Daqui a uma semana, tem início a sétima edição da mais que bem-sucedida Feira do Doce – o maior e mais significativo exemplo de que, além dos atributos “naturais”, é possível “criar” público a partir de ações criativas, boa-vontade e trabalho.
Muito melhor se as ações, por sua vez, têm como base as tradições, as raízes culturais e folclóricas de cada região, de cada comunidade. No caso da feira, concretizou-se uma grande realização justamente maturada com ingredientes tipicamente tatuianos: a confecção de doces caseiros.
O resultado da observação pertinente sobre uma saborosa peculiaridade local e da crença em seu potencial turístico levou a iniciativa a tornar-se o maior sucesso na área de eventos nos últimos anos.
A Feira do Doce cresceu tanto que, no passado, ganhou mais um dia de programação, passando de três para quatro, envolvendo o final de semana e o feriado estadual de 9 de julho (Dia da Revolução Constitucionalista).
Já com projeção nacional, a Feira do Doce explora, com competência e muito senso de oportunidade – pelo paladar -, a marcante tradição tatuiana dos produtos caseiros, levando a cidade a também ser conhecida, nos anos recentes, como a “Terra dos Doces Caseiros”.
O evento acontece na Praça da Matriz, sempre no período do inverno, por conta das temperaturas mais amenas, uma vez que o frio facilita tanto o processo de produção como a preservação dos doces.
Criado em 2013 como uma “festa”, o evento tem somado números expressivos, chegando a comercializar mais de 190 mil doces, de mais de 250 tipos e oferecidos por cerca de 50 produtores.
Apadrinhada pela atriz tatuiana Vera Holtz e pelo doceiro Lucas Corazza, a feira ainda conta com festival musical, no qual grupos convidados apresentam-se no coreto da Praça da Matriz.
Juntar a música com os doces, claro, seria algo natural e, novamente, com sucesso garantido. Não obstante, é justo reforçar que, além dos patrimônios de interesse turísticos já notórios e plenamente estabelecidos – como a música em Tatuí, particularmente pela existência do Conservatório -, o investimento em algo novo, desde que identificado com o “típico” local, pode render ainda mais resultados.
O fato é que, no momento, além da música, os doces caseiros se constituem na tradição que mais tem ganhado reconhecimento como patrimônio tatuiano. Nos anos recentes, inclusive, tornaram-se a principal atração turística da Cidade Ternura, somando mais de 90 mil visitantes a cada edição da Feira do Doce.
Entre as guloseimas tradicionais, destacam-se os doces ABC, produzidos, desde a década de 1950, com abóbora, batata-doce (branca e roxa) e cidra, produtos típicos da agricultura local. A produção atinge média de uma tonelada por semana, sendo intensificada nos meses de junho e julho.
Constantes em todo o ano, as vendas crescem nesse período, por causa das festas juninas e da Feira do Doce, presente no Calendário Turístico Oficial do Estado de São Paulo desde julho de 2015.
Belarmina de Campos Oliveira é apontada como precursora na produção dos doces ABC, tendo iniciado a manufatura na própria casa e inspirado outras doceiras a também se dedicarem ao fabrico.
O processo de produção leva dois dias, no mínimo. Uma vez feita, a massa é pingada manualmente, uma a uma. Em seguida, os doces são postos em uma estufa, para secagem. A receita é executada em duas etapas e garante o diferencial do doce: o recheio cremoso.
O sucesso dos doces ABC estimulou a profissionalização e consequente fundação de várias docerias, as quais ajudam a projetar o nome de Tatuí nacionalmente como “Terra dos Doces Caseiros”.
Em 5 de outubro de 2015, após ampla mobilização popular, foi promulgada a lei municipal 4.972, que declarou os doces ABC como patrimônio cultural e imaterial da gastronomia tatuiana.
Não seria exagero esperar que a feira deste ano ultrapasse público de cem mil pessoas, projetando ainda mais Tatuí no cenário turístico e, em simultâneo, beneficiando o município como um todo, considerando-se o consumo e os serviços a serem utilizados pelos visitantes.
Fantástico! Isso, sim, é uma doce iniciativa, não apenas na boca de criança, mas nos bolsos de muita gente que, com empenho e perseverança, ajudou e continua a ajudar no esforço de bem explorar as riquezas da Cidade Ternura.