O reconhecimento de mais um patrimônio cultural imóvel de Tatuí é, literalmente, “histórico”! Desta vez, a Cidade Ternura está ganhando a certeza de que o Mercado Municipal “Nilzo Vanni” passa a ser tombado.
A denominação pode parecer estranha por impressão superficial, mas, na realidade, indica o avesso de “por abaixo”, constituindo-se justamente na garantia de preservação do edifício.
Muito mais, assegura não só a manutenção do patrimônio em pé, mas, sobretudo, o resgate de suas características originais – de sua “personalidade própria”, por outra maneira de exemplificar.
Como determina o procedimento para reconhecimentos dessa natureza, o processo de tombamento foi recentemente aprovado pelo Condephat (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí).
O justo privilégio formaliza o chamado “Mercadão” na condição de “patrimônio histórico e cultural”, em âmbito municipal. Para elaboração do projeto, compuseram uma comissão os integrantes do Condephat Luiz Antônio Fernandes Guedes, Patrícia Campos de Lima, Antônio Celso Fiúza Júnior e Maíra de Camargo Barros.
Eles ficaram responsáveis pelo levantamento do histórico e dos bens que compõem o prédio e pela elaboração de um relatório detalhado.
O projeto teve apresentação em novembro, de forma virtual, com breve histórico do local, acompanhado por fotos, relatório da visita técnica e conclusões da comissão, sendo aprovado por unanimidade.
O presidente do Condephat, Rogério Vianna, acentuou que “a beleza arquitetônica do edifício do Mercado Municipal é inquestionável, e soma-se a isso o fato de ele estar implantado no coração da cidade, ligando o centro aos antigos bairros mais afastados”.
Pelo relatório apresentado ao Condephat, a comissão ainda destaca a importância da construção como “um espaço de lazer, consumo, relações sociais e afetivas de toda a sociedade local, abrangendo público amplo, de diferentes idades e classes sociais”.
“É raro o tatuiano que não tenha alguma memória com o edifício, com os comerciantes que ali trabalharam ou ainda trabalham e com os produtos lá vendidos. Sendo assim, esta comissão propõe o tombamento do edifício”, registra o relatório.
Conforme o levantamento, deve ser preservada a fachada frontal, situada na continuação da rua 7 de Abril, e a dos fundos, no chamado Largo do Mercado. A comissão também indica a recomposição de vãos fechados e a substituição dos caixilhos contemporâneos por réplicas dos originais.
O relatório propõe, ainda, a preservação dos caixilhos metálicos com desenhos antigos e todo o núcleo central interno, indicando, em caso de restauro, recomposição de vãos fechados, manutenção dos arcos, tijolos aparentes a meia altura e cobertura com telhas cerâmicas e lanternins.
Além disso, o projeto visa à preservação das três fachadas da ala esquerda, situadas no prolongamento da rua 7 de Abril (frente), rua 15 de Novembro (lateral) e no Largo do Mercado (fundos), das alvenarias, esquadrias e da cobertura do núcleo central interno.
De acordo com o projeto, a volumetria e o gabarito de altura da edificação devem ser mantidos conforme o estado atual. Todas as propostas de alteração de cobertura e ou alvenarias das outras partes deverão ser aprovadas pelo conselho.
Vianna informou que o próximo passo da comissão é formular o decreto a ser encaminhado à prefeitura para a oficialização do tombamento em âmbito municipal.
“O Condephat tem atuado de forma virtual neste momento de pandemia, mas tem se preocupado bastante com a política de salvaguardar os edifícios municipais. Com o tombamento do Mercado Municipal, o conselho valoriza mais um bem histórico e importante equipamento do patrimônio cultural”, concluiu Vianna.
O Mercado Municipal “Nilzo Vanni” foi construído em 1914, na gestão do prefeito Cândido José de Oliveira, com arquitetura inspirada nos trabalhos europeus do século 19. As principais características são os grandes arcos e os tijolos aparentes.
Este é o segundo mercado municipal da história de Tatuí, sendo que o primeiro foi inaugurado em 1880, na rua 11 de Agosto com a rua Coronel Lúcio Seabra. Contudo, o pioneiro foi considerado impróprio, por não oferecer o “conforto necessário aos mercadores”.
A partir disso, acabou sendo construído o segundo mercado municipal, na rua 7 de Abril, em área “melhor localizada e com as edificações necessárias”.
Tradicional na cidade, o mercado oferece diversidade de produtos, como vegetais, frutas, grãos, roupas, brinquedos e comidas prontas. Em 1992, o prédio passou por reforma e a abrigar um terminal rodoviário (com rota intermunicipal), ainda em funcionamento.
Quanto aos tombamentos em geral, é certo existir quem não reconheça quando lhe é dado um grande regalo, por conta de uma concepção simplória de urbanismo, na qual mais vale um prédio novo com escada rolante que a manutenção de um “velho” bem cultural.
Não obstante, é auspicioso por demais notar que a maioria da população ainda guarda carinho e apreço por seus patrimônios, ciente de assim estar salvaguardando suas peculiaridades, sua identidade única.
Não entender isto, além de uma série de qualidades nada admiráveis – como não dar valor à história de si mesmo e a dos seus -, denota flagrante desconhecimento quanto à importância de possuir personalidade própria.
Assim, mais esta garantia de preservação de um belo e profundamente significativo patrimônio tatuiano, já em dezembro, precisa ser compreendida como o grande presente deste final de ano – certamente, o mais conturbado de todos os tempos –, ao menos indicando que 2020 não está sendo de todo perdido.