As surpresas são uma constante, sem dúvida. Nunca foi tão atual aquela velha e manjada expressão segundo a qual, “quando a gente pensa que já viu de tudo…”, acontece algo completamente inesperado, surpreendente.
Explicando: há poucas semanas, este espaço serviu para argumentos de defesa às chamadas “minorias”, essa parcela da população comum e historicamente tão hostilizada quanto inferiorizada em termos de perspectivas de futuro promissor.
Fazem parte desse grupo, grosso modo, as classes sociais inferiores (os pobres, em linguagem clara), tal como negros, homossexuais (ou LGBTs), antigos “retirantes” ou “forasteiros” (atuais imigrantes da Venezuela, por exemplo), indígenas e, entre outros mais, até as mulheres – ainda vítimas de violência, cujas ocorrências têm aumentado, segundo os próprios índices oficiais.
Naquela ocasião, aqui defendia-se a importância do respeito à diversidade, às particularidades do “outro” (sexuais, inclusive), da tolerância em benefício da paz e do combate aos preconceitos. Isso tudo para a própria subsistência do estado democrático de Direito.
O motivo da manifestação fora a tentativa de proibição de um gibi em que dois personagens masculinos se beijam… Tratava-se, portanto, de um posicionamento não contra a “família”, mas francamente um repúdio à homofobia – até porque, todo indivíduo, independentemente da sexualidade, possui pai, mãe, irmãos e (pasmem os extremistas!) têm até sentimento. Sentem dor… Muitas vezes, mais até emocionais que físicas…
E não nos parece, neste sentido, ser nada “familiar” – exemplo de (boa) paternidade/maternidade -, sair por aí ofendendo e agredindo outros seres humanos somente porque eles não comungam das mesmas crenças, posturas, etnias ou sexualidade que o suposto(a) exemplar pai/mãe de família.
Tem nome esse tipo de atitude preconceituosa, categorizada de maneira distinta e com nomenclaturas por demais conhecidas: homofobia, racismo, xenofobia, machismo…
(Claro, tem quem some todos esses preconceitos, como uma espécie delirante e deturpada de filosofia de vida – como Hitler, por exemplo! Mas, para a sorte do planeta, ainda não são muitos os deste naipe, embora estejam em acelerada proliferação, nutridos pelas redes socias).
Após o temerário introito, segue-se o tema desta edição, com foco em outro segmento social marginalizado – senão o mais apartado de todos: a população negra.
Até pouco tempo atrás, quase todos teriam receio até de relembrar alguma antiga anedota figurada por negros, somente o fazendo aos sussurros ou em espaços seguramente garantidos pelo revestimento acústico. Agora, já é de se ficar em dúvida…
Afinal, LGBTs andam sendo muito mais agredidos, sem cerimônia ou disfarce; as mulheres andam apanhando muito mais, em claro “desempoderamento” feminino; índios estão perdendo suas reservas, seja pela força ou pelo fogo…
Será, também, que o mínimo respeito conquistado pelos negros após séculos de escravidão, exploração, opressão e ódio, de repente, também está em risco?
Pelas manifestações deste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, parece que não. Mas, será mesmo? Será que muita gente (na internet, em particular), pelo simples fato de estar se deparando com esta singela manifestação contra o racismo, não estaria, agora mesmo, torcendo o assoberbado nariz branco?
Mesmo com esta dúvida, vai mais uma – talvez – perigosa opinião: o racismo é idiota! Uma das mais rasteiras, injustificáveis e inadmissíveis expressões do que há de pior no ser humano, algo desprezível e que vai “de” encontro ao processo civilizatório e “ao” encontro de um passado tenebroso – embora algo tão típico da contemporaneidade…
No outro posicionamento – o da solidariedade para com os desafios da “diversidade de gênero” -, um intelectual do “Face” chegou a questionar se este editorialista teria filhos, simplesmente por utilizar-se deste espaço no jornal para criticar a homofobia.
Então, dirigindo-se a esse Sócrates da modernidade digital – como representante de outros mais seguidores da filosofia do “ser superior”, da “pureza de raça”, do “verdadeiro cristão” (sai um pouco do “Zap” e estuda nazismo/Nietzsche para entender), este editorialista já se adianta para responder: tem filhos, sim, e “brancos”…
Porém, querido, não é preciso ser pai para escapar à ignorância grotesca, tal como não há obrigação de ser gay para se indignar com a injustiça; como não importa a cor da pele para possuir sensibilidade; como tanto faz o sexo para sentir a dor alheia…
Quanto aos filhos, os exemplos que damos a eles, no dia a dia, certamente é o melhor e mais contundente legado a deixarmos-lhes.
Se nos comportamos com bom-caratismo, respeito e “amor ao próximo”, estaremos criando melhores cidadãos para o futuro, mais esclarecidos e menos desprovidos de toda sorte (ou azar) de fúria ignóbil e preconceitos medíocres.