Da reportagem
Um grupo de amigos de Tatuí se juntou para ajudar os profissionais de saúde no enfrentamento ao coronavírus. Eles transformaram uma fábrica de brinquedos pedagógicos em uma oficina para a confecção de máscaras de proteção facial e criaram uma adaptação do modelo “face shield” para doar às unidades de saúde da cidade e da região.
Segundo os voluntários, o EPI (equipamento de proteção individual) aumenta a vida útil das máscaras de proteção já utilizadas nas unidades de saúde e, por proteger todo o rosto, evitam que os profissionais que estão na linha de frente do atendimento tenham contato com gotículas dos pacientes infectados.
O projeto solidário, denominado “Amigos em Ação” reúne profissionais de diversas áreas e membros de grupos como Rotary Club e Loja Maçônica Acácia. Somente no final de semana, foram produzidas mil peças do EPI.
A produção começou no sábado, 28 de março, com aproximadamente 20 voluntários. No dia, os amigos produziram 500 peças. Já no domingo, 29 de março, outras 500 unidades foram confeccionadas.
A estimativa é de se entregar 1.800 unidades. Tatuí recebeu na segunda-feira, 30 de março, uma remessa com 500 peças. Além das unidades de saúde, entidades como o Lar São Vicente de Paulo também receberam o equipamento de proteção.
A estimativa é de que haja pelo menos 900 profissionais atuando na cidade. Com isso, uma segunda remessa de mascaras está sendo produzida para atender ao restante. Outras peças foram feitas para serem doadas aos profissionais de saúde de Cesário Lange, Promissão e Piraju.
O empresário Josué Vianna Maragno, proprietário da Arteset Brinquedos Pedagógicos, contou a O Progresso que a ideia de fabricar as máscaras surgiu depois que ele viu uma reportagem na televisão falando sobre a confecção do produto para aumentar a vida útil da N95, que já é usada pelos profissionais de saúde.
“Vi que algumas empresas estavam fazendo essa máscara em uma impressora 3D. Como conheço alguns materiais e algumas máquinas, vi que isso era muito legal, mas também demorado. Então, pensei em outros métodos que pudessem ser mais rápidos e produzir em maior quantidade”, disse Maragno.
O empresário explicou que a produção do mesmo modelo em uma impressora 3D caseira leva em torno de sete horas. O tempo poderia ser reduzido para três horas, caso o equipamento utilizado fosse profissional. Mas, mesmo assim, a produção diária ainda seria pequena.
“Pensei em fazer algo que suprisse pelo menos mil ou 2.000 unidades. Com isso, fui vendo alguns materiais e criando a peça. Fiz um protótipo, vi que deu certo e convidei alguns amigos. Eles gostaram da ideia e, prontamente, começaram a me ajudar”, afirmou o empresário.
Para a produção, o grupo comprou o material. Também houve doações em dinheiro, além do trabalho voluntário. Com isso, a versão da máscara produzida pelos amigos tem custo de, aproximadamente, R$ 2,50 por unidade, enquanto que as são vendidas podem chegar a R$ 150.
“É uma diferença muito grande de preço. Além disso, vamos conseguir produzir 1.800 peças, para atender quatro cidades da região. Para quem está na linha de frente este material vai fazer muita diferença. Nós não podemos estar no lugar deles, então, essa é a nossa contribuição”, salientou o empresário.
O dentista e past-presidente do Rotary Club de Tatuí, José Eduardo Cantieri da Costa, é um dos voluntários que ajudou o empresário na produção das máscaras e contou que a iniciativa de Maragno foi ao encontro dos ideais da instituição.
Costa contou que já tinha começado um projeto com colegas de profissão no Centro de Especialidade Odontológica, do serviço público – onde ele atua como coordenador -, no intuito de criar mais uma barreira de proteção contra o vírus. Eles criaram uma versão da “face shield” com uma folha de transparência e um elástico na parte posterior.
Segundo o dentista, as primeiras dez unidades da primeira versão do EPI foram utilizadas pelos profissionais da área odontológica durante uma semana, enquanto ele começou a procurar parceiros para melhorar o produto.
“A princípio, peguei um colega de profissão que tem impressora 3D, fizemos a primeira e partimos dali para que este projeto fosse estendido para todos os dentistas da rede pública, de cerca de 44 profissionais. Neste intermédio, recebi o contato do amigo Josué (Maragno), e nasceu a ideia de unir os projetos”, mencionou Costa .
Ele enfatizou que todos os equipamentos serão destinados aos profissionais de saúde, desde os médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem até o pessoal da recepção e limpeza dos hospitais e unidades de saúde.
“Desenvolvemos um protótipo muito mais rápido de ser confeccionado, com um preço superacessível. O objetivo da ação dos amigos é atender todos os funcionários da rede pública, sem exceção”, reforçou o dentista.
Costa ressaltou que o equipamento protege o rosto todo, desde a testa até o pescoço. Contudo, ponderou que a “face shield” não substitui os outros EPIs, como as máscaras faciais, óculos de proteção, luvas e outros itens que já são usados pelos profissionais de saúde.
“A ideia é que a gente consiga criar uma barreira paralela com a máscara adicional e que ela seja totalmente eficiente, para evitar que as secreções e gotículas do paciente atinjam o pessoal que está na linha de frente do combate”, assegurou o dentista.
O clínico-geral Patrick Ângelo Pinto, venerado da Loja Maçônica Acácia de Tatuí e um dos voluntários do projeto, também falou sobre os benefícios da máscara criada pelos amigos para a proteção dos profissionais que estão atuando no sistema de saúde.
“É um vírus recente, extremamente contagioso e com grande capacidade de infecção, então, precisamos de um material de proteção mais completo. Esse EPI vai complementar os outros e trazer mais segurança aos profissionais de saúde”, reforçou o médico.
Ele acentuou que, embora a máscara tenha “mais presença”, não significa que a situação esteja mais grave e reiterou que o equipamento é apenas uma proteção extra para o profissional.
“A ‘face shield’ pode ser desinfetada e o profissional poderá continuar usando por muito tempo, mas a principal função é preservar a N-95, que está muito difícil de encontrar e as que você encontra têm um valor muito maior do que seria o habitual”, comentou o médico.
Ele ainda ressaltou que o material é uma forma eficaz de evitar que o profissional de saúde fique doente, principalmente no período mais agudo da pandemia. “Assim nós vamos proteger os profissionais e ter pessoal para atender todo mundo”, assegurou.
“Se eles (os profissionais de saúde) ficarem doentes, não temos nem quem colocar no lugar daquele que adoeceu. Por isso, eles precisam de mais equipamentos e de medidas um pouco mais extremas, para que não haja contágio inicial. Tenho certeza que isso vai ajudar muito”, completou o médico.
A produção das máscaras continua nesta semana. Como ainda não foram confeccionadas as 1.800 peças, os voluntários vão produzir mais unidades durante a semana e encaminhá-las para as Secretarias Municipais de Saúde para atender à demanda.
Além disso, Maragno apontou que o grupo de amigos pode ajudar outras cidades da região, não só confeccionando as peças, mas também ensinando outros grupos a produzirem o equipamento.
“Nós já temos o projeto, a experiência com essa linha de produção, então, nada melhor doar o que temos. Conseguimos ir para outra cidade ajudar, ou até mesmo passar a ideia, o conceito, para que mais façam isso”, destacou o empresário.
Quem quiser colaborar com o projeto deve entrar em contato com os grupos envolvidos na ação, por meio das páginas oficiais de cada entidade, como no https://www.facebook.com/ArteSetOficial/ e https://www.facebook.com/RotaryTatui/.
“Nós juntamos um grupo para que também não haja muita aglomeração de pessoas aqui, mas é possível que a gente receba doações de tudo tanto na forma de dinheiro como na forma de mão de obra, de carinho, um alimento, um café. Enfim. Qualquer maneira de ajuda é muito bem-vinda”, concluiu o empresário.