Ainda que alguns persistam na descrença com relação ao potencial turístico de Tatuí, a edição especial “Terra dos Doces Caseiros”, publicada neste dia 11 de agosto por O Progresso, marcando os 194 anos de emancipação da cidade, reiterou a importância e o potencial dos patrimônios locais como fontes de desenvolvimento e renda.
A publicação esteve focada nos doces – até pela proximidade com a data em que ocorreria a já tradicional feira de produtos tatuianos -, mas nem por isso deixou de lembrar dos demais atrativos únicos do município, que segue, felizmente, tendo a música como principal virtude.
Ocorre, não obstante, que já podem não bastar nossas heranças culturais sequer para a manutenção como MIT (Município de Interesse Turístico) – tampouco para a ascensão ao patamar de estância. Pelo menos, não a se concretizarem as previsões de autoridades estaduais da área.
Nesta quarta-feira, 12, por exemplo, o deputado Edmir Chedid (DEM) emitiu nota à imprensa apontando que os investimentos do governo estadual nas estâncias e nos MITs deverão ser menores no próximo ano se comparados aos destinados às prefeituras em 2020.
De acordo com ele, a previsão, obviamente, deve-se à crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus, que provocou alterações nos cronogramas previstos para o setor.
Com menos investimentos, os gestores municipais já demonstrariam mais preocupação com o andamento de programas e projetos desenvolvidos a partir do repasse de recursos financeiros do governo estadual, por intermédio da Secretaria de Turismo.
“Infelizmente, muitas não possuem os recursos financeiros necessários para investir, por exemplo, na infraestrutura urbana, que é a principal linha de financiamento do governo estadual às estâncias e aos MITs”, declarou o deputado.
O parlamentar garantiu que a situação será ainda pior para as prefeituras do interior que não recebem grande número de turistas.
“Algumas estâncias e MITs ainda estão se firmando neste cenário com base no apoio do governo estadual. Mas, ante a queda dos investimentos do setor, muitos prefeitos já nos relataram suas dificuldades, principalmente em relação à conclusão de obras – visto que algumas são divididas em etapas – e, ainda, de serviços para alavancar o setor”, afirmou.
O assunto foi o principal tema abordado em reunião entre Chedid e os prefeitos da Associação das Prefeituras das Cidades Estância do Estado de São Paulo (Aprecesp), recentemente promovida no Palácio Santo Agostinho, sede da prefeitura de Bragança Paulista.
“Na ocasião, todos demonstraram, ainda, as incertezas com o setor aos que irão assumir as prefeituras (gestão 2021 – 2024)”, acrescentou.
“Nas próximas semanas, deveremos elaborar um documento para o governo estadual a fim de demonstrar a preocupação dos prefeitos com a suposta redução dos investimentos ao setor”, finaliza o parlamentar na nota.
Para a sorte dos tatuianos – conforme observado no especial de aniversário com o depoimento de vários profissionais, empreendedores e autoridades -, existe consenso quanto à importância do turismo para Tatuí e, até, acerca do objetivo de se criar um espaço próprio para a Feira do Doce.
Não somente a ser utilizado por esse evento, mas equipado e adequado para receber demais iniciativas ao longo do ano, sem dúvida, o local poderia contribuir em muito com a condição de MIT – no mínimo.
O título – fundamental lembrar – não se resume a um status sem fundamento ou insignificante vantagem, nem mesmo à importante verba do estado. Representa, na prática, a garantia de um fluxo de visitantes a trazer novos recursos, beneficiando o comércio e a própria cidade como um todo.
No entanto, como acentuou o deputado, é preciso dinheiro para se efetivar os projetos em andamento. E é aí que Tatuí vislumbra mais uma oportunidade, tanto porque a Feira do Doce já está tão consolidada quanto garantida, porque não depende mais de grande investimento público.
Ainda, outro grande futuro atrativo da cidade será o Museu da Imagem e do Som, o MIS, cuja edificação tem tudo para ser concluída, apesar da crise financeira e da pandemia.
Para a efetivação do novo espaço de eventos, sim, seria preciso investimento de porte razoável, com a busca por verbas estaduais e até federais. No momento, isto é um projeto, diante do qual, portanto, importa é a disposição e o compromisso. E isto precisa ser reforçado.
No especial, o secretário municipal do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli, argumentou que, além da feira, eventos como a Festa de São Jorge, a Festa Junina do Bemfica e a programação do aniversário de Tatuí poderiam ser abrigados no almejado centro.
Shows, eventos como o Tatuí Classic Car e o Carnaval também estão entre as atividades com possibilidade de serem transferidas.
Enfim, frente a tantos desafios – embora confiantes no potencial de Capital da Música, Terra dos Doces e Cidade Ternura -, é possível afirmar que, além de profundo arrefecimento da pandemia, será necessário muito trabalho para o próximo ano realmente nascer e prosperar muito mais feliz.
Fora isso, o trabalho na área de turismo – aliás, como em todas as demais – precisa ser contínuo, como bem exemplificou o especial de O Progresso ao demonstrar que, mesmo com a troca de direção no Executivo em 2017, a Feira do Doce não foi extinta – eventualmente, por questões políticas.
Pelo contrário: teve o nome alterado, a partir de um objetivo prático, mas seguiu em constante aprimoramento, tornando-se o maior evento turístico e gastronômico da cidade e o maior em seu segmento no estado.
Este particular, a despeito das legítimas opções ideológicas de cada um – ou falta delas -, precisa ser levado em conta para as escolhas sobre quem nos guiará em mais um trecho do doce caminho para estância, ou para uma amarga despedida como MIT.