Chegamos a um momento atípico na gestão dos recursos hídricos no país. Há locais com grande déficit e outros com excesso de água. As mudanças climáticas podem estar influenciando o ciclo natural das chuvas. A produção de energia elétrica é afetada pela escassez de chuvas nos lugares estratégicos. A questão da utilização das águas do rio Paraíba do Sul, que atravessa o Vale do Paraíba e vai até o Rio de Janeiro, está gerando conflitos entre os Estados que utilizam de suas águas para abastecimento público. A qualidade das águas dos rios Tietê, Pinheiros e outros que servem a capital sofrem efeitos de muita poluição. A nossa bacia hidrográfica do Sorocaba e Médio Tietê enfrenta problemas com a poluição, afetando a agricultura, a indústria, o saneamento básico e demais usos das suas águas. A rede hídrica que serve Tatuí também apresenta problemas de poluição, sendo o rio Tatuí um dos mais problemáticos da nossa bacia.
Hábitos antigos das ocupações das margens dos cursos d’água fizeram com que houvesse a redução acentuada das matas ciliares, proporcionando erosão e o despejo de inúmeros entulhos e outros resíduos sólidos. Chegavam a jogar tudo que não mais utilizavam às margens dos rios e ribeirões da cidade. Na rua Juvenal de Campos, por exemplo, no trecho em que hoje se localiza a praça Anita Costa, local onde tem a feira livre de domingo, havia o chamado “barrocão”, onde as pessoas “jogavam” móveis e utensílios domésticos, entulho de construções, lixo de forma geral. Isso também ocorria nos ribeirões do Manduca, Ponte Preta e outros. Era um hábito incrustrado nas pessoas de outrora. Os cursos d’água serviam como depósito de lixo.
A água não consistia em problema para os mais variados usos, principalmente para o saneamento. Sua ocorrência era abundante. Havia poços de furo nas casas, fossas, e quase não havia coleta de lixo. O mundo mudou, a cidade cresceu e as necessidades também cresceram, necessitando de novas técnicas para a disponibilização do saneamento básico. Os processos de tratamento da água e dos esgotos são muito caros, sendo mais dispendioso ainda dependendo da distância da captação, do tratamento, da rede de distribuição da água e do tratamento de esgotos e demais efluentes. As pessoas não param pra pensar na complexidade do sistema e a água só tem relevância quando da sua falta. Ficar sem água por alguns momentos acaba tendo um papel didático de como se comportar na sua ausência e, assim, repensar sua valorização e evitar desperdícios. Nossas crianças e nossa juventude, graças a Deus, já têm uma consciência ambiental mais desenvolvida e, assim, poderão promover o uso racional da água e da energia.
Tatuí tem em seu calendário oficial de eventos a “Semana Municipal da Água”, instituída por lei municipal. Uma semana dedicada às atividades junto às escolas e público em geral sobre a importância da água. No dia 22 de março foi comemorado o Dia Mundial da Água e, em Tatuí temos na mesma data o “Dia do Rio Tatuí”, particularizando nosso principal manancial. Esses eventos fazem parte de uma agenda ambiental municipal em que deve haver momentos de reflexão sobre a ocorrência e o uso racional desse importante bem da coletividade. Nossa cidade tem quase 100% de distribuição de água e uma grande porcentagem de coleta e tratamento de esgotos, cujo saneamento é operado pela concessionária Sabesp. Mas o trabalho de desenvolver a consciência ambiental no nosso dia a dia a respeito desse precioso líquido deve ser contínuo, pois é fator de desenvolvimento e da qualidade de vida da nossa população.
Nesse sentido o Grupo Alerta vem desenvolvendo atividades de conscientização ambiental, participando ativamente do nosso Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) e do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT). No dia 22 de março, completamos 35 anos de existência, fruto de alguns visionários como o saudoso Vicenzo Visciglia, do Dr. Onofre Machado, do professor Acassil Vieira de Camargo e outros que, no ano de 1979, resolveram criar a Associação dos Legionários em Defesa da Ecologia da Região de Tatuí, o Grupo Alerta. Desde aquela época essas pessoas já se preocupavam com os efeitos da poluição em nossa região. Parabéns e agradecimentos a todos eles, bem como a todos que, posteriormente, pelo Alerta se dedicaram e se dedicam pela causa voluntariamente.
E fica, aqui, esse registro do momento histórico em que vivemos, dos inúmeros problemas envolvendo a água, enquanto um patrimônio de todos nós, que atualmente se projetou para o debate nacional. Vamos pensar nacionalmente e agir localmente para que possamos proteger nossos mananciais. Trabalhar para que consigamos desenvolver cada vez mais a consciência ambiental nas pessoas. Para que não enfrentemos o sofrimento de conviver com a falta de água, que é sinônimo de desenvolvimento, saúde e vida: vamos usá-la racionalmente para o bem de todos. Fica a dica.
* Engenheiro agrônomo, presidente do Grupo Alerta. ( acletto@gmail.com.)
