Ofender e acusar sem as devidas comprovações tornou-se esporte internacional de grande sucesso e entusiasmo, em meio ao qual um dos campeonatos mais animados – e mal-educados – acontece justamente no Brasil.
Predominantemente no ambiente virtual, as pelejas apostam por demais na tática do jogo feio, cheio de faltas, não apenas porque muitos são ruins de natureza humana e de bola no campo da política virtuosa, mas porque o certame do esculacho segue com regras pouco definidas.
Alguns, inclusive, ainda pensam que regras sequer existem. Creem, por exemplo, que ofender alguém no “Face” ou acusar outrem no “Insta” não vai levar a nada (isto quando a sensação de impunidade ainda não é reforçada pela covardia dos perfis falsos).
Não obstante, os ganhos por debaixo do tapetão têm diminuído, isto porque qualquer indivíduo minimamente informado já sabe que as redes sociais são ótimos veículos de “comunicação” e péssimos de “informação”.
Observa-se, mais recentemente e com clareza, o mau uso desse imenso poder de se comunicar – muitas vezes, desperdiçado com os xingamentos, denuncismo sem lastro e comentários simplesmente desnecessários.
Em boa parte, como até a torcida do Íbis Esporte Clube (considerado o pior time do mundo) já sabe, a tática do esculacho acabou por minar a credibilidade não apenas dos atletas dos clubinhos de fake news, mas das próprias mídias sociais.
O resultado disto é a crescente suspeita sobre o que se recebe pelo “Zap” ou pelas outras redes. Estas eleições evidenciaram este maior grau de consciência. E prova inconteste é que, Brasil afora, os candidatos mais gastões nas redes sociais perderam nas urnas.
Conforme reportagem da Folha de S. Paulo, publicada na semana anterior ao segundo turno, dos 30 candidatos a prefeito que mais investiram em impulsionamento no Facebook e no Instagram nos últimos três meses anteriores ao pleito, 19 nem chegaram ao segundo turno.
Os candidatos de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Aracaju, Florianópolis, Manaus, Belo Horizonte e Curitiba que mais gastaram nas redes sociais foram derrotados já no primeiro turno.
“A maioria é de partidos nanicos, com pouco tempo de propaganda na TV e em posições ruins nas pesquisas eleitorais do início da campanha”, aponta a Folha.
Rodrigo Maroni (Pros), em Porto Alegre, foi o quinto a mais investir em impulsionamento de conteúdo no Brasil, mas acabou em nono lugar, com 0,51% dos votos. Nos três meses, Maroni investiu R$ 342 mil em 251 postagens pagas no Facebook.
A Delegada Martha Rocha (PDT), no Rio de Janeiro, foi a única concorrente à prefeitura da cidade que aparece na lista dos 30 maiores investidores do Facebook. Ela obteve apenas 11,3% dos votos e ficou fora do segundo turno, embora tenha investido R$ 283 mil, figurando em sexto lugar na lista dos maiores gastadores.
Rodrigo Valadares (PTB), de Aracaju, Ângela Amin (PP), de Florianópolis, Alfredo Nascimento (PL), de Manaus, Áurea Carolina (PSOL), de Belo Horizonte, e Carol Arns (Podemos), de Curitiba, são os outros representantes de capitais derrotados ainda no primeiro turno.
Em São Paulo, Arthur do Val (Patriotas), com gasto de R$ 254 mil no período, liderou os investimentos em rede social. Apesar disso, terminou o primeiro turno em quinto lugar.
Exceção entre o insucesso dos mais gastadores em rede social aconteceu em Fortaleza, “a capital em que os candidatos mais desembolsaram com impulsionamento no Facebook”, ainda segundo a Folha.
José Sarto (PDT) aparece no topo do ranking, tendo investido mais de R$ 849 mil em três meses da campanha que acabou levando-o à vitória.
“Fortaleza e São Paulo são as duas capitais que tiveram mais de dois candidatos na lista dos 30 maiores investidores. Nas demais, políticos que não aparecem no ranking avançaram ao segundo turno”, segue a reportagem.
Em Tatuí, essa realidade não aconteceu de maneira diversa, sobretudo quanto aos vereadores eleitos. Eduardo Dade Sallum, o mais votado, com a preferência de 1.709 eleitores, não foi o que mais investiu em impulsionamento digital – muito longe disso.
Mais ainda, Cíntia Yamamoto, a segunda mais bem sucedida nas urnas, com 1.634 votos, afirmou em entrevista a O Progresso sequer ter gastado com postagens em redes sociais.
Em resumo, a questão fundamental não é desmerecer as ferramentas digitais, apenas reforçar que, tal como se esperam belas jogadas no campo da bola, a população mostrou estar cansada com tanto jogo sujo e malandragem na política, praticados em demasia no campo virtual.
Ao apito final, estas eleições concluíram-se em grande derrota ao dérbi ideológico besta, felizmente frustrando as torcidas do ódio – organizadas e desorganizadas.
O grande campeonato em busca de um lugar no pódio das nações menos injustas ainda segue, mas pelo menos desta vez venceu a população em geral, que pôde participar de uma feliz partida, um belo espetáculo da democracia, sendo melhor representada em campo por jogadores com um tanto mais de inteligência, tarimba e – sim – jogo de cintura!