Da reportagem
Escolhido recentemente como integrante do melhor trio de arbitragem do Campeonato Brasileiro da Série A 2018 e da Série A1 do Campeonato Paulista de Futebol de 2019, o árbitro assistente tatuiano Danilo Ricardo Simon Manis teve a rotina alterada devido ao coronavírus.
Mesmo em início de temporada, ele atuou em 13 jogos neste ano, entre os dias 22 de janeiro e 16 de março. Nesse período, Manis participou de nove partidas do “Paulistão”, duas da Copa Sul-Americana, uma da Copa Libertadores da América e uma do Campeonato Paraense.
Somente em 2020, o tatuiano “bandeirou” três clássicos pelo Paulistão: Corinthians e Santos, na Arena Corinthians; São Paulo e Corinthians, no estádio “Cícero Pompeu de Toledo”, o Morumbi; e Guarani e Ponte Preta, no estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas.
Manis foi um dos árbitros assistentes escolhidos para atuar no principal clássico do Pará. Diante de acirrada rivalidade, Remo e Paysandu solicitaram um trio de arbitragem pertencente ao quadro internacional da Fifa (Federação Internacional de Futebol), à FPF (Federação Paulista de Futebol), para comandar o “RePa” no dia 9 de fevereiro.
Contudo, a pandemia da Covid-19 motivou a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e as federações estaduais a suspenderem as partidas de todos os campeonatos continentais, nacionais e regionais. Desde então, Manis permanece em período de quarentena em Tatuí.
“As coisas foram acontecendo gradativamente. As entidades analisaram os casos e decidiram parar no seu devido tempo. Como todos estavam seguindo o caminho da paralisação para prevenção, o futebol era uma questão de tempo, assim como todas as outras modalidades esportivas”, declarou o árbitro assistente.
Neste momento, os únicos países nos quais a bola ainda segue rolando por competições de futebol profissional são: Belarus, na Europa; Nicarágua, na América Central; Burundi, na África; e Tajiquistão, na Ásia.
Sem a realização de partidas por campeonatos oficiais, uma parcela de clubes profissionais de todo o mundo optou por suspender os treinamentos, respeitando as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Há clubes que decidiram dar férias aos atletas e demais funcionários, fechando as sedes sociais e os centros de treinamentos. Ainda há discussões sobre eventual redução salarial dos jogadores durante este período, visto a queda de arrecadação dos clubes.
“Os clubes estão tomando diversas medidas da forma que eles entendem ser correto. No caso da arbitragem, se o profissional não participar de nenhuma partida, não terá salário”, destacou Manis.
Os valores são pagos aos profissionais de arbitragem de acordo com o número de jogos que participam e a chancela que possuem. Acatando pedido da Anaf (Associação Nacional de Árbitros de Futebol), a CBF anunciou, na quarta-feira da semana passada, 1o, um adiantamento aos 486 profissionais do quadro nacional.
Nesta semana, cada juiz e assistente filiado à confederação recebeu o valor referente a uma partida, baseado no maior cachê recebido em 2019, que será abatido do pagamento quando eles voltarem a apitar e bandeirar.
Manis afirmou que os profissionais da categoria devem ser prevenidos para se sustentarem em eventual período sem atuar em jogos. “Nunca imaginamos o cenário que estamos vivenciando, porém, é preciso pensar em situações em que temos de ficar parados por conta de uma lesão, por exemplo. É importante ter uma reserva para esse momento”, apontou.
Para tornar-se árbitro de futebol, o tatuiano participou de curso promovido pela FPF (Federação Paulista de Futebol), entre 2000 e 2001. Posteriormente, fez diversos cursos na própria FPF e na CBF.
Ainda possui formação chancelada pela Fifa (Federação Internacional de Futebol), além de ter ido à Suíça para um curso oferecido pela Uefa (União das Federações Europeias de Futebol).
Recentemente, Manis se habilitou para atuar em partidas que utilizam o VAR (árbitro assistente de vídeo), sistema que analisa as decisões tomadas pelo árbitro principal com a utilização de imagens de vídeo.
Manis realizou o curso de educação física na Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), entre 2000 e 2003, e, de 2010 a 2014, formou-se em fisioterapia pela Unip (Universidade Paulista), em Sorocaba.
Durante o último ano de formação em educação física, o tatuiano começou a estagiar na academia da Associação Atlética XI de Agosto e tornou-se professor no ano seguinte. Com horários reduzidos, trabalhou no local até o final do ano passado.
“Estava complicado conciliar as duas profissões, que possuem um nível de exigência muito grande. Mesmo com horários reduzidos, estava com dificuldades para cumpri-las, e decidimos encerrar esse ciclo de 15 anos no XI de Agosto”, contou.
Apesar de ser início de temporada, período em que os torneios estão começando e há um número maior de clubes em atividade, além da pré-temporada que realizara na Conmebol e na FPF, Manis acredita que já tinha adquirido “ritmo muito bacana de trabalho”.
Na atual temporada, Manis já participou de confrontos em São Paulo, Mirassol, Itu, Campinas, Araraquara, além de atuar em jogos por competições internacionais disputados na Argentina, Uruguai e Venezuela.
Conforme o profissional, durante o Paulistão, a proximidade com Tatuí possibilita que ele se dirija de carro ao local da partida e retorne para casa no mesmo dia. Já no Brasileirão e em países mais próximos, Manis tem de viajar um dia antes do jogo e volta apenas no dia seguinte à partida.
Como exemplo, ele lembra que atuou no dia 5 de fevereiro, em jogo entre Mineros de Guayana e Sportivo Luqueño, válido pela Copa Sul-Americana, em Guayana, na Venezuela.
Devido à distância, ele precisou de mais horas para chegar e voltar do local do jogo, saindo de Tatuí no dia 3 de fevereiro e retornando somente na madrugada do dia 7.
“O período que fico fora de casa é muito relativo. Depende da distância da cidade para aonde é preciso ir e da logística para poder se organizar na parte prévia do jogo”, indicou Manis.
“Meu filho está gostando da ideia de o pai ficar mais tempo na casa. Quero ver quando eu voltar a trabalhar”, brincou.
Na próxima quinta-feira, 16, o árbitro assistente completa um mês sem participar de nenhuma partida, permanecendo em isolamento social na residência dele. Em meio à quarentena, ele pode ficar com a família por mais tempo que o habitual.
Ele revela que a FPF está dando o suporte necessário e orientando os profissionais de arbitragem neste período. A entidade disponibiliza os treinamentos para preparação física, materiais para estudo de situações de jogo e profissional para suporte psicológico.
“A federação permite que marquemos um horário, caso desejarmos conversar com um profissional por chamada de vídeo, via WhatsApp. Recebemos algumas tarefas de análise de vídeo para que continuemos estudando neste período”, expôs.
“Na realidade, não parou. Continuamos a fazer as atividades para nos aperfeiçoarmos a cada partida. A diferença é que, com essa situação atípica da Covid-19, estamos fazendo tudo da própria casa”, complementou.
Com as atividades a serem desenvolvidas, Manis aponta que dá para montar um cronograma para seguir ao longo da semana. Contudo, depende de cada profissional realizar os exercícios, assim como ter cuidado com a questão alimentar.
“Com tanto tempo livre na casa durante a quarentena, aos poucos, vão se acabando as opções do que se pode fazer. Desta forma, podemos ser atraídos a comer mais vezes ao dia. Porém, longe da rotina habitual, acabamos queimando menos calorias”, indicou.
“Em uma rotina normal, na rua, as pessoas conversam e interagem, mantendo uma certa queima calórica. Estando dentro da casa, é normal ficar mais tempo comendo e deitado”, completa o profissional de educação física.
Com somente três anos de idade, o filho de Manis tem sido o companheiro dele para desenvolver as atividades físicas. “Ele gosta de correr. Me dá uma canseira, porque já está correndo mais do que eu”, revelou.
Questionado se o filho deve seguir a carreira do pai, o árbitro assistente deixa o futuro em aberto. Segundo Manis, daqui a alguns anos o filho deve entender melhor o motivo de vê-lo trabalhando na televisão.
“Se ele quiser seguir, vai ter meu apoio, assim como eu darei todo suporte necessário se ele escolher outra carreira. O importante é conversar, explicando os prós e os contras”, observou Manis.
O tatuiano garante que a profissão da arbitragem traz muitos benefícios pessoais. Manis assegura que, “caso a arbitragem não formar um grande profissional, sem dúvidas, irá gerar um ótimo cidadão”.
“Os profissionais da arbitragem têm de ser muito disciplinados e pacíficos. É muito importante ter um autocontrole e paciência para ponderar as inúmeras situações de atritos que podem acontecer em uma partida de futebol”, ressaltou.
“A profissão ainda faz o lado humano prevalecer. Viajando muito, nós conhecemos culturas diferentes e aprendemos a nos virar sozinhos. Isso faz com que a pessoa seja mais humilde e estabeleça muitas relações”, reforçou.
Por fim, Manis pede que o tempo livre imposto pela atual situação seja utilizado para “reflexão e que cada um possa aproveitar a família”. “Neste momento, não cabe vaidade. Esta situação está mostrando que, independente de classe econômica ou social, somos todos iguais e estamos todos na mesma condição”, finalizou o árbitro assistente tatuiano.