Tatuí não possui um povo diferente ao do restante do país, mas nem por isto deixa de ser oportuna a observação quanto à postura de boa parte dos munícipes mesmo na área central da cidade, onde, em tese, a vigilância é maior – tanto das autoridades policiais quanto da própria população.
Este contingente – seja por convicto negacionismo, seja por mera desatenção – está confundindo máscara de proteção facial com babador, carregando-a sobre o queixo sem qualquer inibição.
Não obstante, dada a maior autoridade da nação expressar opinião – entre tantas – de que “ninguém deve ser obrigado” a tomar a futura vacina contra o novo coronavírus, não é difícil compreender a razão de tanta displicência.
Para esse pessoal, já parece ser jogar perdigoto pra fora à toa – com ou sem coronavírus – argumentar que, se a própria vida pouco lhe importa, o mesmo não vale para a alheia (ou seja, “quer se matar, se mata, mas não põe em risco a vida dos outros!”).
Isso, fora aqueles que, imbuídos de credulidade além da conta, entendem estar totalmente imunes porque rezam ou oram muito e, portanto, o novo vírus não lhes afeta – talvez porque, quando levada a óbito pelo álcool 70%, decerto a Covid-19 teme perder seu lugar no “paraíso” das enfermidades…
É de se ruminar com os respectivos botõezinhos se, levada a sério tal premissa, essas mais de 120 mil pessoas falecidas antes do tempo (população equivalente a uma Tatuí inteira!) seriam todas ateias, pagãs, “comunistas” …
Como certamente não o eram, cabe uma montanha de motivos para reflexão e comportamento mais responsável. E isto mesmo a quem somente enxerga tragédia na área econômica – até porque o menor drama financeiro não escapa à necessidade de maior cuidado com a saúde pública.
Já é notório que a recuperação econômica nos países onde a pandemia foi levada mais a sério e, assim, combatida de maneira responsável – e “apolítica”, sobretudo – agora está ocorrendo mais rápida e consistentemente.
Na prática, muitos que achavam estar ajudando a economia do país ao boicotar o isolamento social, na verdade, estavam atrasando a retomada de uma rotina “menos anormal”.
(A expressão é proposital porque termozinhos da moda, como “novo normal”, só servem a interesses marqueteiros, que pouco se importam com a condição de saúde e financeira da população, tampouco com as obtusas convicções políticas).
Toda esta lamentosa introdução, contudo, tem objetivo de chamar a atenção para o fato de que, no município, algo positivo não pode e não deve redundar em algo muito negativo.
No caso, interpretar os recentes números do Caged como se sucesso fossem do negacionismo e, pior, de um suposto fim da crise de saúde pública. Longe disso, os números, embora positivos, são ainda modestos demais e a pandemia só terá efetivo fim com alguma vacina – pelo menos para quem se dispuser a tomá-la.
E lembrando os índices, conforme já divulgados na semana passada: o mercado de trabalho formal em Tatuí registrou a abertura líquida de cem empregos com carteira assinada em julho.
Nesse mês, houve 534 admissões e 434 demissões. O volume representa acréscimo de 1,13% nas contratações e queda de 0,68% nos desligamentos em relação a junho.
Esse foi o segundo índice positivo do município desde a chegada da Covid-19. Em junho, o saldo líquido foi positivo em 91 vagas – advindas de 528 contratações e 437 desligamentos. Os piores meses na pandemia foram abril, com perda de 590 vagas, e maio, com a demissão líquida de 692 trabalhadores.
O melhor desempenho do sétimo mês ocorreu na área industrial, com saldo de 105 vagas, advindas de 212 admissões e 107 demissões. A indústria de transformação foi responsável por 211 contratações e 103 desligamentos, enquanto uma admissão e quatro demissões ocorreram na indústria de extrativas.
O comércio apareceu em seguida, porém, com números menos expressivos. O setor abriu 45 novas vagas, oriundas de 179 formalizações e 134 demissões.
As atividades econômicas envolvendo prestações de serviço são as que mais sentiram os efeitos da crise, tendo perdido 39 postos de trabalho, oriundos de 165 desligamentos para 126 admissões, aparecendo com o pior resultado do sétimo mês do ano.
Na análise entre os subsetores, o relatório mostra que os piores desempenhos ficaram para alojamento e alimentação (menos dez vagas); transporte, armazenagem e correios (menos 22); outros serviços (menos cinco); administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (menos três); e serviços domésticos (menos uma).
O único subsetor da atividade econômica a aparecer com saldo positivo foi o de transporte, armazenagem e correios, que gerou duas vagas no sétimo mês – resultado de 42 contratações e 40 desligamentos.
O segundo setor mais afetado com o desemprego em julho foi o da agropecuária. A atividade econômica, que envolve ainda a pecuária, produção florestal, pesca e agricultura, contratou quatro novos funcionários, mas demitiu dez.
Com saldo negativo, também apareceu a construção civil, que fechou cinco vagas – resultado de 13 contratações e 18 desligamentos.
O setor de obras e infraestrutura gerou três novas vagas, contudo, a construção de edifícios fechou seis e os serviços especializados tiveram saldo negativo de um posto de trabalho.
No acumulado de janeiro a julho, o saldo do Caged ainda permanecia negativo em 862 vagas – resultado de 4.480 admissões e 5.344 desligamentos -, o pior desempenho para o período na série histórica disponibilizada pelo Ministério da Economia desde 2007.
Ainda segundo o levantamento, comparadas aos primeiros sete meses de 2019, as admissões caíram 15,58% e as demissões subiram 3,58%. O estudo não leva em consideração funcionários públicos estatutários e trabalhadores na informalidade.
O estudo do órgão do Ministério da Economia ainda mostra que o saldo do município seguiu a tendência de aumento dos empregos com carteira assinada no país. O desempenho nacional teve saldo positivo de 131.010 novos postos em julho.
O resultado de 1.043.650 admissões e 912.640 desligamentos, no período, interrompeu a sequência negativa registrada desde março, e o estoque de empregos formais de janeiro a julho chegou a 37.717.045 novos postos.
Aproveitando serem os números imunes aos extremismos, é tranquilo concluir que a simples inversão da curva de desemprego formal é excelente, mas ainda modesta por demais.
É motivo para esperança, até otimismo. No entanto, jamais para se entender que, sem isolamento e precauções, a situação estaria melhor agora. Muito pelo contrário: o desemprego ainda seguiria crescendo – só não mais que o número de vidas perdidas.
Sem essa consciência, o risco é de refluxo nos contágios e nova intensidade das medidas de isolamento. Abertura do comércio, ótimo, mas com máscara e higienização.
Quem precisa ser desmascarado são apenas os extremistas, os negacionistas… Enfim, os oportunistas à espreita do seu voto, tatuianos brasileiros.