios mais preparados para atender a Covid-19 no momento, dentro do estado. Claro, proporcionalmente à quantidade de habitantes”, acentuou a secretária.
Conforme Tirza, a estrutura oferecida pelo município – com o “gripário”, aumento dos leitos (clínicos de UTI), inauguração da UPA (unidade de pronto atendimento), readequação do Pronto-Socorro “Erasmo Peixoto” e outros serviços – permitiu atender a todos os pacientes, mesmo no mês de pico da doença.
Contudo, ela pondera: “Com essa estrutura, a gente tem conseguido atender a todos, mas precisamos manter os cuidados e reforçar a prevenção para não sobrecarregar o sistema hospitalar”.
“Teve alguns municípios que, com a queda no número de casos, se desfizeram de toda a estrutura que fora montada, reduziram leitos e desmontaram hospitais de campanha. Isso não aconteceu aqui. Nós mantivemos tudo em funcionamento e, por isso, conseguimos atender a todos no momento de pico”, afirmou a secretária.
Para reforçar a estrutura de atendimento para os próximos meses, Tirza informou que o Comitê Municipal está avaliando o comportamento e a quantidade de novos casos da doença. Ainda lembrou que a Santa Casa adquiriu três novos respiradores.
O investimento nos novos aparelhos foi de R$ 226 mil, sendo R$ 126 mil oriundos de recursos próprios e R$ 100 mil de doação do Poder Judiciário (Vara do Juizado Especial Cível e Criminal, a partir de decisão do juiz Marcelo Nalesso Salmaso).
“Essa aquisição foi importante para termos sempre uma reserva em caso de urgência, com margem de segurança para atender a todos. Os aparelhos estão montados e prontos para serem usados, caso seja necessário”, informou.
Com os novos aparelhos, a Saúde municipal soma 43 respiradores. Cada aparelho representa um leito público de UTI disponível na cidade. Entre estes, 14 são mantidos na unidade de terapia intensiva destinada à Covid-19, outros 8 em UTI para outros tipos de doença, 4 no PS, 5 na UPA e 12 permanecem de suporte.
Mesmo reservando uma área da unidade de terapia intensiva para pacientes confirmados e com suspeita de Covid-19, a secretária reforçou ser possível remanejar os aparelhos de uma ala para outra, em caso de necessidade.
Sobre os casos registrados durante esta semana, Tirza classificou como um reflexo das festas de final de ano. Segundo ela, a doença se manifesta de 7 a 15 dias, em média, após o contato com o vírus.
“É um reflexo também de não seguir as orientações preventivas”. A secretária ainda apontou como tendência manter os números altos nos próximos dias.
“Nosso maior parâmetro é o atendimento no gripário. No final do mês passado, atendemos 260 pessoas em um dia sendo que, até então, quando a gente atendia muito tinha cerca de 120 pessoas”, completou a secretária.
Mesmo com a alta, dados divulgados pela Secretaria de Saúde, mostram que Tatuí apresentava, até 31 de dezembro, a terceira melhor posição entre as cidades com menores taxas de letalidade na RMS (Região Metropolitana de Sorocaba), composta por 57 municípios.
Conforme o estudo, a taxa de mortalidade no município foi de 1,95% dos 4.956 casos confirmados até a data. Tatuí só perdia para Boituva (1,66%) e Porto Feliz (0,74%) – que obteve o índice mais baixo de letalidade da RMS.
Os piores índices da região foram registrados nas cidades de Piedade (4,68%), Itapetininga (3,11%), Votorantim (2,79%), São Roque (2,64%), Itu (2,34%), Sorocaba (2,16%) e Salto (2,03%).
Conforme o levantamento, a curva de óbitos em dezembro apresentou redução de 23,61% com relação ao mês de agosto – o de pior índice desde o começo da pandemia. No oitavo mês, foram registradas 19 mortes em decorrência da doença, contra 14 vítimas fatais no último mês do ano.
O relatório da Secretaria de Saúde ainda informa ter realizado 24.875 testes para a doença, sendo 19.206 moradores submetidos aos procedimentos “rápidos”, 5.560 aos PCR e 326 aos sorológicos. O número inclui as testagens realizadas entre o final do mês de março e 31 de dezembro.
“Tivemos alta em quase todos os índices, a taxa de ocupação na UTI chegou a quase 100%, os óbitos também foram altos, principalmente na última semana, mas os números são proporcionais aos casos positivos confirmados no período”, concluiu a secretária.