Dr. Jorge Sidnei R. da Costa – Cremesp 34708
O parasitismo intestinal ainda é um dos mais sérios problemas de saúde pública no Brasil e compromete de forma heterogênea cerca de 25% da população mundial.
Parasitoses intestinais são doenças causadas por vermes e protozoários (seres muito pequenos que não podem ser vistos a olho nu, somente com a ajuda de microscópio). Embora mais prevalentes nas regiões carentes de saneamento básico, as parasitoses atingem todas as camadas da população, nas diversas faixas etárias.
Mesmo as pessoas mais cuidadosas com a higiene pessoal e familiar e que vivem em regiões de saneamento adequadas estão expostas às parasitoses intestinais. Isso porque estamos diariamente em contato com pessoas que podem estar infectadas, seja na rua, em casa, no trabalho ou em qualquer lugar.
As parasitoses prejudicam a saúde e podem ter consequências graves para adultos e crianças. Por isso, precisam ser prevenidas e tratadas adequadamente. Em função da alta prevalência de poliparasitose, ou seja, a infestação por mais de um parasita, a OMS recomenda tratamentos de amplo espectro de ação.
Transmissão
Os parasitas intestinais, que podem ser helmintos ou protozoários, podem ser adquiridos de duas formas: por meio da contaminação oral (a partir da ingestão dos ovos ou cistos dos parasitas) ou através da penetração de larvas na pele (quando entramos em contato com as larvas de determinados parasitas encontradas no solo).
A reprodução dos parasitas acontece por meio de ovos, que geram uma larva em seu interior. Portanto, quando a larva permanece dentro do ovo, só existe uma maneira de infectar um novo hospedeiro, que é pela ingestão de alimentos, água e mãos contaminadas em contato com a boca.
Quando as larvas de determinados parasitas se encontram no ambiente, no lixo ou nas fezes de animais, por exemplo, a transmissão pode ocorrer através da pele que entra em contato com essas larvas quando andamos descalços ou manuseamos o lixo de forma inadequada.
Para evitar a contaminação, no seu dia a dia, é necessário tomar alguns cuidados, como proteger os alimentos de insetos e poeira, cuidar da higiene diária do corpo, das mãos e das roupas íntimas e de cama.
Principais tipos
Amebíase (Entamoeba histolytica). A amebíase tem duas formas clínicas: intestinal e extraintestinal. A colite não disentérica é, atualmente, a mais frequente, com desconforto abdominal leve ou moderado, cólicas, tenesmo, diarreia, alternando com ritmo intestinal normal ou constipação, podendo haver sangue e/ou muco nas fezes.
Cristosporidíase (Cryptosporidium parvum/Crystosporidium homini). É responsável por diarreia esporádica em todas as idades, diarreia aguda em crianças e diarreia dos viajantes. Indivíduos imunocompetentes podem ser apenas portadores assintomáticos ou apresentar um quadro febril, diarreia e vômitos, entre 1 e 20 dias, com duração média de dez dias.
Em imunodeprimidos, particularmente com infecção por HIV, ocasiona enterite grave, caracterizada por diarreia aquosa, acompanhada de dor abdominal, mal-estar, anorexia, náuseas, vômitos e febre.
Esses pacientes podem desenvolver diarreia crônica e severa, desnutrição e morte fulminante. Nessa situação, podem ser atingidos os pulmões, trato biliar ou surgir infecção disseminada.
Giardíase (Giardia lamblia). A maioria das infecções é assintomática, podendo ocorrer tanto em adultos quanto em crianças. A infecção sintomática pode apresentar-se de forma aguda, com diarreia, distensão e dores abdominais e vômitos ou crônica, caracterizada por fezes pastosas, fadiga, anorexia, flatulência e distensão abdominal e alternância do ritmo intestinal.
As diarreias prolongadas podem evoluir para síndrome de má absorção, com perda de importantes nutrientes e vitaminas. Não raramente, ocorre perda de peso e anemia e perversão do apetite, ou conhecida como picomalácia (a criança pode comer terra, sabão, espuma de sabão e outras coisas estranhas).
Outras parasitoses: ancilostomíase, ascaridíase, balantidíase, blastocitose, enterobíase, esquistossomose mansônica, estrongiloidíase, himenolepíase, teníase e tricuríase.
Prevenção
A prevenção, o tratamento e o controle de verminose podem ser feitos a partir da adoção de medidas simples no cotidiano familiar e domiciliar, como o hábito de lavar as mãos frequentemente, higienizar adequadamente os alimentos antes do consumo e evitar andar descalço.
Embora sejam mais comuns em regiões carentes de saneamento básico, as parasitoses atingem todas as camadas socioeconômicas da população, em diversas faixas etárias. Portanto, a prevenção vale para todos!
O controle e a prevenção são feitos por meio de melhorias nas condições de saneamento básico através dos órgãos governamentais responsáveis, de educadores, profissionais de saúde e da comunidade.
Saneamento
Tratamento e fornecimento de água potável; eliminação dos focos de contaminação (lixo e esgoto a céu aberto); coleta de lixo regular; implantação de sistemas de tratamento de esgoto; educação da população sobre a prevenção.
Higiene pessoal
Lave bem as mãos, com água e sabão, antes das refeições e após usar o banheiro; mantenha as unhas aparadas e evite colocar a mão na boca; tome banho diariamente; lave bem as roupas íntimas e de cama; ande sempre calçado, principalmente nas áreas onde não há esgoto encanado; evite brejos e água parada.
Higiene doméstica
Mantenha a casa e o terreno em volta sempre limpos, evitando a presença de moscas e outros insetos; mantenha os cestos de lixo e a caixa d’agua sempre bem fechados; não deixe as crianças brincarem em terrenos baldios, com lixo ou água poluída; evite animais dentro de casa; se os tiver, cuide da higiene deles, dos locais onde costumam ficar e não se esqueça de fazer visitas periódicas ao veterinário.
Tratamento
O gastroenterologista é o médico especialista no sistema digestório, responsável pelo estudo, diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças e disfunções do aparelho digestivo, inclusive, as parasitoses.
Também faz parte da função do gastroenterologista orientar seus pacientes em relação aos hábitos alimentares e a uma vida saudável, procedimentos importantes para evitar as doenças gastrointestinais.
O objetivo do tratamento é evitar o contágio e interromper o ciclo de transmissão, utilizando as dicas de prevenção e as medidas de higiene necessárias, além de eliminar do organismo os parasitas já existentes.
Deve ser feito sempre conforme orientação médica e com medicamentos específicos que combatam o maior número possível de parasitas intestinais, já que pode haver infecção por mais de um parasita ao mesmo tempo.
Fonte: folheto sobre Guia de Prevenção de Parasitoses Intestinais do Laboratório Aché
* Médico pediatra com TEP em pediatria pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e membro da SBIM (Sociedade Brasileira de Imunizações) e diretor clínico da Alergoclin Cevac desde 1982.