A prefeitura, por meio da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social, em parceria com o (Creas) Centro de Referência de Assistência Social e com colaboração da Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José, está intensificando, nas noites de inverno, o Serviço Especializado em Abordagem Social, direcionado a pessoas em “situação de rua”.
De acordo com o secretário Alessandro Bosso, durante as últimas noites, em que os termômetros têm registrado baixas temperaturas, a equipe do Creas tem saído a campo para abordar pessoas em situação de rua, com o objetivo de encaminhá-las ao serviço de acolhimento e protegê-las do frio intenso.
O secretário ressalta que a ação de inverno, na verdade, é uma intensificação do serviço já oferecido durante todo o ano. Ele conta que, todos os dias, equipes trabalham na busca de pessoas em situação de rua para ampará-las e incluí-las nos serviços de atendimento social.
“Temos uma pessoa contratada, que sai à noite e, durante a manhã, com as informações que foram colhidas à noite, o Creas já sai em busca das pessoas para tentar trabalhar com elas”, explicou.
Quando há consentimento por parte dessas pessoas, a equipe as leva até o serviço de acolhimento, para que possam se alimentar, realizar a higiene pessoal e dormir até o amanhecer, para que não fiquem expostas ao frio.
Bosso conta que muitos deles não aceitam ajuda e acrescenta que o trabalho realizado pelo setor é feito de forma contínua. “É um trabalho de ‘formiguinha’ e de insistência. Temos que ir atrás deles sempre, buscando conscientizá-los sobre a situação de vulnerabilidade em que eles estão”, ressaltou.
Quando a equipe não consegue convencer essas pessoas a aceitarem a ajuda oferecida, ela retorna nas noites seguintes, de modo que, gradativamente, obtenha a confiança das pessoas em situação de rua, fazendo com que elas aceitem ser incluídas no serviço.
“Já fazemos isso durante todo o ano, mas, no inverno, nossa equipe quer evitar maiores riscos à saúde dessas pessoas, devido ao frio intenso. A intenção é abrigá-los em um lugar onde possam se alimentar, tomar um banho e dormir”, explicou.
No início da atual gestão, em janeiro de 2017, havia 37 pessoas em situação de rua em Tatuí. Elas se concentravam em lugares como o Mercado Municipal, posto de combustível desativado às margens da rodovia Antônio Romano Schincariol (SP-127), rodoviária, próximo ao asilo e ao velório municipal, em frente a uma loja de móveis no início da rua 11 de Agosto, na Praça da Matriz, na praça Santa Cruz, próximo a uma farmácia do bairro 400 e na estação ferroviária.
O último levantamento registrou diminuição significativa no número de pessoas em situação de rua na cidade, que baixou de 37 para 25 – ou seja, 12 pessoas que aceitaram a ajuda oferecida foram beneficiadas e deixaram de perambular pelas ruas de Tatuí no período.
Bosso ainda ressalta que a população em situação de rua é confundida com usuários de álcool, com quem formam laços de amizade, gerando confusão quanto a quem, de fato, está sem opção na rua.
“Algumas das pessoas que vemos pedindo esmolas, na verdade, não são moradores de rua. Eles têm casa e, após passar o dia perambulando, acabam voltando para a moradia deles no período da noite. Tanto é que, às vezes, é difícil encontrá-los; eles somem”, comentou Bosso.
O gestor municipal da Assistência Social, Edmar Pereira, explica que, quando se fala em pessoas em situação de rua, é importante ter em mente que cada uma delas possui realidade diferente, mas que acabam se unindo por situações em comum.
“A condição de pobreza absoluta, geralmente causada por vínculos interrompidos ou fragilizados entre os familiares ou com a comunidade de origem, muitas vezes, acaba fazendo com que essas pessoas optem por encontrar, nas ruas, moradia e sustento, temporariamente ou de maneira definitiva”, acrescentou Pereira.
Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no ano de 2015, mostra que o Brasil não possui dados oficiais sobre a população em situação de rua, o que prejudica a implementação de políticas públicas voltadas a essas pessoas.
No entanto, estima-se que existam mais de 100 mil pessoas em situação de rua no país, sendo que, desse total, 77,02% habitam em municípios com mais de 100 mil habitantes.
Bosso lembra que, devido ao fato de a cidade de Tatuí estar situada próxima a grandes centros urbanos, como Sorocaba, Campinas e São Paulo, e também por ser margeada por duas importantes rodovias paulistas, Castello Branco e Raposo Tavares, o fluxo migratório de pessoas em situação de rua é alto.
Entre a população que está nessa condição e migrando para outras cidades, há registros de que o Serviço da Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José atenda, em média, de sete a dez pessoas por dia, totalizando entre 210 e 300 ao mês.
Essas pessoas são tidas como “transitórias”. Conforme o secretário, a prefeitura tem promovido diversas ações com o intuito de oferecer ajuda. Uma delas é a abordagem social, em que a equipe busca promover a acolhida através do diálogo.
Também é feito o apoio socioassistencial com psicólogos e assistentes sociais, que analisam as demandas dos usuários, promovem a orientação individual e grupal, visando oportunizar a construção de novos projetos de vida, além de encaminhamentos a outras políticas públicas, como atendimento de saúde e provisão de documentação civil, entre outros serviços.
Bosso afirma que a cidade já tem estrutura estabelecida para atender à maioria das demandas. “Quando chega alguém de fora e começa a perambular pela cidade em busca de ajuda, imediatamente, nossa equipe é acionada e tenta conversar com a pessoa para saber das necessidades dela. Na medida do possível, procuramos ajudar a cada uma das pessoas”, acentuou.
Outro serviço oferecido é a possibilidade de pernoitar na Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José, organização da sociedade civil conveniada com o município. O secretário salienta que, na casa, também é disponibilizado atendimento assistencial.
“Sempre visando a superação das vulnerabilidades, acesso a espaços de guarda de pertences, de higiene pessoal, de alimentação e provisão de documentação civil, além de disponibilizar endereço institucional para utilização, como referência do usuário”, acrescentou.
Outra medida existente é a alimentação do Sistema de Registro dos Dados de Pes-soas em Situação de Rua, bem como o encaminhamento para a cidade de origem, quando há interesse por parte do usuário.
Além das medidas já existentes, Bosso afirma que o departamento de assistência social vem estudando formas de melhorar os serviços e oferecer novas alternativas.
Ele revelou que uma das estratégias que podem ser incluídas nos próximos dias é o acompanhamento por uma psicóloga na equipe do Serviço Especializado em Abordagem Social.
“Vamos tentar dar o máximo de ferramentas possível para estruturar estes serviços para a comunidade, para as famílias em situação de vulnerabilidade social”, garantiu Bosso.
Como ajudar
Bosso lembra que a população também pode contribuir com o projeto, praticando “ações simples”. Ele afirma que a mais importante delas é não dar esmolas, devido ao fato de que, muitas vezes, o dinheiro doado pelos munícipes é utilizado na compra de bebidas alcoólicas e drogas.
O secretário explica que a maioria das pessoas que está em situação de rua enfrenta problemas com drogas e álcool e que, quando recebe esmolas, isso acaba estimulando o vício e acarretando a permanência dessas pessoas nas ruas, colocando em risco a saúde delas e dificultando o trabalho da equipe da Assistência Social.
“É muito bom para eles receber esmolas, alguma comida, um cobertor, mas existe todo um trabalho social envolvido no acolhimento que não existe quando eles apenas recebem esmolas. Não adianta você dar algo para a pessoa hoje e amanhã ela não ter nenhum amparo”, comentou Bosso.
Ele reforça que, ao ver uma pessoa em situação de rua, é necessário encaminhá-la ao serviço social. Ele explica que, durante o dia, é disponibilizado o atendimento pela equipe do Creas, na rua 13 de Fevereiro, 396, centro. O atendimento, presencial ou pelo telefone 3259-0704, é feito de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h.
Já no período da noite, a Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José fica à disposição dos munícipes que queiram relatar casos de pessoas pedindo esmolas. A Casa fica na rua São José, 46, Jardim Wanderley.
Quem preferir, também pode entrar em contato com o serviço de busca ativa da Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José, ligando para o telefone 3305-3895, que está à disposição da população até às 23h.
Além disso, durante a noite, especialmente nesta época de frio, quem encontrar pessoas em situação de rua buscando abrigo deve entrar em contato com a Guarda Civil Municipal, ligando para o número 199, que funciona 24 horas.