Da reportagem
Alunos do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí, os irmãos violinistas Pedro Henrique Gomes Marcondes Pessan, de 12 anos, e Samuel Gomes Marcondes Pessan, de 14, foram selecionados para atuar da Orquestra Metropolitana de Lisboa e estudar na Escola Profissional da Metropolitana, em Portugal.
As aulas começaram em setembro de 2020, contudo, devido à pandemia do novo coronavírus e o cancelamento dos voos, a previsão é de que os meninos embarquem até o final deste mês para Portugal, acompanhados da mãe, Cláudia Cristiane Marcondes Pessan, do pai, Thiago Pessan, e da irmã, Ana Beatriz Marcondes Pessan, de nove anos.
De acordo com a mãe dos músicos, a família soube por meio das redes sociais da abertura de duas vagas na instituição portuguesa, destinadas a estrangeiros na faixa de 12 a 16 anos, e inscreveu os meninos.
“Fiz a inscrição pela internet, mesmo sabendo que tinha músicos do mundo todo concorrendo às duas vagas, e, para nossa surpresa, eles foram chamados, passando para a segunda fase do processo de seleção”, contou a mãe.
Conforme Cláudia, no processo seletivo, os irmãos foram submetidos a entrevista, audição virtual, análise das notas escolares e avaliação dos currículos. “Eles passaram em todas as etapas, enviaram as audições – feitas de forma virtual – e foram aceitos”, comemorou.
A mãe ressaltou o dom dos filhos para a música, mas também atribuiu a aprovação dos meninos ao fato de eles estarem matriculados no Conservatório de Tatuí. Para ela, o “peso” da instituição ajudou no resultado das avaliações.
“Os meninos tocam desde pequenos e, apesar da idade, têm uma vasta bagagem na música. Mas, tenho certeza de que, na fase de avaliação dos currículos, o que contou foi o peso do Conservatório. A instituição é reconhecida como a melhor da América Latina e bem aceita no exterior”, acentuou Cláudia.
Segundo ela, no período de três anos, Samuel vai cursar ensino médio de manhã e, à tarde, práticas de orquestra e violino. Como estudante, ele ainda poderá atuar na Orquestra Metropolitana de Lisboa e viajar com os profissionais da área por diversos países, representando o Brasil.
Pedro, por sua vez, frequentará a escola por cinco anos, sendo dois para conclusão do ensino fundamental (sétimo e oitavo ano), até chegar ao nível do irmão, e passar para o ensino médio, com mais três anos de estudo.
“Se eles quiserem dar continuidade, podem concluir tudo na mesma escola. Lá, tem o ensino técnico, superior, mestrado e doutorado, diferente do Brasil, onde se cursa o ensino médio e, depois, segue para outra instituição para finalizar o superior”, comentou Cláudia.
Incentivados pelos pais, desde muito cedo os meninos se dedicam à música. Eles residiam em São Paulo, onde frequentaram aulas de música no Projeto Guri. Samuel começou aos seis anos e Pedro, com sete.
Três anos depois, por motivos pessoais, a família precisou mudar-se para a região Sul do país. Como lá não tinha o Guri, os irmãos passaram a procurar outros grupos e projetos do quais eles pudessem participar.
“Nesse período, os dois frequentaram o grupo de música da igreja Adventista, e descobrimos o Gramado In Consert – Festival Internacional, um concurso muito importante para a área musical. Nós fizemos a inscrição e eles foram selecionados”, lembra a mãe.
“Foi uma surpresa muito grande, devido ao nível do festival e dos músicos que queriam estar ali. Eu e meu marido nos emocionamos muito em ver os dois no palco, tão novos (Pedro com nove anos e Samuel com 11), já participando de um evento tão grandioso”, acrescentou Cláudia.
Durante a participação no festival de Gramado (RS), os músicos foram convidados para tocar em Porto Alegre (RS), onde também poderiam se aprofundar nos estudos da música e do violino.
“Levamos mais um susto, mas vimos que eles tinham talento, e nos mudamos para Porto Alegre, para incentivá-los”, contou a mãe.
Na capital gaúcha, Samuel foi convidado a participar como spalla (nome dado ao primeiro-violino de uma orquestra) da Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul e Pedro venceu o 1º Concurso de Violino da Casa da Música de Porto Alegre, na categoria de nove a 11 anos.
Eles ainda passaram pela Orquestra da Igreja Adventista Central de Porto Alegre, participaram da Orquestra IAP (Igreja Adventista da Promessa), entre outras formações musicais, além de concursos e festivais.
Cláudia destacou que a qualidade musical dos meninos foi elogiada pelo violinista Pablo de León, spalla da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (júri do concurso da Casa da Música) e pelo maestro Telmo Jaconi, da Orquestra Jovem do Rio Grande do Sul, que orientou os meninos a estudarem música no Conservatório de Tatuí.
“O maestro Jaconi disse que, no nível em que eles estavam, o ideal seria tirá-los do Sul e trazê-los para São Paulo. Ele nos indicou a escola do teatro municipal de São Paulo, ou o Conservatório de Tatuí, mas disse que o melhor para eles seria o Conservatório”, adicionou.
Com a indicação, o casal e os três filhos mudaram-se para Tatuí em janeiro do ano passado, data em que ocorreriam as provas do processo seletivo do Conservatório de Tatuí para o ano letivo de 2020.
Os três irmãos se inscreveram para a área de música erudita da instituição: Samuel e Pedro, para o curso de violino, na categoria cordas sinfônicas, e Ana Beatriz, para o curso de harpa, que faz parte da categoria piano clássico.
“Quando vimos que tinha duas vagas em cada curso e mais de 60 pessoas concorrendo em cada uma delas, achamos que seria impossível. Mas, o sonho deles era estudar no Conservatório”, enfatizou Cláudia.
Ela contou ter feito a inscrição dos filhos e, mesmo sabendo da dificuldade do processo seletivo, deixado a casa em Porto Alegre e vindo com eles a Tatuí para fazerem a prova. Até sair o resultado da seleção, ela e as crianças ficaram hospedadas em um hotel.
“O resultado saiu em uma semana e, com o nome deles. Fiquei muito feliz e, quando vi que eles passaram, liguei para meu esposo avisando. Ele já pegou a mudança e veio morar em Tatuí também. Ficamos no hotel até alugar uma casa”, completou.
Para finalizar, Cláudia classificou o ano de 2020 como “um divisor de águas na vida da família” e ainda falou sobre a importância de incentivar os filhos a continuar estudando, dar apoio e estar ao lado deles nas oportunidades que surgem.
“Primeiro, eles passaram no Conservatório, o que foi uma alegria imensa e, depois, conseguimos essa bolsa em Portugal, que, com certeza, mudou nossas vidas. Acho muito importante sempre incentivá-los e, por isso, sempre estamos com eles. Sabemos do talento que eles têm e queremos que tenham cada vez mais sucesso”, concluiu Cláudia.