Avaliando estas eleições de maneira não superficial – dessa que segue partindo o país em somente duas partes, a esquerda “comunista” (que quase ninguém sabe o que é) e a direita “neofacista” (que tanta gente quanto não possui conhecimento a respeito), pode-se concluir pela vitória do “equilíbrio”.
Por este motivo, já de início, por mais latidos das alcateias digitais, é preciso reconhecer a opção contrária da imensa maioria dos eleitores ao conflito, ao dissenso e a mudanças sectárias – assim reverberando tendência nacional.
Diferentemente de dois anos atrás, quando houve maciça adesão a apostas extremistas – que prometiam “mudar tudo isso que está aí” e, na prática, não mudaram nada (e, de certa forma, ainda bem, porque mudanças seguiam apenas no sentido de se extinguir a democracia) -, desta vez, nacionalmente, sobrepôs-se a opção por políticos já conhecidos e pela experiência.
Claro, esse conhecimento da população sobre seus dirigentes nem sempre implica em boas impressões – e estão aí,para o provar,alguns velhos figurões “tradicionais”, a nível local e nacional, francamente rejeitados pelas urnas.
A grande diferença, portanto, deve-se ao fato de os eleitores estarem também decepcionados (ou, em grande parte, imunizados) com os políticos populistas, do tipo que promete muito e não consegue cumprir (na hipótese menos ruim).
Um tipo de figura pública que, apesar dos fracassos, não assume responsabilidades, sempre apontando culpados externos, e que, ainda, já não disfarça o maior objetivo: a busca pelo poder absoluto, ainda que à custa da perda de vidas e da democracia.
Além da decepção a esse “modelo de gestor”, o combate muito mais efetivo às fake news neste ano -o qual chegou a “travar” perfis anônimos aqui mesmo em Tatuí, via Justiça – possibilitou a realização de uma campanha muito menos anormal, a favor da “tradicional”.
Por certo, este particular acabou por beneficiar (ou não atrapalhar), consequentemente, a política e seus representantes também “tradicionais”.
Por outro aspecto, seria possível ponderar que a população em geral, pouco comovida com essa bobagem de esquerda-direita, está mesmo interessada em educação para os filhos, saúde pública de qualidade, emprego, segurança, lazer…
“Quem pode trabalhar melhor por tudo isso?”, deve ter sido a pergunta dos eleitores Brasil afora, levando à conclusão de que pavões cuspidores de fogo não seriam as melhores opções, senão os candidatos mais tarimbados na vida pública e menos dispostos aos radicalismos supostamente ideológicos.
Em Tatuí, a bem da verdade, não há toda essa sectarização política, salvo em sítios digitais onde alguns ainda insistem em se equilibrar no pau de galinheiro, acreditando, aparentemente, ser ali o melhor palanque para se conquistar votos (pelo visto, só se ganha “joinhas” e coraçõezinhos…).
Esta tendência pela racionalidade, inclusive, já havia sido observada no editorial deste jornal há duas semanas, sob o título “Eleições: dos EUA para Tatuí”.
Questionava o espaço: “Se como lá, a revalorização da política de conciliação, da lucidez, da verdade e de um mínimo de ‘empatia’ também valerá para cá, logo saberemos”. Ao final do pleito, valeu!E quase como um todo no país, não somente aqui.
Por sua vez, seria toda esta argumentação para apontar perfeição quanto à política tradicional e seus representantes mais comuns? Não, obviamente, até por ser a perfeição impossível a seres humanos, sejam tatuianos, brasileiros ou de quaisquer outros locais do globo.
Contudo, reconhecer o trabalho dos gestores – em seus erros e acertos -, sem paixões e ódio(especialmente) e, a partir daí, tentar ao menos ser justo quanto ao julgamento acerca de posturas, intenções e realizações é um dever cívico fundamental em momento ainda tão conturbado.
É neste sentido que o resultado das eleições em Tatuí e no Brasil afora concluíram-se em motivo de grande satisfação – esperança, até!
Pelo menos por ora, apontam não para a resignação quanto a tantos desafios e ainda muito desmando na política nacional, mas de que as soluções devem ser buscadas dentro das regras democráticas e sem ilusões encenadas por oportunistas, jamais acabando-se “com tudo isso que está aí”, até porque nem tudo é ruim – muito pelo contrário.
Entre “tudo isso”, está a política tradicional, com suas imperfeições e possíveis problemas. Mas, também, estão conquistas inúmeras, o Judiciário, o Legislativo, a imprensa “livre” e a própria sociedade – para fiscalizar, cobrar e, eventualmente, punir os gestores desgarrados às leis e à moral.
É preciso confiar nas instituições e em si mesmo como cidadão minimamente apto a reivindicar seus direitos com responsabilidade e respeito, tal como a cobrar a lisura de seus gestores sem selvageria covarde – como se observa em redes sociais.
É preciso ser adulto e escapar do rebanho de incautos,e estas eleições abriram a porteira para muita gente tirar o cabresto ideológico e enxergar com mais maturidade o cenário político nacional.
Especificamente sobre Tatuí, é correto reconhecer que a prefeita Maria José representa a política tradicional, estando já eleita para um segundo mandato e sendo esposa de Luiz Gonzaga Vieira de Camargo, prefeito duas vezes e deputado estadual três.
Pela proporção da vantagem nas urnas, mesmo se ainda persistisse a ideia de “acabar com tudo”, tão determinante em 2018, a prefeita ainda deveria ser reeleita, embora, talvez, não com tamanha expressividade.
Mas, basta apontar que, mesmo com maior abstenção neste ano e em meio a uma pandemia tão “Impopular” a impor isolamento – com fechamento do comércio em especial -, ela obteve mais votos que em 2016.
Neste ano, Maria José obteve 58,29% dos votos válidos, totalizando 31.861, 2.396 a mais que na disputa anterior, quando somou 29.465.
Ao todo, 62.254 (68,71%) dos 90.608 eleitores aptos comparecerem às urnas em Tatuí. Brancos totalizaram 2.952 votos (4,74%), nulos,4.638 (7,45%) e abstenções, 28.354 (31,29%). Em 2016, as abstenções haviam atingido 18.305 (21,9%).
Finalmente, a outra grande e inédita novidade deste ano, além da contundente renovação em 76,47% (com a permanência de apenas quatro vereadores), é a eleição de quatro mulheres para o novo Legislativo. Entre os 17 parlamentares, elas serão 23,52%.
Isto é fenomenal, justamente por indicar tanto uma resposta ao recrudescimento do machismo destes anos recentes, quanto por assegurar representatividade mais justa entre os “gêneros”.
Também neste espaço, dia 4 de outubro, O Progresso já observava: “Verdade é que nunca foi tão importante a mulher se dispor a tomar protagonismo na política – ‘legislativa’, sobretudo, -, exatamente por, a princípio, ser mais disposta ao entendimento, ao equilíbrio e até à maturidade”.
E repetia algo já acentuado há dois anos: “O único alento a segurar um fio de esperança é a insuspeita verdade de que as eleições serão decididas pelas eleitoras. Resta saber se as mulheres têm mesmo maior apreço à conciliação, à paz e à própria vida, e, portanto, o que farão com esse tal empoderamento”.
Em 2020, mostraram, enfim, o que são capazes de fazer!