A Polícia Civil registrou duas mortes por enforcamento durante a última semana do mês de prevenção ao suicídio, o “Setembro Amarelo”. Os casos aconteceram nos dias 25 e 27 de setembro, no Jardim Santa Rita de Cássia, vitimando um jovem de 14 anos e um metalúrgico de 36, respectivamente.
Conforme boletim de ocorrência, o garoto foi encontrado por familiares, por volta das 13h, enroscado em uma corda, que estava pendura em um caibro de madeira, em cima de um poço, nos fundos da casa da vítima.
Os familiares cortaram a corda, retiraram o jovem do local e acionaram equipes do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e da Polícia Militar para tentar salvá-lo.
Segundo o Samu, os socorristas tentaram reanimar o jovem, que havia sido colocado em um sofá na garagem, do lado de fora do imóvel, porém, não conseguiram, e o médico da equipe constatou o óbito no local.
A PM preservou a residência até a chegada da equipe do Instituto de Criminalística e, após a perícia, o carro da funerária retirou o corpo da vítima.
Já o metalúrgico foi encontrado, por volta das 17h de domingo, suspenso por uma corda amarrada no madeiramento do forro da casa. De acordo com o boletim, um parente da vítima foi até o imóvel e encontrou o corpo já sem vida.
Equipes do Samu, da PM e da perícia técnica da PCl foram acionadas para atender à ocorrência e uma médica constatou o óbito, descrevendo que o corpo apresentava rigidez cadavérica e cianose generalizada (cor azulada da pele). A cena foi preservada até o comparecimento do IC.
Ainda conforme o boletim, em outro cômodo da casa, foi localizado um bloco com anotações feitas pela própria vítima, descrevendo a intenção suicida. As anotações foram apreendidas e as razões da morte deverão ser analisadas pela PC.
Setembro Amarelo
Durante todo o mês, com o tema “Todos Pela Vida – Falar é a Melhor Solução”, órgãos das Secretarias de Saúde e de Trabalho e Desenvolvimento Social, da prefeitura, promoveram uma série de atividades voltadas à prevenção de suicídios. Todas com entrada gratuita.
De acordo com a psicóloga Lucimara Rosa Ribeiro de Paula, da unidade de saúde do CDHU, atualmente, o suicídio se apresenta como uma “grave” questão de saúde pública. Segundo registros da OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano (os números são referentes a 2016).
“Nós sabemos que o suicídio é uma tragédia que acontece o ano inteiro, mas, assim como outras campanhas, setembro foi um mês escolhido para refletir e estar discutindo estratégias de prevenção, buscando a redução do número de casos de suicídio”, apontou a psicóloga.
O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios, registrando, em média, 13 mil casos por ano – isto é, 31 mortes por dia -, sendo o número de homens quase quatro vezes maior que o de mulheres.
Lucimara ainda ressaltou que esses números podem diminuir se aumentarem os debates sobre o assunto e ações como o “Setembro Amarelo”. A afirmação é confirmada por dados da OMS, que estima que 90% dos casos podem ser evitados quando há oferta de ajuda.
Entre os fatores de risco para o suicídio, a profissional destaca as tentavas prévias. Segundo ela, quem já tentou o suicídio tem um risco ainda maior de tirar a própria vida. “Toda tentativa precisa ser olhada com atenção”, diz a psicóloga.
Ela aponta que os sintomas nem sempre são visíveis, mas existem alguns “sinais” e comportamentos que devem ser analisados, como as manifestações verbais, que incluem baixa autoestima, perda de interesse ou prazer pela vida, tristeza e ansiedade.
“A pessoa que tem intenção de atentar contra a própria vida vai dando diversos sinais de que algo está errado e de que ela está passando por problemas. Uma das coisas mais fáceis de identificar são frases como: ‘eu quero sumir’, ‘vou deixar vocês em paz’, ‘minha vida não vale nada’, entre outras coisas. Essas manifestações não podem ser ignoradas”, comentou.
Segundo a psicóloga, pessoas com doenças mentais como a depressão, transtorno bipolar e de ansiedade são as mais suscetíveis ao suicídio. Ela ainda inclui, como fatores de risco, o alcoolismo, uso e abuso de substâncias entorpecentes e a esquizofrenia.
De acordo com Lucimara, em Tatuí, o principal ponto de apoio para as pessoas com transtornos psicológicos e emocionais é o Caps (Centro de Atenção Psicossocial), na rua Virgílio de Montezzo Filho, 201, no bairro Nova Tatuí. A unidade é especializada em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente.
Ela ainda lista, como ponto de auxílio profissional, o Pronto-Socorro Municipal, Samu 192, as unidades básicas de saúde, Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e ESFs, que oferecem atendimento interdisciplinar, com médicos, assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras, entre outros especialistas.
Além disso, a psicóloga destacou o auxílio prestado pelo CVV (Centro de Valorização da Vida). A organização realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar.
O CVV oferece apoio emocional e prevenção do suicídio durante 24 horas, por meio de chats online, ligações ou mesmo e-mail. Não é necessário se identificar e a pessoa pode ligar quantas vezes quiser.
O atendimento é feito pelo telefone 188 (ligação gratuita, a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular) ou pelo endereço eletrônico https://www.cvv.org.br/quero-conversar.